quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Brasília, Recife, Maceió.

Eu queria conhecer Recife, de Manuel Bandeira.

 "Cai cai balão
Cai cai balão
Na Rua do Sabão!
O que custou arranjar aquele balãozinho de papel!
Quem fez foi o filho da lavadeira.
Um que trabalha na composição do jornal e tosse muito."


Liguei para meu pai em Brasília e pedi uma ajuda. "Dá para falar com o Sr. Lins, pai da sua vizinha?" Deu. Fui primeiro a Brasília, fiquei uns dias com meu pai, depois fui a Recife. Arrumei também um jeito de ficar uns dias em Maceió. O Sr. Lins lembrava João Cabral de Melo Neto, magrinho, óculos, camisa branca de manga curta, calça social cinza velhinha. Eu chegava bem indicada pela filha - a vizinha de meu pai do conjunto habitacional dos funcionários da gráfica do Senado Federal. Gente boa, gostosa para conversar, acolhedores. Fiquei em um bairro, perto de um colégio judaico tradicional. A outra filha era professora lá. Foi a primeira vez que ouvi a palavra "morá" que achei tão linda. Era um apartamento pequeno, todo arrumadinho, cheiroso. Apartamento de velhos, com passado bonito. Uma penumbra delicada. Colcha bonita na cama em que dormi, vaso de flor na sala, cortina de cor sóbria, toalha branca de rendinha na hora do café da manha. Acordei quatro dias com o perfume do café da manhã de Recife. Cuscus doce, leite quente, queijo, manteiga saborosa... inesquecível. O Sr. Lins , é claro, gostava de conversar... contou como foi, na infância, esperar a passagem da Coluna Prestes na cidade em que ele vivia. O clima de aventura que o fato trouxe para a vida dele. Quis seguir a Coluna, o pai não deixou. Contou de uma cheia que ilhou o casal durante dias no apartamento, porque a água subiu até o 3º andar. Quase não deixava a mulher contar suas próprias histórias. Será que é por isso, que só lembro o nome dele? Que pena. Também não lembro o nome da filha, a morá. Mas, lembro dela, chegando na hora do almoço, contando algumas passagens do dia na escola. Não havia nem uma sombra de cansaço ou de desilusão! E então fui atrás da Recife do poeta! Rua do Sol, rio Capibaribe, as pontes, a festa da pitomba - delícia de fruta. Andei muito pelas ruas da cidade. O prédio da Confeitaria Glória, onde foi assassinado João Pessoa me deixou impressionada. Andei por algumas praias. Que lindo aquele Recife, sem preocupação! Conheci a fantástica árvore de Fruta-pão, pois havia uma bem em frente ao apartamento.Antes, aquela árvore era só uma imagem na figurinha em um álbum que meu irmão colecionava. Guardei a lembrança da senhora espantada, dizendo que "agora as mulheres andam de sacolas nas mãos, é mais pratico", como se fosse uma grande mudança de comportamento. Senhoras educadas não carregavam sacolas! E fiquei conhecendo o  significado da palavra "inverno", chuva da tarde! Eu, a paulista que sabia, naqueles anos, o que era um inverno de verdade. Conheci Recife? Um pouco, um sonho de Recife. Algumas pessoas bem especiais. Elas fizeram meu Recife. Depois, tomei um ônibus e fui até Maceió. Pela praia, vendo aquelas casinhas e coqueiros inacreditáveis...sem máquina digital para registar tudo, só a memória. Uns meses depois, recebi pelas mãos do meu pai um bilhetinho do Sr. Lins, agradecendo a "filha tão educadinha que o sr. me pediu para hospedar", carinhoso. Sinto saudades de pessoas carinhosas. Imagino o casal agora " dormindo profundamente" como diria o poeta.




 Maceió? Outro dia, falo dela!


sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Uma das minhas...

Em 2009, quis conhecer Belo Horizonte. Olhando com olhos de todo dia, é uma cidade feia, cheia de problemas, suja, um trânsito caótico. Que ideia, visitar uma outra versão de São Paulo! Mas os meus olhos nunca chegam a uma cidade, olhando do mesmo jeito. Chegam prontos para encontrar as referências que ficam das minhas leituras. Vi muita coisa bonita: o show da Maria Alcina no parque inaugurado 1897 - Parque Municipal Américo Renê Giannetti - , assisti a um concerto de música clássica; caminhei pela Pampulha, onde conversei com uma cobradora de ônibus que tinha o sonho de ser motorista; visitei uma exposição maravilhosa no Museu Inaná de Paula de quem recebo, até hoje, os convites para as próximas exposições. O plano maior era visitar Itabira, claro. Na Itabira de Drummond, ironia, fui a uma festa em que havia uma exposição a respeito de Fernando Sabino. Comprei um livro: "Cartas na mesa". Aquele nosso interesse especial em literatura epistolar, né Andréa? Acabei lendo, durante a viagem até Vitória - Ferrovia Vale do Rio Doce - outra aventura mineira. De volta, havia a cidade para ser explorada. Afinal, é a cidade dos meninos Fernando, Hélio, Otto e Paulo. Do Encontro Marcado, leitura importante na minha formação. Era preciso procurar a praça do encontro, percorrer as ruas descritas nas cartas trocadas, durante todo a vida, pelos quatro amigos. Pelo menos, as de Belo Horizonte. Tomei um café no Café Nice  e lá que fui andar pela cidade. Caminhei muito até chegar à Praça da Liberdade. Fui sentindo o clima dos anos 40 nas contruções, no rosto dos velhos que ainda caminham pela cidade... Vi tantas coisas bonitas e ao chegar lá, não importava mais se era lá era mesmo a praça do encontro, o que importava era o clima do encontro. Estava acontecendo um festa com grupos tradicionais da cidade, gente com histórias no rosto e gente nova aprendendo com os velhos. Visitei alguns edificios históricos da praça. tirei fotos. 




 Eu tive meu encontro com a cidade.