sexta-feira, 26 de setembro de 2014

O olhar de Fernanda e Giulietta.



Será que alguém já falou que elas têm o mesmo olhar?
Olhos grandes, que perguntam.
Olhos ternos e desesperados...
Olhos que viram muito e ainda acreditam no outro?
Olhar doce.
Olhar triste.
Olhar de artista que sente e fala para todos nós, por todos nós que só sabemos olhar.
Será?
Olhares de vida intensa, de mil vidas,
Olhares de lágrimas falsas – o cristal chinês - e verdadeiras.
Olhares de paisagens refletidas... Viagens que só podemos fazer porque esses olhares conseguem levar e buscar nossas vontades de ver.
Sempre me emociono com o olhar do artista e, quando o olhar é como esse da Giulietta e da Fernanda...
Sinto ternura, vontade de chorar, vontade de olhar.
Rever filmes, voltar ao teatro, colar uma fotografia na parede.
Todas as experiências que me lembrem a velha frase: “Os olhos são a janela da alma.”





domingo, 7 de setembro de 2014

As joias da mamãe !



A mamãe A guardava o dinheirinho que caia do bolso do papai A. Eles levavam uma vida regrada... pelas leis do papai. Tinha a hora de trabalhar, a hora de almoçar, a hora de tomar banho – e ela sempre levava o chinelo e a toalha na porta do banheiro para  o papai tomar seu banhinho tranquilo, depois de um dia intenso, lidando com aqueles cabras das fábricas que ficavam ao redor da venda. A mamãe A aproveitava e dava aquela olhadinha básica nos bolsos do papai, para ver se podia por a roupa para lavar! E, de vez em quando, caia um dinheirinho do bolso do papai. Ela guardou, guardou, guardou e, sempre que era possível, comprava um anel de ouro com pedras bonitas do mascate que vendia de porta em porta. Ouro bom, pedra bonita. A mamãe A gostava de coisas que brilhavam... tinha alma de artista. Um belo dia, a coisa ficou feia... as contas não fechavam, faltou dinheiro no caixa, precisavam construir mais um quarto. A mamãe não teve duvida nenhuma... pegou um dos anéis e vendeu para por dinheiro em casa. E lá se foram, outras vezes, quando novamente faltou dinheiro, as joias da mamãe.

A mamãe B era uma moça fina de boa família. Delicada e inteligente. Casou-se com o papai B. Eram felizes e tiveram muitos filhos. O que deveria ser o final da história é só o começo. A mamãe B levou como dote uma caixinha de joias, presentes da mãe e do pai. “Guarde, pois joias são nosso melhor investimento.” A mãe e o pai da mamãe B eram bem velhinhos e vinham de uma tradição antiga de dar joias, se enfeitar com elas, tira-las, de vez em quando, da caixinha e ficar olhando aquilo tudo, para ter certeza de que se os dias difíceis chegassem, elas estariam ali – as joias – para o que desse e viesse. A Mamãe B e seus filhinhos eram felizes, juntamente com o laborioso papai B. Tinham de tudo. Não lhes faltava nada. Comida, diversão e arte. E até a certeza de que o mundo é bom e a felicidade existe! E não é que tempos difíceis chegaram? Chegaram e a mamãe B, que nunca pode usar, de verdade, aqueles lindos anéis, aqueles colares grossos, aquelas solitários enormes, nunca em nenhuma grande festa. Que nunca realizou o sonho de sua vida... desfilar com as joias em uma bonita soirée... no Champs-Élysées, não teve dúvidas. Foi vendendo uma a uma, todas aquelas belezas... todos aqueles sonhos... a segurança oferecida pelos pais. O papai B precisou, ele precisou mesmo. E ela sorriu, com o cantinho delicado da boquinha com batom vermelho.

A mamãe C era uma batalhadora. Sol a sol trabalhava por ela, pelos filhinhos, pela sobrevivência. Aprendeu que se tivesse vinte, guardaria dez. Ocasionalmente, alguém, no serviço, vendia joias. Joias de verdade. Brilhavam e eram belas. Representavam a recompensa e a possibilidade de agradar a si mesma e aos filhinhos. Nessa historinha não havia papai C. A mamãe C comprou, à prestação, aneizinhos, pingentes, brinquinhos. Tudo certificado. Ela tem tudo guardadinho, enrolado em uma meia, dentro de uma bolsa, fechado na última gaveta da cômoda velha. Ela sempre diz que as joias da mamãe são fruto de muito trabalho e por isso devem ser mantidas e usadas com orgulho.

A mamãe D ainda não sabe o que fazer com as joias. De vez em quando, olha para elas, alisa, veste, pensa e guarda-as novamente. A mamãe D comprou algumas, recebeu outras de herança, ganhou outras tantas. Parece que os dias tumultuados ainda não chegaram de verdade. O que será que a mamãe D fará com suas joias?

Você sabe onde estão as joias da mamãe? Não! As joias da mamãe são da mamãe e pronto!

Historinhas assim são boas para se pensar... nas mulheres, nas mamães e nas joias. Relações delicadas, relações de amor e força. Mulheres joias. São joias, morou?!

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

No detalhe...

Olha aqui... olha ali... Lembrei da Tia Clara, aquela que colecionava maçanetas, cuidando com carinho da sua coleção. Ela era atenta aos detalhes. Um pouco maluca, perdia tempo com um objeto que quase ninguém notava. Delicada e fascinante, Tia Clara
Nada como se perder nas miniaturas da vida... Fiz uma pasta com fotos de alguns detalhes que recolhemos na "viagem dos sonhos". Escolhi algumas, não vou cansar os poucos e pacientes leitores! Revendo todas, tive vontade de pegar uma flanela, tirar tudo da bolsa e polir com cuidado as minhas lembranças.



Essas imagens me fizeram parar, diminuir o ritmo, pensar no homem responsável pela tarefa de embelezar a paisagem. Estava no final do trabalho? O arquiteto já havia pensado em tudo? O dono da casa gostou? E o passante diário, será que ainda nota? Tudo tinha uma função... Ainda percebemos aquele pequeno canto da parede ou a maçaneta da porta? Acho que sim... só não prestamos atenção. O dia a dia, o fluxo, a correria, o vuco-vuco... tudo nos tira esse prazer um pouco desmiolado de olhar o pequeno detalhe!