quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Natal, presentes e queijo...

Depois de aplicado o último exame é que senti as ferias realmente começando. Só faltava um pouco mais de burocracia e "tchau, tchau bambino"!
Agora era só escolher uns presentes, lutar - bravamente - com os embrulhos e "finito"!
Convido a amiga para um último passeio pela Vila Madalena. Ateliers bonitinhos, talvez um sapato descolado, umas vitrines... "um sobe e desce ladeira".

Li no jornal a respeito de um bazar... ok, vamos lá.

Pega metrô, faz baldeação, mais uma... erra a rua, para aqui; cruza a rua, para ali; cruza a rua, "o sol na cabeça". "Depois, vamos na Benedito?" Vamos... vamos...
Na andança, fico pensando que teria sido melhor ir na tal "Feira do Artesanato"... do Brasil inteiiiroo! Será? Talvez!
Onde fica a tal rua do bazar? "Melhor tomar uma água" "Moça, o bazar..." Ah! É bem ali, depois dessa ladeira. "Será que vamos ter de voltar por aqui?"
O bazar... cheio, quente... mas temos fé - a amiga não tem muito não, mas é solidária!

Entre colares feinhos, roupas desarranjadas, pratos de vidro reciclado, cerveja artesanal - amarga pra caramba - ventiladores de teto... uma coisa do outro mundo: os vendedores de queijo! Era, também,  um festival de queijo!

Minha ideia do paraíso? Um festival de queijos...

Compramos o Serra da Canastra, o Chèvre tipo feta, o com kumel... degustamos tudo... o paraíso!

Sacolas cheias de queijo, rumo à Benedito! As barracas já quase desmontadas, o dia acabando, o negócio é tomar café, repartir um bolo de laranja, tentar comprar um mítica carteira de pano que sumiu do mercado (a bem da verdade, isso é uma licença mais do poética - a tal carteira é bem comum, mas como tem os bolsinhos certos, não consigo achar uma que me deixe tão feliz.).

Os queijos, nas sacolas, suando como nós!

Antes de encerrar, vamos dar uma passadinha na Cultura? Vamos! Tenho uma encomenda feita pela mãe. É sagrado! Passeio entre as bancadas das novidades literárias...  acho o livro que vai de presente para a amiga da mãe... sonho, mais um pouco se compro ou não a última indicação do grupo de leitura da Andrea...

Os queijos? Dessorando...

O dia chega quase ao fim e foi legal, apesar de termos quebrado a promessa de não pisar na Paulista, durante as festas natalícias - a multidão, a multidão!
E, é claro, apesar do cheiro de queijo quente, vindo da sacola...

...o que vamos falar quando perguntarem o que fizemos no sábado? "Ah! Fomos à Vila Madalena! Demos uma passadinha na Benedito, na Cultura! E o que compraram?

"Queijo!"



quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Rua Corondá, 35.



