segunda-feira, 24 de outubro de 2022

A culpa é da mamãe!

 Minha mãe tem 93 anos, mas isso vocês já sabem. 

O que vocês, talvez, não saibam é que até aos 50 anos ela era Católica, Apostólica Romana. Isso quer dizer que de Filha de Maria, Verônica da procissão até a vergonha que ela tinha de comungar, depois de ter sido largada pelo marido, foi um longo percurso.

Está explicado minha foto de primeira comunhão na semana das crianças. Fiz o catecismo, fui da juventude católica - costumo brincar que fui garçonete da Santa Ceia - e até hoje, com as devidas mudanças, acredito em eficácia simbólica. Eficácia simbólica é um conceito maravilhoso que aprendi com uma professora de sociologia da USP. Me ajuda muito a entender, porque chorei em Assis, em frente à Santa Teresa em êxtase e na Igreja do Bom Fim.

Bom... 

Quando ela fez a conversão ( parece coisa de carro a gas ) para o evangelismo, fiquei de pé atrás. Mas, suspirei e entendi perfeitamente. Era um período difícil, para aquela mãe que agora estava sozinha, com os dois filhos casados e fora de casa. Algo, muito especial, deveria preencher aquele vazio e os Batistas foram muito importantes nisso. Entendi também quando ela me disse, depois de alguns anos de Batista que já estava velha demais para duvidar e, portanto, eu podia parar de questionar os dogmas em que ela acreditava agora. Sei que duvidar é tarefa humana e ela duvida. Mas, em termos de religião, estava cansada e os hinos da Batista eram lindos o suficiente, para enfeitar seus domingos.

Ela lê a Biblia todo ano. Inteirinha, anotando, parando para entender e comentando comigo. Eu sigo, depois de alguma trégua, questionando um ponto ou outro que acho demais da conta de exagero do autor.

Mas ( turning point ) ela, além de perseguir a fé religiosa que a sustente, não deixa de perseguir o conhecimento, a leitura diversificada, as ideias contrarias à maioria, o questionamento do pensamento único. Por exemplo, leu depois de mim o livro, O último profeta, de Heschel.

Isso significa que me impulsionou sempre a estudar, a amparar minha formação, a felicitar minha carreira. Significa que sempre me achou inteligente e teve orgulho de mim ( é evidente que o filho de quem ela mais gosta é meu irmão e essa é nossa piada interna, só nossa, não é irmão? ).

Tem orgulho das leituras que faço, dos projetos intelectuais dos quais participei, das ex-alunas que sempre me presenteiam com palavras carinhosas de reconhecimento do trabalho que fiz em sala de aula.

 O que ela tem visto é que todo esse empenho em me empurrar para o conhecimento, transformou sua filhinha em um ser pensante e mais questionador do que ela tem visto, nesses anos todos, entre os que professam a sua religião.

Eu questiono as irmãs. Eu questiono o pastor. Eu chego na casa dela e xingo o cretino que manipula as mentes fracas e intelectualmente incapazes que compreender a manipulação. Eu vocifero contra membros da família que, apesar das oportunidades, insistem em não usar as qualidades únicas do cérebro que está preso em suas caixas cranianas.

Tenho tido, ultimamente, profundos episódios de destempero. Quem, em sã consciência, não tem tido, não é mesmo?

Temos debatido política, religião, costumes, mídia conservadora, mídia digital e seus problemas. Hoje mesmo, vou levar a Ilustríssima, que fez uma matéria a respeito de religão e poder. Tenho certeza de que ela vai ler, suspirar e comentar comigo. 

Quando me exalto, ela me olha com aqueles olhos que já foram grandes e hoje são pequeninos e aí eu me toco de que, talvez, esteja exagerando. 

Afinal, ela já me disse, há muito tempo, que não está na idade de duvidar, questionar...

Fico uns dois dias calma, mas o monstro criado e alimentado na USP, na Biblioteca da Letras, nas livrarias da vida, nas salas de aula, nos encontros com amigos e amigas piramidais, esse monstro está à solta. E meto boca na minha mãe de 93 anos.

É quase só com ela, com quem posso falar no dia a dia. 

As filhas, me entendem, mas são filhas e não tem a obrigadação que minha mãe tem de me escutar. Uau!!!

Os amigos, devido a pandemia ( ô conceito pequeno, para tudo o que nos aconteceu ), tenho encontrado quase que só virtualmente e eles também estão destemperados.

