A mamãe A guardava o dinheirinho
que caia do bolso do papai A. Eles levavam uma vida regrada... pelas leis do
papai. Tinha a hora de trabalhar, a hora de almoçar, a hora de tomar banho – e
ela sempre levava o chinelo e a toalha na porta do banheiro para o papai tomar seu banhinho tranquilo, depois
de um dia intenso, lidando com aqueles cabras das fábricas que ficavam ao redor
da venda. A mamãe A aproveitava e dava aquela olhadinha básica nos bolsos do
papai, para ver se podia por a roupa para lavar! E, de vez em quando, caia um
dinheirinho do bolso do papai. Ela guardou, guardou, guardou e, sempre que era
possível, comprava um anel de ouro com pedras bonitas do mascate que vendia de
porta em porta. Ouro bom, pedra bonita. A mamãe A gostava de coisas que
brilhavam... tinha alma de artista. Um belo dia, a coisa ficou feia... as
contas não fechavam, faltou dinheiro no caixa, precisavam construir mais um
quarto. A mamãe não teve duvida nenhuma... pegou um dos anéis e vendeu para por
dinheiro em casa. E lá se foram, outras vezes, quando novamente faltou dinheiro, as joias da mamãe.
A mamãe B era uma moça fina de
boa família. Delicada e inteligente. Casou-se com o papai B. Eram felizes e
tiveram muitos filhos. O que deveria ser o final da história é só o começo. A
mamãe B levou como dote uma caixinha de joias, presentes da mãe e do pai. “Guarde,
pois joias são nosso melhor investimento.” A mãe e o pai da mamãe B eram bem velhinhos
e vinham de uma tradição antiga de dar joias, se enfeitar com elas, tira-las, de
vez em quando, da caixinha e ficar olhando aquilo tudo, para ter certeza de que
se os dias difíceis chegassem, elas estariam ali – as joias – para o que desse
e viesse. A Mamãe B e seus filhinhos eram felizes, juntamente com o laborioso
papai B. Tinham de tudo. Não lhes faltava nada. Comida, diversão e arte. E até a certeza de que o mundo é bom e a felicidade existe! E não
é que tempos difíceis chegaram? Chegaram e a mamãe B, que nunca pode usar, de verdade,
aqueles lindos anéis, aqueles colares grossos, aquelas solitários enormes,
nunca em nenhuma grande festa. Que nunca realizou o sonho de sua vida... desfilar
com as joias em uma bonita soirée... no Champs-Élysées, não teve dúvidas. Foi vendendo uma a uma,
todas aquelas belezas... todos aqueles sonhos... a segurança oferecida pelos
pais. O papai B precisou, ele precisou mesmo. E ela sorriu, com o cantinho
delicado da boquinha com batom vermelho.
A mamãe C era uma batalhadora.
Sol a sol trabalhava por ela, pelos filhinhos, pela sobrevivência. Aprendeu que
se tivesse vinte, guardaria dez. Ocasionalmente, alguém, no serviço, vendia
joias. Joias de verdade. Brilhavam e eram belas. Representavam a recompensa e a
possibilidade de agradar a si mesma e aos filhinhos. Nessa historinha não havia
papai C. A mamãe C comprou, à prestação, aneizinhos, pingentes, brinquinhos. Tudo
certificado. Ela tem tudo guardadinho, enrolado em uma meia, dentro de uma bolsa, fechado
na última gaveta da cômoda velha. Ela sempre diz que as joias da mamãe são
fruto de muito trabalho e por isso devem ser mantidas e usadas com orgulho.
A mamãe D ainda não sabe o que
fazer com as joias. De vez em quando, olha para elas, alisa, veste, pensa e
guarda-as novamente. A mamãe D comprou algumas, recebeu outras de herança,
ganhou outras tantas. Parece que os dias tumultuados ainda não chegaram de
verdade. O que será que a mamãe D fará com suas joias?
Você sabe onde estão as joias da
mamãe? Não! As joias da mamãe são da mamãe e pronto!
Historinhas assim são boas para
se pensar... nas mulheres, nas mamães e nas joias. Relações delicadas, relações
de amor e força. Mulheres joias. São joias, morou?!