Descendo a Rua Corondá, na Vila Marieta.
Lado esquerdo. Casa bonita com caquinhos de cerâmica, uma mãe, filhos – uma menina e um menino. Eu adorava olhar, pelo muro baixo, aquele chão de caquinhos de cerâmica. Era como se as pessoas que moravam ali fossem tão bonitas quanto aquele chão.
Lado direito. Uma casa misteriosa. Um jardim selvagem... folhas e arbustos entrelaçados. Eu sentia medo. Lá morava alguém que conhecia as artes misteriosas da adivinhação e dos chás que resolvem problemas insolúveis. Uma parede descascada, verde ou qualquer coisa parecida com musgo; água corrente misturada ao lixo da cozinha... dava medo e curiosidade. Algumas vezes, tinha a impressão de que seria raptada por algo que eu não controlaria... alguém, alguma coisa, uma força do outro mundo. Perfeito para a imaginação de uma menina solitária.
Lado esquerdo. A senhora parecia saída de um conto da Mamãe Ganso. Criava patinhos, tinha uma lagoa artificial no fundo do quintal, vendia ovos e um licor de anis - anisete – cujo sabor ainda sinto, quando fecho os olhos. Lenço xadrez na cabeça, avental branco, sotaque “arastado” . Eu adorava  quando era mandada para comprar ovos naquela casa. Foi de lá que veio a pata Frederica, cuidadosamente criada em uma gaiola. Frederica, a mãe de uma dúzia de patos e patas violentamente assassinados em uma noite cheia de som e fúria, por um bando de cachorros desalmados.
Lado direito. A casa da velhinha que sustentava a família, vendendo “carça, tarco, lenço” o que precisássemos para uma vida mais delicada e perfumada. As filhas tinham filhos aos montões e ela sempre dizia: “aquela sem vergonha da Virma teve mais um... quer comprar uma carça para ajudar?” E é claro que minha mãe comparava... solidariedade na rua Corondá nem se questionava, se praticava.
Lado esquerdo. “Os intocáveis” Uma família que tinha carros pretos, bonitos. O avô – cara de chefão – sentava-se na varanda e ficava de olho na meninada. Ai daquele que mexesse em algum daqueles chevrolets pretos, brilhantes, lindos, estacionados na frente da casa! Na casa d’Os intocáveis, além dos velhos, moravam o filho, a mulher e os netos. Para a Marcinha, fui a primeira professora... ensinei a escrever! Essa era uma casa com muitas histórias.
Lado direito. Dona Augusta, a portuguesa que tinha uma horta verdinha, cheirosa... usava um coque no alto da cabeça. Uma verdadeira Eça de Queirós. Faz parte da minha memória afetiva e olfativa o feijão cozido com folha de louro que ela passava, pelo muro,  em um caldeirãozinho um pouco amassado, mas bem areado. Dona Augusta e seu Augusto... videiras, figueiras, manjericão, galinhas e patos no fundo do quintal.
Lado esquerdo. A portuguesa que cortava a bola dos meninos. Na televisão dela, vi, assustada, a notícia da morte de John Kennedy.
Lado direito. A mulher do motorista. Dona Terezinha e seus filhos. Dona Mariazinha e as gelatinas na hora da televizinha... Dona Doroty – a bonequinha do disco – toda empertigada, subindo a Rua Corondá com as suas cinco meninas... todas rosas: Rosicler, Roseli, Rosangela, Rosana, Rosimeire. Com algumas eu brincava; com outras, brigava.
Lado esquerdo. O motorista de táxi, com chapéu, terno e gravata. Levava os doentes às emergências, as noivas aos casamentos, os parentes ao velório. Uma sobrinha, Regina, era como uma rainha para mim... gordinha, bonita, tinha a boneca mais bem vestida de todas, usava uma colônia que tinha o seu nome: Regina. Logo ao lado, a casa das moças ousadas. A Sueli – que nome de devassa -  e a Sulemar – exótica. Elas saiam à noite!!! Do muro ao lado, eu e minha melhor amiga – Maria Luisa – espiávamos e morríamos de curiosidade.
Lá no final, ficava a chácara... meu irmão era o queridinho da dona. Ia capinar e voltava com uma cesta cheia de frutas! De lá também tenho lembranças de frescor, chuva, terra, chão batido, pés descalços.
Todos se conheciam na Rua Corondá. Íamos juntos para a escola. Comprávamos fiado na vendinha da rua de trás e o japonês era camarada com os possíveis contratempos daqueles tempos. Na escola, a Dona Teresinha, cantava parabéns para as aniversariantes.
No quintal da Rua Corondá, 35, aprendi ética, convivência social, o conceito de igualdade, o valor da solidariedade. Convivi com pessoas, vindas de lugares diferentes, que alimentaram a imaginação de menina sonhadora. Tive vontade de conhecer todos os lugares de onde meus vizinhos tinham vindo. Tive vontade de entender cada jeito de viver, de experimentar cada sabor, de ouvir cada história.
A Rua Corondá foi uma das escolas mais importantes que frequentei.
Ainda me vejo, descendo correndo a rua, na tarde de sábado, depois do encontro com meu pai. Corria, feliz de ter ido ao cinema, ao museu, ao Jardim da Luz... durante a semana teria muito de contar para a Maria Luisa que morava quase em frente a casa da Rua Corondá, 35!

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Raul Cortez

Eu sonhei com o Raul Cortez.

O porquê, sabe-se lá!

Ele estava lindo, de terno, pronto para entrar em cena.
Era eu que estava ao seu lado, dizendo "calma, você está preparado". "calma, o texto é lindo"...

Ele estava com aqueles lenços maravilhosos que costumava usar e que davam a ele um ar de nobre italiano...

