terça-feira, 22 de dezembro de 2020

O cometa de Halley e meu espaço sideral

 

Eu devia estar no terceiro ano do primário, com nove anos, quando vi meu primeiro eclipse solar. 

Tinha um negativo de filme fotográfico e mirei contra o céu, para poder ver o fenômeno. Foi divertido, lindo, compartilhado no meio da rua de terra com os amigos das casas vizinhas. Acho que foi na escola, que avisaram a hora, como ver, nos ensinaram os cuidados para não comprometer a visão.

Todos estávamos brincando com o céu, naquele dia. E ficávamos rindo, de olho se alguém ia desobedecer e olhar diretamente. Certamente, ficaria cego! Que medo!

Fascinante.

Eu tinha uma enciclopédia, comprada no portão, em suaves prestações mensais, onde lia a respeito do cometa Halley. Acho que sempre fui assim, meio fora do planeta. Lia com atenção as histórias do cometa. Como foi descoberto, quantas vezes apareceu, quando tinha sido a última vez – 1910!

Gostava de imaginar que eu mesma o veria, de verdade. O cometa. Seria jovem, teria uma luneta, marcaria minha existência, com sua magnífica aparição.



 Lembro-me da crônica de Drummond, falando a respeito do cometa. Como tudo era possível e maravilhoso.

Vocês sabem. O cometa veio, passou por aqui, mas não deu bola para ninguém. Não vimos nada, nós aqui do Brasil. A luneta? Eu tinha uma sim... não sei que fim deu. Depois de ficar esquecida numa gaveta cheia de traquitanas, deve ter ficado triste e resolveu sumir.

Isso tudo veio à memória, quando, ontem, me peguei abrindo o Youtube à procura de imagens da tal conjunção de planetas. Meio que sem pensar, queria ver a Estrela de Belém. Acho que foi a menina em mim...

Uns sites mais felizes, em que moços cientistas, conversavam a respeito de astronomia, do mundo antigo magnífico, do mundo moderno pleno de possibilidades.

Outros mantinham aquela imagem dos planetas se exibindo aos telescópios do mundo todo.


Imagens não mais de enciclopédias de seis volumes, mas de telas midiáticas, plataformas sociais.

Fui ficando triste, meninamente triste.

Depois, quando comecei a refletir, vi que bobagem era essa esperança. O céu paulistano, sempre tão lindo nos últimos dias, estava nublado.

Tudo está nublado.

É isso que temos de observar, afinal.

Então, resolvi assistir a mais um episódio de Deep Space Nine. Lá, pelo menos, o Domínio está sendo combatido.


5 comentários:

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  2. Delícia de texto,Amiga! Só você para me fazer entender que eu me senti "meninamente triste" por não ter conseguido ver o último eclipse!

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  3. Que delicia recordar com você a meninice onde nada era nublado e tínhamos a vida pela frente para poder ver o Cometa em outro momento...é o que eu acreditava. Parece que o céu resolveu compartilhar conosco esse momento tão caótico e "nublado", mas vamos seguir juntas para enfrentar isso com resiliência e com a literatura. Vai passar.

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