sábado, 19 de dezembro de 2015

Batata frita

O legal de dezembro é acompanhar a volta das crianças ao playground.
Elas vão aparecendo aos poucos, conforme termina o ano escolar.

Tem a menininha que toma conta dos cinco irmãos, comanda a brincadeira e já é uma moça.
Tem aquela que fala muito e fala bem!
Tem os meninos com suas armas, perigosamente carregadas de água. Eles são bons na pontaria.
Tem a turma que vem fazer um agrado na Sofia. Perguntam se ela vai passear, se tomou banho, se é boazinha... sim, sim, sim!

É uma delícia ver a bola, a boneca, as traquitanas todas espalhadas. Crianças brincando, gritos, as risadas.

E aí, outro dia, quando abre a porta do elevador, de repente, todos juntos, falando ao mesmo tempo... uma garotinha pergunta aflita: Alguém ligou para o Batata Frita? Quem vai na portaria chamar ele?

E eu fiquei imaginando a cara do Batata Frita, todo feliz, sabendo que já é dezembro e, com um prato da iguaria bem à frente, pode dizer... mãe, amanhã cê faz de novo? Tudo bem, filhote... é dezembro!

Viva dezembro, viva a batata frita... viva o horário de verão e a turma do parquinho!


sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Nós duas...

Eu não concordava com ela, ela me achava chata!
Eu gargalhava com ela, ela ria comigo!
Eu chorava por mim, ela chorava por nós!
Eu convidava para o chá, ela trazia o pão e o leite!

Eu, metida, achava que sabia de tudo, ela sabia coisas do outro mundo,
Eu tive a sensação de tê-la conhecido, ela veio me encontrar na porta da escola.
Eu tive duas meninas, ela me deu duas irmãs.
Nós ouvíamos  música juntas!

Só música boa... no piano, na sala de concerto, bem delicada.
Só música boa... no carro enquanto estávamos no trânsito, indo ao cinema para ver um filme bem tranquilo.
Só música boa... na sala da casa dela.
Na minha memória... só música boa.

E obras de arte... Renoir, nossa paixão.

Viajamos algumas vezes...
Águas de Lindóia, na Páscoa
São Vicente, no Réveillon
Praia Grande, no Carnaval
França, no momento de decisão
Buenos Aires, na hora do chá de Las Violetas!

Nossa viagem que gorou vai ficar para outro plano...
O plano físico já era, agora só no astral
Que, aliás, era ótimo!

Ela foi...
Partiu assim de repente - como diz a música.
Deixou todos nós de boca aberta e coração partido.




terça-feira, 6 de outubro de 2015

Sapatos





Não sei por que eu sei que os sapatos Jacometti são bons. Não sei nem se alguém que conheço sabe ou conhece esse nome. Parece que vem de um tempo distante, do qual não lembro mais. O fato é que quando encontrei um par de sapatos Jacometti, quando caminhava com a Sofia, deixados em um canteiro qualquer aqui perto de casa, me espantei e fiz uma foto com o celular.
Estavam ali, bem postos, perto da parede, mas não encostados... postos com cuidado. Um certo cuidado.
Senti que a pessoa que largou aquele belo par de sapato masculino, abandonado ali, era um ingrato. Ganhou e não deu nem bola. Largou, cuidadosamente, mas largou.
Imaginei a história deles... já foram de alguém de muito bom gosto e pés felizes. Imaginei festas,  noites de gala e bailes. O terno, que os acompanhava, elegante e perfumado. Se estivessem em um filme hollywoodiano, certamente haveria um par de luvas, uma cartola e uma echarpe. Ou, talvez eles fossem a uma gafieira no centro de São Paulo.
Alguém resolveu que podia oferecer um dos seus melhores e mais confortáveis sapatos a um homem que necessitava... mas, o homem não quis, não gostou.
Estavam ali, no canteiro, largados porque alguém não havia gostado deles... pobre Jacometti.
Fico aqui pensando se gosto dos sapatos ou do nome... é tão sonoro, forrado de cetim branco, com a marca bem desenhada na palmilha.
Aquele par de sapatos impunha, ainda, respeito. Respeito a minha memória do que é belo e bom e tem história. Ainda que fosse só um par de sapato largado na rua de trás da minha casa.

E aqui vai, mais uma vez...
Até mais,




quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Boba!



Das Vantagens de Ser Bobo, de Clarice Lispector

O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não veem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os veem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.
Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranquilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.
Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"
Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás, não se importam que saibam que eles sabem.
Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!
Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.”



quinta-feira, 10 de setembro de 2015

O horror! O horror! ou de como estamos perdendo a noção...