Ele era alto e perfumado...

Ele estava quase jovem... na maturidade... um momento bonito e que pensamos ser eterno.

Ah! Freud...
Ah! Kardec...
Ah! Jesus...
Ah! Buda...

Por que sonhei com Raul Cortez?

Não, não vou questionar os desígnios do sono.
Vou guardar na memória essa beleza de noite!

Raul Cortez, eu te amo!




sexta-feira, 17 de outubro de 2014

A Sofia diz que tem...

Todo bairro, quando habitado de verdade, tem...
O boteco onde só os homens entram, tomam cerveja e falam dos seus... das suas...
De vez em quando, uma mulher fura o cerco. Ela é aposentada e gosta de umas e outras.
Cumprimenta todo mundo, beba a sua gelada e ajuda no merchandising.

Aqui no meu bairro tem.

Tem a praça onde as mães se encontram às cinco horas da tarde e trocam umas ideias a respeito das crianças, enquanto tomam café, falam do preço das coisas e de como era trabalhar fora, antes... antes...
Todas tem planos para o futuro.
São jovens e, às vezes, estão enfrentando um problema que nunca imaginaram enfrentar.
Ali ao lado, na porta da escolinha, um outro grupo já está acostumado com a rotina de carregar a mochila da criança. Está acostumado com o jantar que deve ser feito até... até...

Aqui no meu bairro tem.

Tem umas velhinhas que gostam de sentar ora no banco da praça, balançando as pernas, enquanto conversam a respeito das dores do mundo; ora no banco que a farmácia, gentilmente, cedeu aos seus gratos clientes. Lá tem água fresquinha, o entra e sai das amigas e podem ver se tudo vai bem com... com...

Aqui no meu bairro tem.

Gente que passeia com os cães vira-latas, labradores, collies, poudles... gente jovem, gente velha, "a japonesa loira, a nordestina moura de..., gatinhas punks, com jeito ianque". Todos sorriem, satisfeitos com seus animais de estimação. E das varandas dos apartamentos, os bichinhos que ficam trancados, latem, chamando para uma conversinha. Eu mesma conheço uns dois que sempre me chamam. E dos jardins, dos quintais que ainda resistem, mais cães perguntam... perguntam...

Aqui no meu bairro tem.

Ontem, passeando por aqui, descobri que no meu bairro também tem a sua "Constança e Marilu". Divertidas, as duas desciam a Rua das Rosas conversando em italianês:

- Ah, mas se ela tem dinheiro, deixa gasta... olha só aquele desgraçado do motorista... quase pegou o moço... é porque a mãe dele, viu? não atravessa aqui!
- Ai, que linda... não deixa ela lambe o chão, tem tanto micróbio... que bonitinha... como ela chama? Sofia? Viu... chama Sofia...
- Cê tá me ouvindo...para com isso? Você não viu a bicicleta?
- Ih! Você é chata... vâmo ali toma um café.

Uma delas gorda, grandona, poderosa, cabelo curto, com a a bolsa no braço e gesticulando o tempo todo. A outra, com uma pantalona vermelha, turbante vermelho, bolsa florida primaveril... óculos bem grande. Toda bonitona...
Parecem bater um papo eterno.

E tem a velhinha que mora sozinha, a cabeleireira chic e a popular, o empório e o mercadinho... e muito mais... muito mais...

Ontem, pensei nisso, enquanto me divertia, vendo a Sofia parar e cheirar cada pedaço do nosso caminho...
Ela para, cheira, reconhece e vai em frente. Eu paro, olho, escuto, reconheço, memorizo...

Obrigadinha, Sofia! Graças a você, posso ver que no meu bairro tem vida!

Até...










Só para lembrar...

Fundo do quintal
Uma lousa de presente de aniversário
Duas bonecas descabeladas
Uma amiga vítima da experiência
Uma panela de arroz queimando
Revistas velhas
Livros velhos
Cadernos novos
Cadernos encapados primeiro com papel pardo, depois com a foto do Wilker em Bandeira 2
Lápis no estojo de madeira com tampa de fórmica que enrolava e enroscava
Lápis de duas cores e caixa com 24
Compasso e régua
Livros, livros, livros
O quintal cresceu, a lousa está enorme, as bonecas... elas e eles aparecem e desaparecem.
Eu, continuo brincando de “escolinha”
......................................................................................................................................
Um abraço carinhoso aos meus amigos professores! E são tantos, em tantos lugares diferentes...

