domingo, 25 de novembro de 2012

Desejo


Leio o jornal de ontem. Aliás, eu sempre leio o jornal do outro dia. Adoro ser surpreendida por notícias que já estão velhas. Me dá uma sensação boa de que há muita coisa ainda para se conhecer. Domingo é um dia ótimo para isso! Na cama, vou revirando os jornais de quarta, quinta, sexta, sábado,  até chegar no domingo e seus cadernos cheios de matérias que vão me entreter durante mais uma semana. Mas, me deu vontade de falar a respeito disso, porque o hábito de escolher matérias dos cadernos de cultura, entretenimento ou dos encartes e guias de resenhas que apresentam as publicações  mais recentes, as reedições, os dvds que, finalmente foram lançados, me jogam num mundo de desejos e mais desejos infindáveis. Fico feliz, triste, esperançosa, dou risadas e suspiro, pensando em quando vou,  finalmente, ler tal livro que recebeu um trato especial de tal editora que sei caprichosa ou posso tramar como ganhar das filhas aquele filme maravilhoso que acabou de sair!

Ontem o Guia: Livros Discos Filmes me deixou maluca! Assim como, às vezes, preciso de uma bolsa nova, um All Star vermelho e mais um caderno de anotações, li a resenha a respeito do romance Oblómov, de Ivan Gontachróv, editado pela Cosac Naify. Meu Deus das bibliotecas! Deve ser uma delícia! O último parágrafo da resenha me deixou cheia de desejo...
“Ilusão: o breve amor pelo mundo do lado de fora é destruído pelo extremo niilismo de Gontcharóv, que faz Oblómov concluir, após uma bizarra sequência de jantares e bailes, que seu mundo não passa de um teatro – e que nada pode ser mais verdadeiro que dormir, ‘talvez sonhar’.” (Ronaldo Bressane, in Livros, pg. 7 do Guia da FSP)

Bom, o caso é que adoro personagens assim... aparentemente desinteressados do mundo, mas que estão, o tempo todo, analisando pessoas, ambientes...  Puro voyerismo. Aliás, leitores são o quê? Voyers, não é mesmo?

E os desejos vão se instalando... na leitura do quadrinho do Laerte, que procurei e não achei para reproduzir aqui... a Lola, brincando de subir e descer escadas. Como é bom! A edição do Isto ou Aquilo, de Cecilia Meireles, ilustrado pelo Odilon Moraes, de quem eu tinha visto uma entrevista na TV, e por quem já me apaixonei, é claro! A Feira Literária de Guadalajara, que é gostosa até no nome. Falem Guadalajara (rara), não é ótima de falar? Pois é. Os irmãos Karamabloch, desde 2008 na minha lista, e agora aparece novamente em matéria no jornal de ontem, só para que cutucar! Garcia Marquez, Carlos Fuentes, Philip Roth ( que comentário: "Todo dia estudo um capítulo do 'Iphone para idiotas'.Agora sou um ás"). Como não pensar em comprar todos os livros desse homem que aos 80 anos, está confortavelmente sentado em sua sala, olhando para mim e dizendo uma blague como essa? Como? E penso, lendo uma última matéria: Será que Luciana conseguiu a Vogue da Frida, faz tempo desde que falei a respeito disso e, agora, vejo uma foto da exposição no México?!

E assim, a coisa vai. Um inferno do qual só conseguirei sair, quando ler, no próximo domingo pela manhã, os jornais da semana que começa agora! E novos desejos se apresentarão para que eu possa me sentir com muita vontade de... sei lá, sofrer, sorrir, “talvez, sonhar”.

E para terminar, uma charge do Laerte( amor, amor, amor), que comenta uma notícia velha e assustadora.


Até mais, leitoras... o jornal de hoje, chegou!

sábado, 17 de novembro de 2012

Noite

Às vezes, sento e escrevo. Vez ou outra, gosto. Tento outra vez e mais uma! A convite da Ana, fui a um sarau... poemas, música. Gente que acredita na palavra, gente que começa a descobrir. Algumas surpresas... e eu escrevo, enquanto ouço. Como aqui estão só os amigos, posso abusar!

A boemia?
É boa! 
boa de poesia 
boa de dose,
boa de gente.
A boemia? É boa!

boa de sonho,
de noite,
de amantes.
A boemia?
é boa de gente que canta
e dança na esquina,
canta no bar de porta fechada,
aberto à dança da vida.
A boemia?
É boa, boemio...
boa à beça!




E ao poeta que perdeu seu poema...

Poema perdido

Estará sob o chapéu?
Na garrafa de cerveja?
Na rua, na esquina? 
O poema perdido me procurará?
O poema perdido na noite boêmia, vazia, de São Paulo...
O poema perdido do poeta em busca do poema
nos cantos,
encantado no papel que caiu,
perdeu-se,
deu-se para quem não sabendo
achará a poesia.


Até mais...






quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Uma passagem...

" Até aquilo que nesses móveis correspondia a uma necessidade, como se apresentasse de uma feição a que estávamos desabituados, a encantava como esses modos de dizer em que descobrimos uma metáfora, apagada, em nossa linguagem atual, pelo desgaste do hábito. Ora, exatamente da mesma forma, os romances campestres de George Sand que ela me dava de presente eram como um mobiliário antigo, e estavam cheios de expressões caídas em desuso, convertidas em imagens, e que não se encontram mais senão no campo. E minha avó comprava-os de preferência a outros, como teria alugado com mais gosto uma propriedade onde houvesse um pombal gótico ou qualquer dessas velhas coisas que exercem no espírito uma feliz influência, dando-lhe a nostalgia de impossíveis viagens no tempo." (No caminho de Swann, Proust)

Pensando em tudo isso, encontrei essa cadeira.



Desenhada em 1978.(Proust Armchair, Alessandro Mendini) Uma verdadeira "nostalgia de impossíveis viagens no tempo".

Quantos tempos agora se embaralham, enquanto escrevo esse post? O tempo de Proust, de sua avó tão preocupada com as experiências que um presente poderia oferecer; o tempo que me atrai nos objetos vistos na feiras de antiguidade, nas casas dos amigos, na varanda da casa que vejo ao caminhar durante a tarde com a Sofia; o meu tempo de menina em que, nas casas das amigas, me encantavam a velha televisão dentro do móvel de madeira ou a sala de jantar com cadeiras escuras e toalha de crochê; também o tempo dos anos 70, como o da Cadeira de Proust, em que a beleza estava em todos os lugares porque era assim que meus olhos registravam o mundo, colorido, bem colorido!

Que beleza de passagem literária e que beleza de passagem do tempo. Nunca perdido, enquanto lemos.

Até mais, amigas fianderias...