Quase todos meus amigos contam histórias assim...

Alguém chega ao restaurante, escolhe uma mesa, escolhe no cardápio o que comer e beber e, enquanto espera, tira o sapato, esfrega um pé no outro... na maior!
Na sala de concerto o senhor acha que tudo bem levar uma latinha de refrigerante e comer uns salgadinhos. E não tem nada de mais as moças falarem alto durante a récita. Parece que elas estão na sala de estar na própria casa

As pessoas praticamente terminam suas abluções (dedico esta palavra a todos os amigos que amam a língua portuguesa) entre a estação Conceição e a estação Sé do metrô. Isto é, fazem o make-up, trocam os sapatos, penteiam os cabelos... acho que falta pouco para eu ver alguém escovando os dentes.

Então, outro dia, no ônibus, entra a menina lindinha de rabo de cavalo, óculos escuros e celular à mão: “ não aguento mais gente sem educação, não suporto fulano que fala ” tal e coisa, coisa e tal...  falou, falou... falou... falou... e sentou-se ao meu lado. Estávamos naqueles bancos de bobos... e, não deu outra! Ela colocou suas tamancas (ou melhor, suas botas sujas) em cima do banco da frente. Sujou, não pensou no outro que viria sentar-se ali. Mas ela “não suporta gente mal educada”!

Ontem, um cara abriu uma pomada e passou na orelha, enquanto uma louca discutia com seu microfone pendurado se o cara, do outro lado da linha, era ou não safado, mas mesmo assim ela “gosta dele”, enquanto a trilha sonora – alta e sonora – era um funk (juro que não sei de qual gênero).

Agora o horror foi a moça sentada em frente à lanchonete mais popular do meu bairro, em um banco gentilmente oferecido aos clientes que esperam o carro, abrindo – escancarando – a camisa branca e literalmente amigos... espremendo seus cravinhos da região do colo. Ou melhor ela quase estava com os peitões de fora, cutucando o vão entre eles, espremendo sei lá o quê!

É isso... o horror! O horror!


quinta-feira, 16 de julho de 2015

Duas opções.

1-

Ou, como pensou François, de Submissão: " sua vida sentimental. enfim, se encaminhava para um desastre irremediável e completo".

2-

Ou, apostamos em um relacionamento baseado no bem-estar mútuo. Bem-estar entendido como: "não tem importância se você engordou, está enrugado ou se não deu certo o seu plano de conquistar o mundo."

E aí, vale a Adélia Prado...

AMOR FEINHO
Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado, é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho.
Adélia Prado PRADO, A. Bagagem. Rio de Janeiro: Record. 2011. p. 97. 

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Amálgama!


Amálgama

9 mulheres em Paraty

Tambores de Mautner!

“Eu homossexual, agradeço e estou feliz pela homenagem ao escritor Mário de Andrade”, de Marcelino Freire.

Self-service ou a la carte? Tenda dos autores ou telão? IMS ou Casa da Folha? Sesc ou Casa da Cultura? Flipinha ou Flipzona? A pé ou de taxi? Um rolê sozinha ou em bando? Bolinho de aipim ou sopinha a 10 reais? Stelinha ou água? Capa ou guarda-chuva? Selfie ou “Paula, tira uma foto”? Pela calçada ou pelo meio da rua? Bota ou tênis? 

4 dias de dilemas, angústias, indecisões.
4 dias de risada, de leituras, debates.
4 dias de “De Paraty, o Brasil faz mais sentido”
4 dias de “neurônios saltitantes”

9 mulheres em Paraty
Música, cinema, literatura

9 mulheres em Paraty
Viajantes aprendizes da felicidade possível!



E isso não é tudo, pessoal! Caso tenham curiosidade, clickem no link do título do post!

"E o século XXI, que felicidade!,
vem com a beleza, riqueza e doçura de Oxum e os ebós
para toda a humanidade e para cada um de todos nós.
com muito axé,
Jesus de Nazaré
e os tambores do candomblé"!

HINO DA INDEPENDÊNCIA EM RESSURREIÇÃO PERMANENTE
(Composição de Jorge Mautner dedicada ao jornalista Rodrigo Fonseca)


Até mais,



terça-feira, 23 de junho de 2015

Cosmococa ou de como nos divertimos com Jimi Hendrix em Inhotim!


Andança por Inhotim programada. Rotas 1, 2, 3, 4 para percorrer. Descobrir labirintos que os artistas propõem e espalham por aquele lugar maravilhoso.
Natureza, aço, vidro, salas, cheiros, sons... todos os sentidos despertados.
E, de repente, Hélio Oiticica e o edifício esplêndido: Cosmococa!

