“Nunca irei saber como ela
passava os dias, qual era seu esconderijo, a quem via durante os meses de inverno de sua primeira fuga, e
durante as semanas de primavera, quando novamente fugiu. Aí está seu segredo.
Um simples, mas precioso segredo que os algozes, os decretos, as autoridades
ditas da Ocupação, a prisão, os quartéis, os campos, a História, o tempo – tudo
aquilo que nos empesta e nos destrói – nunca mais lhe poderão roubar”
(Dora Bruder, de Patrick Modiano)
Último parágrafo... a leitura
deixou a leitora atônita. A menina Dora, em fuga, percorreu ruas que hoje, nem o
Google – essa besta do conhecimento – consegue mostrar. A literatura e a
invenção, no entanto, tiveram êxito na busca. Acabei de percorrer ruas que não
existem mais, lugares destruídos para que não saibamos de nada. Em todos os
lugares da terra, há pessoas especialistas em apagar vidas, pistas, sonhos...
eles trabalham com afinco. Mas, o autor sonha e realiza cada passo dos
esquecidos. É disso que trata esse romance maravilhoso! Cartas encontradas nas
bancas do centro da cidade, pacotes esquecidos no canto do edifício em ruínas,
o fundo da gaveta... tudo o que a modernidade “desapega”. É lá que estão as
vidas que devemos recordar e homenagear sempre!
Até...