O irmão... bem... o irmão é o irmão. A quem eu amo e respeito, a despeito de tudo.

Mas, minha mãe de 93 anos. Ah, não! Não mesmo! 

Ela foi a culpada de eu não ser uma dona de casa tradicional, uma vidrada em BBB, uma consumidora de sertanojo, uma seguidora de influencers de quinta categoria, uma baba ovo de pastor de empresa religiosa de entretenimento, uma leitora de livro único; ou pior, uma leitora do mesmo livro, escrito por "autores diferentes". 

Sua culpa, mamã!

Agora aguenta!

É isso!



terça-feira, 11 de outubro de 2022

Direto de 2018, ou Nada Mudou!

Em 2018, escrevi esse texto, logo após o show de Roger Waters. Gostei e, como o blog é meu, vou postar novamente!✌️


♥️


A gripe sempre me faz pensar...

Eu nem tenho conhecimento para falar de tanta história de contestação. Mas, lendo sobre a repercussão da tal vaia no show do Roger Waters e tendo ido ao show ontem à noite, voltei pensando no rock and roll. 

Pensei no ativismo fofo e importantíssimo do Paul, no ativismo incendiário do Jimmy, no ativismo do System of Down, que aprendi a respeitar com a filha. No ativismo algo ingênuo do John... imagine!

Pensei no branquelo Jerry Lee Lewis, fugindo de casa, para ouvir música e, inspirado, escrever Great Balls Of Fire. Lembrei do magnífico Chuck Berry, contando para a plateia do teatro Apolo, como ele havia sido impedido de entrar ali. E da cena antológica em que Jimmy Hendrix toca fogo na guitarra para dizer NÃO à guerra que matava diariamente tantos jovens que não podiam estar ali, em Woodstock. 

Lembrando aqui em Jim Morrison, Little Richard, David Bowie, Fred Mercury, Lou Reed e tantos artistas incríveis. Eu, que não sei nada de rock and roll... sendo apenas ouvinte e apreciadora rsrsrsrs... penso em como é possível alguém imaginar um show de rock de verdade que não seja constestador! Que um artista com o talento incrível como Roger Waters não fosse contestador. Alguém que viveu a vida toda descrevendo e refletindo sobre o mundo em que vive... Puta show incrível! Som absurdamente bom... visual impactante, letras fortíssimas... Faz o que o rock sempre fez, coloca a plateia, quer ela queira ou não, para pensar! "We dont need no thought control"

Viva o rock and roll... viva a força da música contra o pensamento único. Viva o artista!

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Messenger, e daí?



Aqueles que odeiam o saber, que foram criados numa parada de sucessos asquerosa e sem poesia, estão felizes. É isso. Enquanto a falsa religiosidade, a falsa música, a falsa caridade receberem alimentação diária dessa mídia hipócrita, não nos livraremos desse ranço. Vamos amargar Damares, Marcos Pontes, Bananinha, Zambelis e Bias sei lá o quê!

com parada de sucessos asquerosa, quero dizer  o que vocês já sabem, porque quem me lê, sabe o que eu penso 







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Amiga 1

É exatamente o que eu estava falando com ele agorinha mesmo. Aqueles que adoram o saber vivem numa bolha. Nós é que somos a bolha deste país. Eu estou espantada com o rumo que o nosso país está tomando. Estou triste de ver o fim do nosso país com futuro exemplar. Na realidade, eu estou a um passo de chorar. Não posso conversar com ninguém agora pq vou cair no choro
😢
2
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Na realidade, o mundo que imaginamos não existirá! Está no fim o pouco que foi criado no sonho do conhecimento, da arte. Agora é o tempo da mediocridade.. Ganhou. Além disso, a questão econômica e política está cada vez mais estreita e assassina. Sobrevivemos ao vírus. Não sobreviveremos à ignorância. Iremos ao teatro, ouviremos música, como se fosse uma saída, escape. É isso. Vamos precisar, cada vez mais de escapes.
👍
Amiga 2

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Vamos. Está insuportável ver esses resultados. Não paro de chorar . A Elaine

( eu mesma, tá bom ) está muito certa no que diz. A pessoa ao nosso lado vota em genocida e não vai mudar.

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    Amiga 3
Nada vai mudar, ou melhor, vai mudar pra pior. É isso Elaine.
( eu, de novo ) Vamos sobreviver nos escape

The day after... acordamos, olhando o copo mais cheio que vazio, principalmente, depois de ler algumas postagens, como a do amigo virtual e escritor :


É isso...

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