Tiramos os sapatos, escolhemos por qual sala começar, ouvimos os monitores – uma beleza de trabalho de monitoria – fomos costurando nossas referências às experiências propostas pelo artista.
E então na sala Cosmococa 5 Hendrix-war, 1973, umas redes nos esperavam... deitar, deixar fluir, fruir a música, viajar nas fotos, trazer de volta 1973 o ano da glória da adolescência!

Deitamos, curtimos e então, hora de sair da rede e mudar o rumo!

Levantar da rede
Deixar a rede
Esperar a rede parar de balançar docemente nossos melhores momentos...
Percebemos que não estávamos mais em 1973! Era 2015... muita pedra rolou...
E rimos muito com os obstáculos do tempo!
Sair de gatinho da rede é uma experiência bem pouco digna, para duas mulheres de 1973...
A gargalhada explosiva ecoou na Cosmococa Oiticica!

Na saída da sala, a próxima turma nos olhava, sorrindo, tentando adivinhar o que vivenciamos... se teriam a mesma resposta para o artista!

Cosmococa 5 Hendrix-war, 1973! Uma guerra contra o tempo e a favor da viagem divertida da vida!
Até mais...



domingo, 14 de junho de 2015

Spoiler...

Bem que um spoiler seria bem-vindo.
Alguém que me contasse o futuro:


Voltarei para a Itália?
Farei a visita ao convento de Mafra?
Tomarei café no Algonquin Hotel?
E mais um Aperol no Florian?

Bem que vale um spoiler
Saber se vou pagar as dívidas,
se compro a bolsa nova,
o casaco que falta nesse inverno.

Spoiler para sentir antecipadamente,
o gozo no restaurante
o prazer na Venchi, do Eataly,
.................................................
ou se consigo escalar a montanha sem enfartar.

Ganho ou não ganho na mega?
Continuo tentando até que alguém me conte a verdade?

Se o Gianni Morandi vem ao Brasil!

Um saber antecipadamente que sim... sim, tudo vale a pena se a alma não é pequena!

                                                                                (foto nossa)

Até mais...
                                                                     





sábado, 13 de junho de 2015

Alguém cantando é bom de se ouvir...



Noite feliz
Algumas noites mágicas...
São mais felizes que outras.
Esta agora que já não é mais uma noite real...
É uma noite feliz.
Teatro de verdade, com a mãe e as amigas.
Bolo de fubá, um copo de leite gelado e Ovomaltine
Uma reprise perfeita com a realeza da música que referencia minha vida.
Sofá, Sofia,
E de repente um ícone do jazz, cara de dona de casa de propaganda de geladeira...
Me encanta. A voz, digamos assim, malucamente linda, doce, inesperada e canta Yesterday...
Pura mágica, um pouco de emoção, umas lágrimas por tudo, e um bebop redentor!
Algumas noites são assim plenas, amorosas...

As filhas e seus planos de conquistar o mundo...

As plantas, regadas,
A louça, lavada.
Piano, contrabaixo e bateria em harmonia.
Anita O’Day de tailleur
Bethânia descalça, samba com o irmão
Tereza D’Avila amassa o pão



 

sábado, 30 de maio de 2015

Um pouco de Patrick Modiano



“Nunca irei saber como ela passava os dias, qual era seu esconderijo, a quem via durante os meses de inverno de sua primeira fuga, e durante as semanas de primavera, quando novamente fugiu. Aí está seu segredo. Um simples, mas precioso segredo que os algozes, os decretos, as autoridades ditas da Ocupação, a prisão, os quartéis, os campos, a História, o tempo – tudo aquilo que nos empesta e nos destrói – nunca mais lhe poderão roubar”
                                                                       (Dora Bruder, de Patrick Modiano)



Último parágrafo... a leitura deixou a leitora atônita. A menina Dora, em fuga, percorreu ruas que hoje, nem o Google – essa besta do conhecimento – consegue mostrar. A literatura e a invenção, no entanto, tiveram êxito na busca. Acabei de percorrer ruas que não existem mais, lugares destruídos para que não saibamos de nada. Em todos os lugares da terra, há pessoas especialistas em apagar vidas, pistas, sonhos... eles trabalham com afinco. Mas, o autor sonha e realiza cada passo dos esquecidos. É disso que trata esse romance maravilhoso! Cartas encontradas nas bancas do centro da cidade, pacotes esquecidos no canto do edifício em ruínas, o fundo da gaveta... tudo o que a modernidade “desapega”. É lá que estão as vidas que devemos recordar e homenagear sempre!

Até...