A barba do rabino – Ilan Brenman
“Um dia, na sinagoga, Ruth se
encantou com a barba do rabino, branquinha e fofa como se fosse neve ou
algodão-doce. A menina não se conteve - correu para perto do rabino e puxou a
barba dele. Por mais que levasse bronca dos pais, sempre que ia à sinagoga, na
hora da reza Ruth saía correndo e dava um puxão na barba do rabino. Até que um
dia os pais decidiram não levar Ruth à sinagoga. Então aconteceu uma coisa
surpreendente.”
A amiga lê o conto judaico, A barba do rabino. Que palavras devo
usar para descrever a sensação tão boa que tenho nesse momento? Corro o risco
de repetir, de não conseguir expressar, de parecer menor. Vou dizer que fiquei
enlevada. Isso, essa palavra é boa. Enlevada. Fiquei e fui enlevada com a sonoridade
das palavras e com a história que o conto vai pouco a pouco descrevendo. A
menininha que sai correndo do banco da sinagoga e puxa, sem que ninguém consiga
impedir, a barba do rabino. Será algodão doce ou neve? Algodão doce macio,
branquinho, saboroso. Neve, branquinha, geladinha... Eu disse sonoridade e falo
de outras sensações. O que, de fato, aconteceu durante aquela leitura? A voz,
as cenas, imagens que vou criando, conforme ouço, tomaram conta do meu enlevo. Dessa
história, chegou, aos pouquinhos, a lembrança de outra de que gosto muito. O gigante egoísta! Foram sensações
muitas parecidas... As personagens são, para mim, parecidas. Enlevada, lembro
dos dois homens grandes, sérios, de pouco riso que, sem que se dessem conta,
vão amolecendo o coração com a presença da criança que invade e transgride as
normas do bom comportamento, ou do comportamento adequado. Enlevada, via a
menininha Ruth e o menino que invadiu o jardim do gigante egoísta tomarem conta
da sala e me pedirem para que a história não terminasse... queriam mais.
Queriam estar ali conosco. Pensei que se tivesse o texto de Oscar Wilde em mãos,
gostaria de continuar aquele momento...gostaria de ler! Assim, ficaríamos na sinagoga, esperando para ver se o rabino doente, ao rever Ruth,
se recuperaria e com bom humor, reaprenderia a sorrir. Ao mesmo tempo,
subiríamos nos muros que envolvem o jardim do gigante egoísta para ver,
finalmente, as flores desabrocharem. As duas histórias entrelaçadas... duas
crianças, dois homens sérios, dois finais felizes – quase feliz, no caso do
Gigante egoísta. Tudo na voz da leitora amiga... que nos emociona, que nos
enleva. Nesse momento, também pensei que a leitura, a leitura simples e sem
mais nada a não ser a voz bem colocada, a limpidez do som, o rigoroso respeito
ao texto é o que basta para criar a sensação de enlevo. Enlevada, lembrei como
é bom ler e ouvir alguém lendo bem. Senti que as personagens agradeceram...
ouvi o menininho do Gigante egoísta pedindo para ser lido. Vou pedir também...
leiam em voz alta. Leiam a Barba do Rabino e o Gigante Egoísta.
gigante egoista by IronCuervo
Até mais,