sábado, 22 de dezembro de 2012

Não sei não...

Do início de dezembro até agora, ganhei livros maravilhosos. Luis Fernando Veríssimo, Drauzio Varela, Nelson Rodrigues, Grimm, Tolkien, Le Clésio... estive com as amigas do Clube do Livro, no almoço com as amigas de profissão, fui a eventos musicais que me emocionaram muito. Vi a exposição Gil 70, e o último filme que vi deixou uma sensação doce e amarga, como a vida dos retratados -  Liv e Ingmar! Quase que não aguento!
Dezembro é um mês que mete medo, de tanta coisa que acontece nele!

Um tempo em suspensão. É assim que me parece dezembro!

Suspende o ritmo
o tempo
o acontecimento.

suspende tudo
que eu tenho medo

suspende dezembro
vá logo para janeiro
que o sol chegou

suspende dezembro
pega a estrada
foge de dezembro

suspende o tempo
suspende tudo
corre para janeiro
acorda em janeiro

não esquece os livros!
lá não tem janeirofeveireiromarçoabrilmaiojunhojulhoagostosetembrooutubronovembrodezembro!

só a vida perfeita do sofrimento de werther!





Já leram? É lindo!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A leitora



Minha mãe trazia para casa, depois de um dia de trabalho como diarista, além do cansaço, um montão de revistas. Realidade, Manchete, Fatos & Fotos, exemplares da Seleções... revistas lidas pelos patrões. E eu lia todas!  
Lembro perfeitamente de alguns textos e matérias que me marcaram por motivos diferentes. Uma crônica da Seleções escrita por uma dona de casa me divertiu muito e ainda hoje me lembro dela, quando estou com a casa desarrumada e toca o interfone! Pânico! A crônica tinha o nome sugestivo de “Aprenda a conviver com a sua casca de laranja” Assim mesmo! Adorei o título -precedido de uma ilustração em que uma mulher parecia uma malabarista, com as traquitanas da cozinha penduradas nas mãos, equilibrando um milhão de coisas ao mesmo tempo - e a escritora falava em como era difícil manter tudo em ordem, casa, filhos – aquele modelo americano de organização – e como uma vez, recebeu a visita de uma vizinha e não percebeu que havia uma casca de laranja jogada no chão da cozinha. Quando se deu conta, a pobre suava, tentando esconder a tal casca para que a vizinha não percebesse ou não a julgasse uma preguiçosa. Não teve jeito e, chorando, ela tentava se desculpar... e então, pirlimpimpim,... a vizinha resolveu confessar que ela também tinha problemas e baratas embaixo da pia na cozinha linda e perfeita. Porque me lembro tão bem? Eu nunca quis ser dona de casa... mas adoraria ter escrito uma crônica que pudesse imprimir uma lembrança tão forte como essa imprimiu em mim. Era divertida a maneira como ela ia descrevendo a tentativa inútil de esconder seus defeitos e o alívio de compartilhar com a vizinha as mesmas preocupações bobas. E ainda havia crianças chorando e brinquedos pela casa... um clima criado pela escritora, difícil de esquecer.
Um conto da revista Manchete me deixou muito impressionada... acho que era uma tradução. Nem imagino o autor, mas havia uma descrição de um dia muito quente – os adjetivos me fizeram sentir o mesmo calor – e a descrição final da personagem abrindo a mangueira no jardim e regando tudo com aquela água fresca batendo nas coisas e no próprio corpo... como me impressionaram. Acabei de pensar que havia um quê metafórico sensual que naquele momento eu não percebia, mas agora...
E a Realidade?... ler aquela revista era quase um ato de transgressão. Lembro do famoso número em que o repórter narrava e fotografava um parto no meio do nada... guardei o exemplar para poder rever quando quisesse, como se fosse um troféu. Essa e outras reportagens históricas me fizeram sonhar e viajar muito... leituras impressionantes que a revista me deu.
As fotonovelas eram especialmente boas de ler... aqueles galãs italianos, de cabelo arrumadinho, que sofriam ciúme, traição, desencontros, injustiças... delícia! Ouvindo a trilha sonora perfeita, Gianne Morandi, eu também era uma mocinha da revista.
As fotos incríveis da Fatos&Fotos... um editorial de moda da Rhodia, fotografado em Barcelona... a primeira vez que ouvi falar de Gaudí! As cores e formas... impossível esquecer. E o editorial de decoração? Banheiros incríveis... desejo puro de beleza! Ah! ah! ah! O banheiro da nossa casa era do lado de fora, um quarto grande, com o vaso e uma pia feia, o chuveiro... qualquer dia eu conto do chuveiro. Essas eu também guardei durante muito tempo. Claro que as fotos de carnaval, bailes e desfiles fizeram minha imaginação viajar muito! Clóvis Bornay e aquele sorriso debaixo do pancake, olhos bem delineados, o verde das plumas e a descrição de tudo isso em uma matéria bem escrita. Ah, sim, as matérias eram bem escritas!
Nem sei se já falei disso tudo antes... sei que, às vezes, me pego lembrando dessas passagens e gosto de saber que minha leitura teve tantas influências diferentes... gosto mesmo!