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

O olhar de Fernanda e Giulietta.



Será que alguém já falou que elas têm o mesmo olhar?
Olhos grandes, que perguntam.
Olhos ternos e desesperados...
Olhos que viram muito e ainda acreditam no outro?
Olhar doce.
Olhar triste.
Olhar de artista que sente e fala para todos nós, por todos nós que só sabemos olhar.
Será?
Olhares de vida intensa, de mil vidas,
Olhares de lágrimas falsas – o cristal chinês - e verdadeiras.
Olhares de paisagens refletidas... Viagens que só podemos fazer porque esses olhares conseguem levar e buscar nossas vontades de ver.
Sempre me emociono com o olhar do artista e, quando o olhar é como esse da Giulietta e da Fernanda...
Sinto ternura, vontade de chorar, vontade de olhar.
Rever filmes, voltar ao teatro, colar uma fotografia na parede.
Todas as experiências que me lembrem a velha frase: “Os olhos são a janela da alma.”





domingo, 7 de setembro de 2014

As joias da mamãe !



A mamãe A guardava o dinheirinho que caia do bolso do papai A. Eles levavam uma vida regrada... pelas leis do papai. Tinha a hora de trabalhar, a hora de almoçar, a hora de tomar banho – e ela sempre levava o chinelo e a toalha na porta do banheiro para  o papai tomar seu banhinho tranquilo, depois de um dia intenso, lidando com aqueles cabras das fábricas que ficavam ao redor da venda. A mamãe A aproveitava e dava aquela olhadinha básica nos bolsos do papai, para ver se podia por a roupa para lavar! E, de vez em quando, caia um dinheirinho do bolso do papai. Ela guardou, guardou, guardou e, sempre que era possível, comprava um anel de ouro com pedras bonitas do mascate que vendia de porta em porta. Ouro bom, pedra bonita. A mamãe A gostava de coisas que brilhavam... tinha alma de artista. Um belo dia, a coisa ficou feia... as contas não fechavam, faltou dinheiro no caixa, precisavam construir mais um quarto. A mamãe não teve duvida nenhuma... pegou um dos anéis e vendeu para por dinheiro em casa. E lá se foram, outras vezes, quando novamente faltou dinheiro, as joias da mamãe.

A mamãe B era uma moça fina de boa família. Delicada e inteligente. Casou-se com o papai B. Eram felizes e tiveram muitos filhos. O que deveria ser o final da história é só o começo. A mamãe B levou como dote uma caixinha de joias, presentes da mãe e do pai. “Guarde, pois joias são nosso melhor investimento.” A mãe e o pai da mamãe B eram bem velhinhos e vinham de uma tradição antiga de dar joias, se enfeitar com elas, tira-las, de vez em quando, da caixinha e ficar olhando aquilo tudo, para ter certeza de que se os dias difíceis chegassem, elas estariam ali – as joias – para o que desse e viesse. A Mamãe B e seus filhinhos eram felizes, juntamente com o laborioso papai B. Tinham de tudo. Não lhes faltava nada. Comida, diversão e arte. E até a certeza de que o mundo é bom e a felicidade existe! E não é que tempos difíceis chegaram? Chegaram e a mamãe B, que nunca pode usar, de verdade, aqueles lindos anéis, aqueles colares grossos, aquelas solitários enormes, nunca em nenhuma grande festa. Que nunca realizou o sonho de sua vida... desfilar com as joias em uma bonita soirée... no Champs-Élysées, não teve dúvidas. Foi vendendo uma a uma, todas aquelas belezas... todos aqueles sonhos... a segurança oferecida pelos pais. O papai B precisou, ele precisou mesmo. E ela sorriu, com o cantinho delicado da boquinha com batom vermelho.

A mamãe C era uma batalhadora. Sol a sol trabalhava por ela, pelos filhinhos, pela sobrevivência. Aprendeu que se tivesse vinte, guardaria dez. Ocasionalmente, alguém, no serviço, vendia joias. Joias de verdade. Brilhavam e eram belas. Representavam a recompensa e a possibilidade de agradar a si mesma e aos filhinhos. Nessa historinha não havia papai C. A mamãe C comprou, à prestação, aneizinhos, pingentes, brinquinhos. Tudo certificado. Ela tem tudo guardadinho, enrolado em uma meia, dentro de uma bolsa, fechado na última gaveta da cômoda velha. Ela sempre diz que as joias da mamãe são fruto de muito trabalho e por isso devem ser mantidas e usadas com orgulho.

