Mapa da desigualdade
Você vive até 80; você, sinto muito, até 60, se se segurar na fila do SUS.
Se segura, malandro!
A Dira Paes tem de dizer, chorando, que é amazônica. Chorando.
O Caio Blat fala de cor e salteado o texto de Guimarães Rosa... Diadorim, romance proibido.
Brumadinho, Mariana e o que mais mesmo? Queimada, tiro, morte.
Pacote econômico para você que não sabe poupar seu salário.
Pacote econômico para você que sabe poupar e empreender.
Pacote econômico para a cidadezinha qualquer que já não há.
Pacote econômico para a cidade grande que melhor vender seus parques.
Óleo, graxa, gosma, baba, muco, visgo...
Engole e não chora, falou?
12 milhões e meio de desempregados... faz um bico, empreenda.
O Corinthians coloca a estrela na camisa.
Ele, lá no SBT, menciona a saudação nazista.
Como se democratiza o acesso ao cinema? Transformando as salas de cinema em igrejas.
Igrejinhas...
Porteiros, porteiras, portas... veias abertas.
O campus Lagoa do Sino - que poético - doado, oferecido, dado de coração por Raduan Nassar para a gloriosa cidade de São Carlos, não serve. É caro. Melhor privatizar a Usfcar.
Mas, sempre podemos perguntar, como a moça da globo: " Quais são as opções aí, no Chile, para a final da Libertadores"!
É isso... só isso... nada mais que isso.
terça-feira, 5 de novembro de 2019
quarta-feira, 23 de outubro de 2019
A foto, o texto!
Acordei hoje, como tenho
acordado esses dias, procurando notícias das filhas.
Estão em viagem de férias.
Mas, com elas é sempre algo maior do que uma viagem de férias.
As duas iniciaram essa
viagem há muito tempo, pesquisando, lendo... sentadas aqui na minha sala,
conversando, brigando, entendendo que cada uma delas é um ser diferente e igual
ao mesmo tempo. Realizando, então, um sonho único.
"A Ìndia fui em férias passear" dizia aquela música bobinha que tocava na rádio nos anos 60 e
elas resolveram que era um sonho possível!
Hoje, logo
cedo, chegou uma fotografia de Varanasi... aquela cidade que vemos nos filmes.
Cremação, Rio Ganges, figuras exóticas à beira das escadas, em constante estado
zen... Nada disso está na foto.
A foto mostra
um edifício com tons vermelhos, volteado e abraçado por uma árvore com braços
fortes, robustos. Um edifício que se deixou abraçar e sobrevive, que se
alimenta daqueles troncos e nos diz que juntos continuarão a existir nos tempos
que virão, além de nós.
A legenda que a filha colocou diz:
"Este é
um daqueles lugares com uma energia tão forte e palpável, que esta foto é a
descrição mais precisa que eu poderia dar".
Quase no mesmo momento, leio uma postagem de uma amiga virtual, em
estado de tristeza que muitos estão sentindo, por todos os motivos que sabemos.
Minha emoção uniu os dois eventos.
Sinto que a foto me impeliu a dizer... fique firme, amiga, a Natureza está aí e estará depois de nós, abraçando
as ideias, nos dizendo que sobreviveremos.
As
ideias, mais que tudo, sobreviverão e sempre haverá alguém que, acreditando
nelas, vai realizar algo admirável.
É isso,
terça-feira, 4 de junho de 2019
Minha mãe, a missivista social!
Nesse momento da vida, aos 89
anos, ela ainda tem o mesmo ímpeto de participação na vida social e política
que sempre teve.
A cada 15 dias, vamos até a
Penha, para ver a casinha e o quintal que teve de deixar, por conta da
insegurança. Invadida por ladrões de botijão de gás, TVs velhas e outras
quinquilharias, tivemos de tirá-la de lá.
Na volta, passamos pela Avenida 23
de Maio. Por lá, perto do acesso à Av. Paulista, um grupo de moradores de rua,
usa um ponto de agua, para lavar a roupa, tomar banho. Parece uma mina d’agua.
Parece um cano estourado. Sabe-se lá.
O fato é que faça frio ou faça
calor, eles estão lá. Tentando manter aquele fio de dignidade humana. Um fio
esgarçado, quase arrebentado, como os corpos daqueles homens e mulheres que
vivem na rua.
Há alguns dias, minha mãe vem
esboçando uma carta a ser enviada ao Excelentíssimo Sr.º Prefeito da Cidade de
São Paulo, Sr.º Bruno Covas. Ela sabe usar os pronomes de tratamento adequados.
Vem, no carro, falando em voz alta, como será a carta.
