domingo, 15 de julho de 2018

De tudo fica um pouco... é impossível não ficar.

A gente vai remexendo nas bolsas, velhas amizades e família ancestral e nem percebe que alguma coisa vai aparecer, sempre aparece!

Criei um grupo de primas... retomando histórias da infância. Compartilhando lembranças bonitas de brincadeira, risos e muito carinho. Encontrei primas e primos que há muito não encontrava.

Tivemos a primeira reunião e outra já estava marcada, quando ressurge a prima Sueli. Do outro lado lado da família, ela chega me lembrando de pessoas e lugares por quem guardo um carinho especial e...

... e de repente, revejo avós,pai, tios, primos, padrinho e madrinha que estavam naquela gaveta da memória que raramente visitamos. Fotos amarelas, guardados de gaveta.





O que sentimos e ficou, durante esses anos todos?

Não sou mais a menininha da foto com o pai e o irmão. Não sou mais a sobrinha, não sou mais a neta, não sou mais a afilhada que sempre tinha a esperança de ser lembrada.

Sou uma mulher com 61 anos de idade. Tive casamento longo, tenho duas filhas, a mãe de 89 anos. Me aposentei, descobri uma outra atividade de que gosto muito. Viajei e vi lugares lindos, realizando sonhos e me divertindo muito com isso.

Sou uma amiga que tem e perde amigos. Alguns recuperados, outros dormindo no desejo do reeencontro.

Sou uma professora de muitos alunos. Alunos que se espalham pela cidade, pelas mídias, que acompanho com alegria e saudade boa.

Sou a dona da Sofia, que chegou para me lembrar de que o mundo é generoso e outros seres viventes sabem disso, melhor, às vezes, do que nós.

E, no fim da tarde de uma sexta qualquer, chega mansamente a melancolia, a tristeza escondida, a vontade de chorar.

Aos 61 anos, a menininha da foto chora, com saudades de uma família que existiu, não existindo de fato. Uma família que compartilhou festas, natais, aniversários nos quais quase nunca esteve. Quando esteve, a percepção era de ser alguém errado, alguém que, talvez, não deveria ou não merecia ter estado ali.

Nada racional, puro sentimento explodindo para fora da bolsa velha, da gaveta de memórias, das fotos amarelecidas... umas poucas lágrimas.

Menininha da fotografia.. nada de explorar essa mágoa antiga... agora é aproveitar e sorrir muito. Quanto resta de tudo isso? O poeta já disse "de tudo fica um pouco..." Pegue seu caco de pires de porcelana, do dragão partido... e vai brincar lá fora!


 É isso... nada não, só isso!

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Eu e literatura nesses últimos dias...

I - Mimetizei Fernando Pessoa, quando, aos 16 anos, ouvi uma daquelas belíssimas apresentações que Berta Zemel e Wolney de Assis levavam às escolas no período da ditadura. Lia seus poemas com a força e a crença da juventude. É engraçado dizer isso agora e dessa maneira. Ouvir de mim mesma, que acreditei em cada palavra poética e cada sofrimento e observação filosófica. Isso significou uma vida, acreditando na vida sonhada... Por isso, fui professora!

II - "Antigamente as pessoas inteligentes usavam a literatura para pensar. Esse tempo passou. (..) ... é a literatura que foi expulsa como influência séria sobre a percepção da vida. O fato de que a ficção séria não permite a paráfrase - e portanto requer pensamento - é um incômodo (...)

in, O Fantama sai de cena, de Philip roth

III - Amy... quantas vezes fui Amy, Nora, Mme. Bovary, Ana, Ahab, Zorba, Casmurro, Capitu... Quantas vezes fui literatura e não eu mesma? Sempre que possível. A literatura me amparou e me ampara nessa vida tão diferente, ou melhor no espaçõ entre a vida vivida e a imaginada. O tempo hoje é doce e bonito. Faço muito do que gostaria de estar fazendo. Ainda assim, vivo uma outra vida... a vida literária, a vida cheia de amores, medos, aventuras, viagens e realizações. Agradeço a elas, às personagens da ficção, por tudo que sempre me permitiram sentir... elas, as minhas amadas personagens.

IV - " Embora fossem inteligentes, articulados e cheios de savoir-faire, e embora Jamie conhecesse a América dos republicanos ricos e o tipo de ignorância  gerada no Texas, os dois não faziam ideia do que era a grande massa da população americana, e jamais tinha visto com tanta clareza que não eram pessoas instruídas como eles que determinariam o destino do país, e sim dezenas de cidadãos mutio diferentes deles, pessoas que eles não conheciam, as quais deram a Bush uma segunda oportunidade, como dissera Billy, de 'destruir uma coisa maravilhosa". ( in, O Fantasma sai de cena, de Philip Roth)

V -

É isso...  até mais.