A mamãe D ainda não sabe o que fazer com as joias. De vez em quando, olha para elas, alisa, veste, pensa e guarda-as novamente. A mamãe D comprou algumas, recebeu outras de herança, ganhou outras tantas. Parece que os dias tumultuados ainda não chegaram de verdade. O que será que a mamãe D fará com suas joias?

Você sabe onde estão as joias da mamãe? Não! As joias da mamãe são da mamãe e pronto!

Historinhas assim são boas para se pensar... nas mulheres, nas mamães e nas joias. Relações delicadas, relações de amor e força. Mulheres joias. São joias, morou?!

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

No detalhe...

Olha aqui... olha ali... Lembrei da Tia Clara, aquela que colecionava maçanetas, cuidando com carinho da sua coleção. Ela era atenta aos detalhes. Um pouco maluca, perdia tempo com um objeto que quase ninguém notava. Delicada e fascinante, Tia Clara
Nada como se perder nas miniaturas da vida... Fiz uma pasta com fotos de alguns detalhes que recolhemos na "viagem dos sonhos". Escolhi algumas, não vou cansar os poucos e pacientes leitores! Revendo todas, tive vontade de pegar uma flanela, tirar tudo da bolsa e polir com cuidado as minhas lembranças.



Essas imagens me fizeram parar, diminuir o ritmo, pensar no homem responsável pela tarefa de embelezar a paisagem. Estava no final do trabalho? O arquiteto já havia pensado em tudo? O dono da casa gostou? E o passante diário, será que ainda nota? Tudo tinha uma função... Ainda percebemos aquele pequeno canto da parede ou a maçaneta da porta? Acho que sim... só não prestamos atenção. O dia a dia, o fluxo, a correria, o vuco-vuco... tudo nos tira esse prazer um pouco desmiolado de olhar o pequeno detalhe!
 

sábado, 30 de agosto de 2014

Sem documento...

A Bienal do Livro em São Paulo é um grande acontecimento... todo paulistano ouve falar. Os professores preparam discursos para incentivar os alunos. Os alunos ficam aflitos para saber quando será o dia do "vamos à Bienal e não vai ter aula"... Uma porção de gente pensa o dia todo se vai ou não conseguir aquela foto no trono do game. Os amigos levam mais de uma semana, programando qual o melhor dia para não enfrentar filas que, claro, enfrentarão!
E eu... sempre penso que não tenho mais paciência para isso, que na próxima eu não vou, que "essa gente enlouqueceu"... mas acabo não resistindo. Fui. Também porque, especialmente nesta Bienal,  a Andréa e a Fal estavam oferecendo a Oficina de Escrita de Blogs. Quem conhece, sabe que é uma delícia...
Mas - lá vem a adversativa -  resolvi trocar de bolsa, fazer uma maquiagem para esconder o resultado de um dia infernal de gripe, colocar uma bota, uma echarpe, trocar o casaco... trocar a bolsa, ai, ai, ai... trocar a bolsa. Dá um trabalho danado, mas, de vez em quando, dá vontade de trocar a bolsa. Deixar de lado aquela confortável bolsa em que suas coisas estão todas já acomodadinhas... Tira tudo, joga na cama, joga fora - finalmente - aquele monte de papéis amassados da semana passada. Levo o pente? Sempre. Levo o espelho? Lógico! Levo o passe? Opção economicamente inteligente! Celular, batom, balinha, moedas... tudo em cima da cama! Não posso esquecer o caderno de anotações, a caneta que combina com o caderno... Ah! Acho que vou trocar o casaco! Não pode esquecer de colocar comida para a Sofia! Será que ela tem água fresca? Telefona para a mãe... tudo em cima da cama! A Paula liga e confirma: metrô, às 10h. Tudo dentro da bolsa nova!
Tchau, tchau bambina! Eu ligo, quando voltar!
Na entrada da Bienal "pane no sistema "... a carteira com a identificação de professor, a identidade que prova que eu, sou eu mesma; o cartão do banco e o dinheiro... tudo em cima da cama!
Ainda bem que a moça da entrada é professora e solidária. Entro e suspiro... nada de comprinhas, nada de livros que me conquistam pela capa, nada de caixinhas bonitas de papel de carta... nem ao menos um marca texto!
A amiga solidária oferece ajuda; a outra, oferece o cartão!
Querem saber... acho que os deuses das bibliotecas e os protetores do crédito dos compradores compulsivos de livros resolveram me dar um aviso! Calma, Elaine... a pilha ao lado da cama está grande e a Feira da Primavera da Usp já está chegando!