Quer pedir que ele construa um
tanque ou pia, ou coloque um chuveiro para aquelas pessoas. Eu argumento que o
pedido ao prefeito deveria ser outro. Que deveria pedir que essas pessoas
fossem atendidas com dignidade pelo serviço social público. Que ações mais
positivas poderiam ser tomadas pelo alcaide.
Mas, para ela,
e eu entendo perfeitamente, a urgência é outra. Trata-se de ali, naquele lugar
que eles descobriram, pelo menos ali, ela pensa, poderia haver um pouco mais de conforto,
para quem tem uma vida tão miserável. Eu entendo a humanidade do pedido. O “prefeito”
não lerá essa carta. Algum assessor lerá com certa atenção? Quem sabe?
Essa tem sido
atitude de minha mãe, perante a própria vida e a vida social. Ela acredita em
participação. Vota sempre em todas as eleições. Nunca deixou de exercer a
cidadania que tanto lutou por conseguir, na vida de luta por formação,
trabalho...
Olhando seus
guardados, papéis velhos no meio de livros, encontro respostas às cartas
enviadas, em momentos diferentes da vida.
Minha mãe, a “mosca
de boi”, como ela mesma se define, nunca deixou pra lá, quando acreditava na
pertinência do pedido. Foi assim a vida toda e não é diferente agora.
Uma das
melhores histórias é a do pedido de transferência de setor, quando prestou
concurso para trabalhar na USP. Lotada no restaurante, ficou lá uma semana e
logo percebeu que não era para ela. Pediu e foi trabalhar nos apartamentos dos
alunos que vinham de todas as partes do Brasil, para fazer pesquisa de Mestrado
e Doutorado. Lá ficou até resolver que queria mais. Pesquisou, por conta
própria, uma vaga em outro departamento e achou a vaga perfeita na Biblioteca
do Instituto Oceanográfico. Escreveu
carta, elaborada por ela mesma e enviou. Fez a entrevista, diretamente com o
diretor do setor, sem medo. Como ela conta, olhando diretamente nos olhos de
quem, para ela é tão importante como ela mesma. Ficou 10 anos, trabalhando com alegria
e leveza. Fez curso de auxiliar biblioteca, foi fazer inglês, para ler os
títulos que os professores pediam. Esteve onde quis estar, porque não teve medo
de requisitar o que merecia.
É isso, legal né?!
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domingo, 2 de junho de 2019
Onde?
Sorrateiramente, nas salas de aula, esconde-se o
conhecimento.
Entre as prateleiras das bibliotecas, no vão dos corredores,
ficam nas mesas de leitura, os livros lidos.
Nos seminários abarrotados, nos auditórios barulhentos, nos
laboratórios com todos aqueles odores ácidos, estão aqueles seres estranhos que
resolveram pesquisar, ler, estudar horas e horas.
Longe dos corredores e salinhas de xerox, dos centro
acadêmicos, mas lá também.
E durante a semana de aula e nos fins de semana, escondidos
nos apartamentos divididos, compartilhados, eles estão... etéreos, enigmáticos,
sonhando soluções e testando saídas diferentes.
São meninos e meninas que batalham todos os dias para
encontrar aquele que está, quase sempre, escondido... o conhecimento.
Você pode encontrar essa moçada.
Você pode ver essa moçada.
Você pode, se fizer um varredura fina, observar essa moçada.
Onde?
Onde o seu próprio conhecimento os escondeu.
Quer que se revelem? É só olhar com olhos atentos. Com a
mente aberta...
Eles estão lá, por nós...
É isso,
É isso,
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quinta-feira, 24 de janeiro de 2019
Comida para quem precisa... memórias de uma menina gulosa!
A D.ª Augusta passava um caldeirãozinho
de feijão, temperado com uma folha de louro, por cima do muro do quintal. Esse
gesto está tão claramente desenhado na minha memória, assim como o perfume
daquele feijão que tantas vezes nos deu de comer. Éramos duas crianças em casa,
esperando a mãe voltar do serviço e o feijão do caldeirãozinho era fundamental.
Que delícia, esticar o corpo, diante do muro alto, entrever a parreira cheia de
cachos de uva pequena, dura, verdinha e azeda. Esticar as pernas e ver aquela
figueira, a horta de couves e tomates. Sentir o cheiro gostoso que ficava
depois que seu Augusto regava aquela plantação que tanto me dava prazer. O
feijão vinha, às vezes, quentinho, com um pedaço de pão. Refeição completa! É um
sabor que não esqueço e nunca vou esquecer. Boa lembrança da infância na Rua
Corondá nº 35.
Um dia da semana, tinha feira na “rua de trás” e eu adorava passear pela
feira, antes de descer o morrinho, para ir ao Theodomiro Emerique. Passava a
mão nas roupas penduradas na barraca de roupa, gostava de sentir o cheiro molhado
na barraca de cheiro verde e da barraca de bananas, com aqueles amarelos e verdes
e pintas marrons - bananas tão saborosas. Os japoneses já me conheciam... tinha uma amiga
japonesa, filha de donos de uma banca de bananas, que morava perto da minha
casa. O depósito de bananas com seu úmido perfume de fruta me deixava muito
feliz. De vez em quando, ganhava uma banana para levar de lanche.
