Já contei que minha primeira viagem teatral foi ao "Labirinto: Balanço da Vida", em 1975? Já. Eu vivo falando disso. Antes, havia ido ao teatro com a escola, o que era muito bom. Mas, a primeira experiência de escolher o espetáculo, comprar as entradas, combinar os horários de ida e volta; ver, absolutamente encantada, o grande ator Walmor Chagas e voltar para a Penha, certa de que a vida era maravilhosa, foi deslumbrante. A imagem dele, todo de branco, entrando em cena e dizendo aqueles textos, poemas e excertos, com a voz forte, articulada, sem que nenhuma sílaba ficasse perdida ou inaudível, nos transportava a um outro nível de sensibilidade. Poetas brasileiros, portugueses, franceses... o elenco literário de que já ouvira falar em sala de aula, estava ali, vivo e soando por toda a sala de espetáculo.
Alguns anos depois, em 2005, uns bons anos de leitura e teatro, marquei mais um encontro. No Centro Cultural Banco do Brasil, fui ver "Um homem indignado", com um texto autoral, forte, contundente (para usar um adjetivo bem comum, inquestionável). A indignação contagiava a platéia, e me contagiava tão fortemente, uma vez que eu, agora, madura, sentia e sinto essa indignação quase todos os dias. Contra tanta bobagem, tanta mediocridade e falta de educação, aquele texto explodia na sala.
– A indignação do meu personagem é porque ele é do tempo em que o
conhecimento vinha da literatura. Agora, parece que a civilização se
infantilizou, a imagem é o que vale. [...] Os reality shows valorizam apenas as pessoas, não o que fazem e por que fazem, disse o ator em entrevista na época.( Zero Hora, 19/01/2013)
Como me sinto feliz, quando encontro alguém que traduz o sinto e penso... o texto, a atuação, a melodia, toda a arte que me completa. Toda a experiência que me sensibiliza. É assim que ainda consigo me sentir humana. Uma boa conversa, um sábado no cinema, uma peça de teatro, um parágrafo.
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Eu não quero e não peço
Para o meu coração
Nada além de uma linda ilusão."
(Mário Lago)
Obrigada, mais uma vez...
http://www.youtube.com/watch?v=CYNRvd0tqmE
Mais uma vez o seu texto é lindo, amiga. E senti falta das pessoas falarem do Walmor nestes dias. E olha - quando alguém traduz o que a gente sente, a vida fica mais feliz e a gente, menos sozinho.
ResponderExcluirElaine, você já enviou alguma dessas estórias maravilhosas para o "Conte a sua história de São Paulo" da rádio CBN? Acho que cairia muito bem! Adorei o texto.
ResponderExcluirDuvido que não conheça,mas aqui está o link :
http://cbn.globoradio.globo.com/series/CONTE-A-SUA-HISTORIA-DE-SAO-PAULO.htm
Marcos... conheço sim, mas ter os textos lidos por vocês já é tão bom...
ExcluirTambém senti... por isso, resolvi escrever. Hoje, eu e minha mãe falamos dele, enquanto estávamos no metrô, indo para o médico. Partilhamos o mesmo amor e a mesma indignação! Menos sozinha... obrigada!
ResponderExcluirPerfeito, Elaine. Dizer que voltávamos para casa certas de que a vida era maravilhosa é a tradução mais perfeita depois de bebermos de fontes tão puras. Durante a minha faculdade, entre 1976 e 1980, eu tinha aulas de TEO (técnica e expressão Oral) e assistir aos monólogos de Valmor Chagas naqueles teatros no centro de SP onde as cadeiras eram bancos e podíamos desfrutar de uma hora de pura viagem era nossa lição de casa. Que maravilhoso era!
ResponderExcluirMe lembro no ano 1978, quando começamos a ter carro ou pegar o carro do pai emprestado, minha amiga chegou à faculdade toda eufórica dizendo que tinha batido o carro, um Fiat 147 ou 157 não lembro, cor azul calcinha, num carro todo bonito e sai de dentro dele o quem, o quem???? Walm or Chagas. O alvoroço entre nós foi incrível porque além de tudo ele era um charme e muito bonito e bater no carro dele era puro romance. Minha amiga ficou falando durante muito tempo desse acontecimento maravilhoso. Toda vez que lembro começo a esboçar um sorriso. Lembranças...
Ele era lindo... e que episódio! Boas lembranças!
ExcluirLindo, lindo e emociante. Seus textos me trazem conhecimento, lembranças e a certeza de não estar sozinha, como diz você. Bjs.
ResponderExcluirNão estamos sozinhas... bjs,
ResponderExcluirValmor..fora seu charme, daqueles que sabia dirigir um sonho, ousando e dando-lhe vida própria...memorável!Que bom Elaine ter vc com esse registro maravilhoso,que emociona!Bj
ResponderExcluirAna... sua amiga está quase saindo da caverna... hibernação necesária! Gostei tanto do comentário, viu?!
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