segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Brega e chique

 

Um dia eu comprei um vestido feio. Era daqueles feio mesmo, como aqueles que ficam na primeira barraca da feira. A barraca de roupas ( será que ainda resistem? ), com calçolonas de malha de que vizinha velha velha gosta, com as calças de lycra, os pares de meia marrom, os panos de prato feinhos, as chinelas falsas, tamancos... Não comprei na barraca, mas parecia. E usei! Essa semana, lembrei disso. Como eu fiz isso? Por quê? Lembro de mim, atravessando a rua, com chinelinho e vestida com aquele vestido feio. Ventava e o vestido tinha fendas até o meio da canela. Nunca gostei de fendas. Nem em vestido, nem em calças, como essas que estão na moda. Que estranha é a vida, quando você lembra de que já usou um vestido feio. Mas, não é só isso. Eu fui a um show de sertanejos brega, numa churrascaria em São Bernardo do Campo. Isso mesmo. Nesse dia comi polenta frita e ao lado havia uma família barulhenta. Conseguiram ver a cena? Fui  a uma excursão de ônibus, para Peruíbe. Comi lanche ruim, com refrigerante. Fiquei picada de mosquitos. Tive um LP do Wanderlei Cardoso e ouvia muito.  Não é estranho?

Parece uma outra vida.                                  

Hoje, eu não faria nada disso, não compraria um vestido feio.

Eu ouço música velha, daquelas que ninguém mais lembra. Adoro uma feira. Se pintar, compro no brechó. 

Hoje me sinto mais equilibrada, com minha calça preta e minhas camisetas. Vou a uns shows históricos. Passei tinta colorida numas mechas do cabelo branco e achei o máximo.

Diga-me o que vestes, o que ouves, o que comes, o cabelo que tens e te direi quem és!

Será mesmo?