Me contive... não comprei livros, não fiz dívidas, não legarei a ninguém a miséria de uma Bienal sem livros!

Obrigada amigas! Que venha a primavera! 









segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Capital!

Esta é uma postagem cheia de pecados e fúrias! Tem certeza que quer continuar a ler?

Não coma demais!
Não coma demais.
Não coma demais... viu?

Ah! Vai para a Itália! Cuidado com as massas!
"De gelatteria em gelatteria... só é possível pensar a Itália assim!"

Você engordou muito?
Quantos quilos você engordou na viagem?

Olhares de alto a baixo, procurando onde estão instalados aqueles quilos a mais... 
Ah! Os bons amigos!
E os furos no cinto, dizendo... calma, a coisa não foi assim tão mal!

Primeiro dia:
Cotolleta alla milanese , devidamente pesquisada. O cansaço não nos permitiu andar muito aquele primeiro dia, então a cotolleta foi servida por um simpático maitre italiano (desculpem a tautologia - italiano e simpático - é inevitável), bem pertinho do Sempione.

Segundo dia:
Galeria Vittorio Emanuele II - o sorvete de pistace, da Savini,  rendeu um medinho da reação alérgica, então... no dia seguinte, resolvi que era melhor me render ao de baunilha!

Terceiro dia:

Caffé Diemme... ai, Dio mio! Pasta!

E foi assim...

Cantina Cantarini - caccio e peppe
Spontini - pizza em pé e birra
Scudieri - café, canolli, café, 
Coronas Café... um docinho, per piacere!

Café Florian... clica aí! É demais! E o meu Apperol Spritz, com o sanduíche delicado, cortadinho, fresquinho, gostosinho... quase não combinou com o chocolate das meninas, mas quem se importa?

Harry's Bar

Como assim? Harry's Bar? Claro... Bellini, Carpaccio e dá uma olhadinha no guest book.

 
Trattoria Toscana, dal 1915! Il bene de Dio!
Pappá Francesco... nada como uma boa jogada de marketing! Já falei dele... "não compare os preços com os do restaurante ao lado, nossa comida não é congelada!"  E não era mesmo... pasta a carbonara, baby!
Caffé Panzera, dal 1931.

Al bagno di Nerone - Cecina... birra, pizza!

Já falei da pizza em Nápoles? Já? Pois, é! 
... e os capuccinos!

"A origem do Cappuccino, publicado por Redação Blog Café Fácil 

Cappuccino é uma bebida originária da Itália, sua composição é basicamente três partes iguais de café expresso, leite e leite vaporizado. A alteração destas porções consiste na criação de bebidas derivadas, como Café Latte e Machiato. No Brasil, o uso de chocolate em pó e canela são práticas comuns, mas não faz parte da receita original.
A criação da receita é atribuída ao monge italiano Marco D’Viano, que teve importante papel na resistência cristã contra o avanço islâmico na Europa, que em 1683 encurralou o exército turco, obrigando-os a recuar e deixar, em Viena, varias sacas de café. O termo cappuccino, deriva de cappa (capuz em Latin) e faz referencia ao hábito dos frades capuchinhos, que lembra a cor da bebida.
A qualidade do expresso, a textura e temperatura do leite são elementos de fundamental importância na preparação do cappuccino. Para saber se a vaporização está perfeita, deve-se conferir se o leite cria uma espuma com textura aveludada, brilhante e cremosa. Baristas mais experientes criam desenhos e formas no leite vaporizado, essa técnica é chamada de latte art."



