quinta-feira, 26 de maio de 2016

Eu nunca usei capelo



Eu nunca usei capelo. 

Minha passagem pela universidade não foi uma formalidade, foi divertida e formadora.
Frequentei as bibliotecas com curiosidade; escapava para o anfiteatro para acompanhar ao ensaio da orquestra, dirigida por Camargo Guarnieri; dava um vácuo em algumas aulas para ouvir Zubin Mehta, conduzindo a filarmônica de Israel; fiz quase todos os cursos de julho. Não perdia uma palestra. Lembro de cada uma das aulas de literatura. Sofri no Latim. Tive aula com Boris Schnaiderman, Décio de Almeida Prado, Alfredo Bosi e outros professores de quem ainda ouço o tom de voz inesquecível!

Eu nunca usei capelo.

Da universidade, fui direto para a sala de aula, mudando a perspectiva, olhando da lousa para as carteiras... olhei meus alunos e fomos nos divertir juntos. Nos seminários de literatura, nos festivais de teatro, com Lima Barreto e Machado de Assis. Ríamos nas aulas de redação, elaborando textos mirabolantes.

Eu nunca usei capelo.

Com as alunas e alunos da universidade, continuei a rir em aulas de Literatura Infantil ou com as nossas reações nas leituras compartilhadas de Guimarães e João Ubaldo. Ri com outros colegas que me acolheram em projeto deliciosos.

Acredito na formação séria, por isso escolhi com quem rir, como rir, porque rir...
Hoje, quando vejo o escárnio, o sarcasmo, quando tripudiar a educação – e falo aqui, especificamente, da última ópera bufa no ministério da educação – está ganhando força e que quase todos envolvidos usam capelo, sinto que, para o meu riso, não há mais espaço. 

Saí do jogo, jogo a toalha, entrego os pontos!

Firmes aí, amigos que ainda sabem rir, continuem e soltem uma sonora gargalhada para que eu possa continuar ouvindo daqui...