Algumas palavras me acompanham...
Sou uma amante das palavras. Não que meu vocabulário seja
assim um Machado de Assis ou um Castro Alves, mas, como se diz por aí, dá pro
gasto!
Essa é uma delas... calceteiro.
Ela apareceu uma vez em uma lista de exercícios do uso do
pronome relativo... calma gente!
Eu usei a tal lista tantas e tantas vezes, porque acreditava
piamente que meus alunos, um dia, saberiam usar onde, a qual, na qual, cujo e por aí
vai...
Imagino, nos meus sonhos, que alguns deles devem ter mais
consciência do coitado do pronome relativo do que os demais mortais. Sonho
muito... sou sonhadora.
Acontece que em um daqueles exercícios aparecia a palavra
calceteiro. Era uma dessas frases feitas para os livros de exercícios...
perdida no tempo, fora de contexto, meus alunos me olhavam assustados e com
pena da professora tão “fora da casinha”.
Eu insistia, ainda fazia uma gracinha, dizendo que eles
deviam aproveitar a oportunidade única de aprender o significado de calceteiro,
pois nunca mais haviam de ouvir aquela palavra! Nunca! E acredito que nunca
mesmo um só deles ouviu o termo fora da sala de aula.
Hoje, janeiro de 2017, estou numa boa, com a mãe, passeando
pelas salas maravilhosas da Pinacoteca e, de repente, vejo o quadro belíssimo –
Calceteiros, de 1953, obra do artista Wellington Virgolino.
Ri um pouco, lembrei um pouco da sala de aula e contei a
história para a minha mãe, que não achou muito engraçada não...
Afinal... foi uma verdadeira piada interna.
Calceteiros... alguém aí conhece um para indicar?
- Recomendo a leitura deliciosa de O romance das palavras, uma história etimológica e semântica, de Celso Pedro Luft, organização e supervisão, de Lya Luft.