Aprendeu? Então. Se você vai fazer uma viagem como essa, saiba que é quase impossível não pecar! Mas, fique sabendo também que dá para ser um desses pilares da sociedade protetora da vida saudável e, ainda assim, aproveitar a gastronomia de um dos lugares mais incríveis que você pode conhecer um dia na sua vida de onívoro! Coma, cometa o pecado capital, seja feliz!

https://www.youtube.com/watch?v=dNTyQ2SHcs0

Foram dias de glória... algumas coisas não contei aqui, para não impressionar os impressionáveis.

Quer saber? O cinto estava certo... não foi cosi tanto!





 









sábado, 9 de agosto de 2014

Os últimos dias de Pompeia! Muito óbvio?

Alguém lembra desse filme?


E daquele episódio da Nanny em que o Dan Aykroyd vai na casa de Mrs. Sheffield para arrumar a geladeira? A cena está lá pelos 22 mim... O que estas duas memórias tem em comum? 

Bom... resolvemos que não dava para ir a Itália e não ir a Nápoles, deixar de comer a pizza do Da Michele e não conhecer Pompeia... pelos menos Pompeia! O cinema, sempre ele...  Ficamos em um hotel bem perto da estação de trem, para não ter nenhum problema, nem para ir a Pompeia, nem para voltar para Milão - nosso embarque para casa. Chegamos pela manhã, com tempo só para descansar um pouco, comprar a passagem da Transvesuviana e para passar o dia nos "Scavi". Uma dor no coração, porque era só... algumas horas em Nápoles, um pernoite e nada mais. Deu para sentir o astral caótico da cidade, gente gritando, lixo, pixo ... as lambretas... cruzar a rua no susto, ver quem pode mais... o pedestre ou a lambreta! Entramos no clima, nada que um paulistano não tenha experimentado antes... vai no susto que dá certo! Nas ruínas, nem precisa dizer...nem o clima de parque de diversão, prejudica o impacto de pensar naquele momento histórico em que a cidade sumiu debaixo das cinzas... 

Essas lembranças do dia e meio passado em Nápoles não teriam nenhum significado, além daqueles que vocês já imaginam - lembranças de viagem - se não fosse "o episódio  da porta do quarto no dia de ir embora"! 

Tomadas banho, malas prontas, passagens em mãos... vamos tomar café? Depois, voltamos para as últimas abluções! Sai a Thaís, a Mariana e eu... todas achando que alguém tirou a chave da porta. Claro que não... fechamos a porta com tudo dentro do quarto, inclusive a chave. Medo, risos nervosos, e o café? E agora... claro o hotel tem uma chave mestre que abre todas as portas, em todas as circunstâncias, certo? Certo... quando a chave não está na fechadura, impedindo o uso da chave mestre. Falamos com a recepção em italiano, espanhol, inglês e português... todas ao mesmo tempo, sem dizer muito bem o que aconteceu. A mocinha, gentil disse " não se preocupem, não é culpa de vocês, acontece... vamos mandar um chaveiro... tomem o seu café e nós tomamos as providências". Quando subimos tinha um napolitano, querendo ser simpático e calmo, tentando abrir a porta. Napolitano, tentando ser calmo? O moço usou todas as ferramentas possíveis. Suando, tentou tirar a fechadura da maneira sensata com a chave de fenda... suando, com o formão, tentou arrancar o quadro de madeira da parte de baixo da porta, para enfiar a mão pelo vão e pegar a chave... nada funcionava e ele, suando, foi ficando cada vez mais... napolitano. A Thaís arregalou os olhos assustada - já imaginava a conta, chegando em São Paulo para pagar o estrago na tal da porta;  Mariana fazia o modelo controlada; eu ria... e o napolitano, mostrando, além do seu empenho, um cofrinho cabeludo, com a calça já quase caindo... Daí, ele levanta... mete o pé na porta, uma, duas, três vezes, suando, com uma cara de assustar... e consegue arrombar a bendita! Sabe aquela história: para tirar o gatinho da árvore, é melhor arrancar a árvore? Foi isso... ele arrebentou a porta, olhou para nós, sorriu e disse gentilmente... " não é culpa de vocês, fiquem tranquilas... essas coisas, sempre acontecem."

O cofre do napolitano me lembrou o do Dan Aykroyd, no episódio que mencionei... e o filme... bom não dá para perder a piada dos últimos dias de Pompeia! Não dá, mesmo!