Não sei por que eu sei que os
sapatos Jacometti são bons. Não sei nem se alguém que conheço sabe ou conhece
esse nome. Parece que vem de um tempo distante, do qual não lembro mais. O fato
é que quando encontrei um par de sapatos Jacometti, quando caminhava com a
Sofia, deixados em um canteiro qualquer aqui perto de casa, me espantei e fiz
uma foto com o celular.
Estavam ali, bem postos, perto da
parede, mas não encostados... postos com cuidado. Um certo cuidado.
Senti que a pessoa que largou
aquele belo par de sapato masculino, abandonado ali, era um ingrato. Ganhou e
não deu nem bola. Largou, cuidadosamente, mas largou.
Imaginei a história deles... já
foram de alguém de muito bom gosto e pés felizes. Imaginei festas,
noites de gala e bailes. O terno, que os acompanhava, elegante e perfumado. Se estivessem
em um filme hollywoodiano, certamente haveria um par de luvas, uma cartola e uma
echarpe. Ou, talvez eles fossem a uma gafieira no centro de São Paulo.
Alguém resolveu que podia
oferecer um dos seus melhores e mais confortáveis sapatos a um homem que
necessitava... mas, o homem não quis, não gostou.
Estavam ali, no canteiro,
largados porque alguém não havia gostado deles... pobre Jacometti.
Fico aqui pensando se gosto dos
sapatos ou do nome... é tão sonoro, forrado de cetim branco, com a marca bem
desenhada na palmilha.
Aquele par de sapatos impunha,
ainda, respeito. Respeito a minha memória do que é belo e bom e tem história. Ainda que fosse
só um par de sapato largado na rua de trás da minha casa.
E aqui vai, mais uma vez...
Até mais,