domingo, 29 de outubro de 2017

Um motivo para escrever...



Eu gosto de escrever e espero ter um motivo, causa, razão ou circunstância para começar um texto. Não faço como os bons escritores que escrevem todos os dias, treinam, mantém diários, leem muito. Bom, eu leio, mas não tenho ilusões bobas a respeito do meu texto.

Fui muito bem educada, na FFLCH-USP, para saber separar o joio do trigo. * Que me perdoem os professores se uso de muitos clichês...

De vez em quando, aparece a tal razão... o tal motivo e a circunstância adequada.
Fui ao Poupatempo Sé para renovar a carteira de motorista. Aproveitei para uma caminhada rápida da Sé até a estação São Bento. Queria caminhar, entrar na Rua Direita, escolher se seguia direto pela São Bento ou se dava escapada até o largo São Francisco. Sabe aquele ponto em que você está em frente ao José Bonifácio e fica na dúvida de sobe ou desce?

Comecei pela passagem da Estação da Sé, atravessei a praça, na esquina da Unesp, fui descendo pela calçada maltratada e resisti à compra de um fio de ovos na La Romana. Uma árvore, feia, preta de fuligem me viu muitas vezes entrar ali e comprar pão italiano, um pedaço de torta de ricota e fio de ovos para minha mãe. Ela me viu menina, aos sábados, passeando com o pai. Sábado era o dia do pai. Ele, amante da cidade, nos levava por todo o centro.

Lembrei da adolescente, vinda da Penha, procurando livros na Ornabi, em que me divertia na escadinha pequena que nos levava até o corredor de cima, com livros e descobertas incríveis que poucas vezes couberam no meu orçamento; na Gazeau, lugar de onde ainda me vem à lembrança do cheiro forte do terno do sr. Gazeau, seus cabelos brancos e óculos grossos, comprando aquela Cruzeiro especial sobre a morte do Kennedy ou revistas estrangeiras que falassem a respeito dos Beatles. Tinha o projeto de ser colecionadora beatlemaníaca, o que não fui. E um pouco mais velha, comprando revistas italianas, na esperança de melhorar o vocabulário, durante o curso na Casa di Dante.

Essa lembrança me valeu a noite de segunda, procurando histórias das antigas livrarias do centro de São Paulo... só por puro prazer de recordar. Ah, eu tinha visto episódio ‘Livreiros’...

‘Na rua Direita, do lado direito’ já não é tão interessante assim... por isso, dei uma olhadinha na Casa da Francisca, à esquerda, que preserva o prédio onde meu pai comprava as partituras para cantar com minha mãe, antes da separação... nos dias felizes do casal.

Em frente ao Bonifácio, dei só uma rápida escapada até a Casa Califórnia, para verificar se no balcão restam alguns sanduíches de sardinha... mas, não vi nada. O balcão mais moderno e as mocinhas que atendem não me chamaram a atenção, nem para pedir meu suco de tamarindo, que acompanhava o lanche de linguiça de Bragança com o dinheiro contado, nos dias de cinema, Municipal ou Biblioteca Mario de Andrade.

Lá que fui rumo a São Bento... a Casa Fretin não é mais a Casa Fretin. Fiz meu primeiro par de óculos lá! Fiz questão... sou uma pessoa de fazer algumas questões. Comprei óculos na Fretin, guarda chuva na São Bento, perto da Casa Califórnia... o melhor. Sapato, na Galo Branco; remédio da Botica Veado d’Ouro; a Olivetti, no Mappin. Sou assim... fazer o quê?
Não passei pela Igreja, nem esperei as badaladas do relógio... às vezes, temos de abrir mão de alguns prazeres, para que o cotidiano se conclua.

Voltei com vontade de escrever... peguei uma gripe, fiquei de cama, tomei canja, remédio, inalação. A vontade teve de esperar.

Qual a causa, motivo, razão ou circunstância desse texto? A árvore preta, suja de fuligem, a calçada maltratada da Praça da Sé. Foi ela que me inspirou. Um olhar de soslaio ( hahaha ) e veio o desejo de escrever! Pobre árvore, além de tudo o que sofre, precisa sofrer no texto de uma aspirante a cronista.



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