Eu era uma menina de, mais ou menos, 10 anos, morava na Corondá, 35, Vila Marieta, Subdistrito da Penha...adorava a palavra "subsdistrito" parecia importante, assim mesmo, na placa da rua!





Vocês pensam nisso?

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Feira

Feira de livros... chegamos de carro, imaginando não sofrer muito com o peso dos livros! Quem pensou em percorrer os três prédios da Poli com as sacolas plásticas e de papel, cortando a mão de tão pesadas? Nós não! 
Entrando pelo prédio do Biênio, felizes, saracoteando entre as bancas das editoras das universidades... bom, bonito, que legal! A única banca lotada era da Cia das Letras... vamos deixar para depois! 
E então, cai na nossa mão O MAPA! 

São três prédios, precisamos nos deslocar pelo campus, flores, arbustos, sol de rachar... andar entre as barraquinhas do "ai que lindo" - camisetas que nunca usaremos, balangandãs que não são dos de iaia, filmes pirateados que adoraríamos ver e, é claro, uma de um rapazinho que faz flautas de bambu! As pessoas ainda ouvem Greensleeves.  Ai, a universidade!

No caminho entre a Civil e Mecânica as pessoas tinham um ar assustado, desesperado, quase infeliz! "E aquele livro que resolvi não levar... vou me arrepender para sempre" "Estarei vivo na próxima primavera?" "Não aguento fila na Cosac Naif, mas as edições são tão lindas..." "E os russos, meu Deus, os russos da 34". "Finalmente vou poder colocar na minha biblioteca aquele livro de que o professor falou tanto em sala de aula"  Podiamos ouvir cada um desses pensamentos. Pobre leitores, pobres de nós. E todos tinham em mãos listas, listas, listas!
E, é claro, O MAPA!

Paramos para um famigerado salgadinho. Não poderíamos de jeito nenhum ter um peripaque bem na fila da Edusp! E estratégicamente deixamos o banheiro para uma ocasião mais especial, no final da tarde, quando todos já tivessem feito, bom, vocês sabem!
Olha O MAPA, Elaine!
Quantas editoras, quantos livros maravilhosos. Fizemos nossas compras. Compartilhamos o medo do cartão de crédito. Tivemos um momento de sanidade, em que uma dizia para a outra, "você precisa mesmo disso, agora?" No caso dos preços divergentes, o apoio da amiga foi fundamental para que eu não estragasse tudo, perguntando qual era mesmo o preço real do livro! Ética na feira de livro, em pleno exercício do capitalismo cultural! 

O saldo foi espetacular. Cansadas, cinco horas depois da chegada, a sensação e a tristeza de não poder voltar nos dias seguintes... e os russos, meu Deus, os russos nas sacolas!

 O MAPA?  Não serviu para nada...  as editoras estavam todas em lugar diferente dos indicados!

Obrigada, Paula! No ano que vem, tem mais!