É isso!
Deste mesmo endereço, eu saía
toda manhã, para ir ao grupo escolar. Tomava café, comia o pão com margarina
Saúde.
Um dos episódios de que me lembro
bem, desta passagem alegre pela feira, foi o dia em que, finalmente, ganhei um
pedaço de linguiça defumada, para juntar ao meu lanche daquele dia feliz! Eu
sempre passava pela barraca dos queijos e linguiças, quase sonhando, quase
sendo levada por aquele perfume defumado e gostoso de coisas impossíveis de
ter. O dono da barraca deve ter percebido que aquele dia, em especial, eu
estava com uma vontade danada. Ele, gentilmente, corta um gomo daquela
gostosura e me dá de presente. Sai dali, pulando feito um cãozinho feliz, com a
cauda abanando, mostrando a todo mundo que eu tinha ganhado um premio e tanto.
Hoje, pensando neste texto que
escrevo agora, imaginei que se ele deu aquele pedaço de iguaria, sem pensar, só
por dar, ou se ele pensou “coitadinha, parece um cãozinho faminto”... não fez a
mínima diferença. Eu estava mesmo, como um cãozinho feliz e acho que essa é uma
das expressões mais perfeitas de felicidade. Escrevo isso, de coração leve...o
que aliás, sempre tive em relação a essa infância, aparentemente difícil.
Na “rua de trás” ficava a venda
do japonês que vendia na caderneta. Quantas vezes, ele quebrou o galho das
mulheres da Rua Corondá. Quantos litros de óleo de tambor vendeu, para que
fritássemos os ovos das patas e galinhas que tínhamos em casa. Que trato
comercial fabuloso era aquele. No começo do mês, todas as mães iam à vendinha
do japonês pagar a conta. Às vezes saldando tudo; às vezes, deixando um
restinho para o mês que vem.
Quando no sábado de ver o pai,
meu pai me dava uma mesadinha, a primeira coisa que fazia, na segunda feira,
era passar na venda do japonês e pedir um lanche para levar à escola. Ouço,
perfeitamente, a serra da faca, passando naquele filão tostadinho que acabara
de chegar à venda. O filão era posto na vitrine, forrada de papel marrom, cheia
de migalhas. Ele serrava o pão e eu já ficava alegre, porque, em seguida, vinham
as fatias de mortadela! Sem a marca, que hoje parece fazer tanta diferença. Era
uma mortadela untuosa, vermelhinha, cheirosa. E como combinava com aquele pão!
Na escola, às vezes tinha pão com
carne moída ou arroz doce quentinho e com canela – ou será que era só o perfume
da canela que me inebriava? Hora do recreio, hora em que víamos a diferença de
classe. Lanches bem embrulhados, saindo de belas lancheiras de metal. Lanches simples,
saindo de lancheiras de plástico. Sucos de laranja, laranjadas bem clarinhas e
muito doces. Um docinho de sobremesa... um nada que dava água na boca.
No tempo seguinte da minha
infância, no tempo da Rua Heloísa Penteado, rua de nome bonito, as lembranças
de um lanche de bife à milanesa, na tarde de domingo, sempre me acompanharão. A
mãe da amiga de quintal, dona do nosso cômodo e cozinha era quem preparava esse lanche
divino. Ela também nos abastecia com as sobras da semana. Como cozinhava bem
nossa locadora! Quantas vezes, vinham docinhos de uma festa em que não estive,
quantas vezes vinham pedaços de torta do café da tarde! Tudo uma delícia!
A lata de brigadeiro na casa do
meu amigo de classe na quinta série! Inesquecível! Ele era o menino mais bonito
da sala e eu me lembro de quando fomos visita-lo, porque ficou acamado com
hepatite. Quando tivemos permissão da visita, a mãe para nos agradar, nos
ofereceu brigadeiro, saindo de uma lata enorme. Eu ficava só pensando, quem faz
tanto brigadeiro só para ter em casa e oferecer aos amigos do filho deve ser
uma pessoa muito boa.
Memórias gustativas, memórias
afetivas.
Minha infância e adolescência de
menina que viveu sempre com pouco, não são memórias tristes. São memórias de
solidariedade, de compartilhamento, de amizade e percepção do mundo, por meio
de uma das coisas mais importantes para a humanidade. Pão para quem tem fome. Minha fome era uma fome infantil
e alegre.
Agradeço a todos que a saciaram!
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sexta-feira, 11 de janeiro de 2019
... uma tartaruga bem em cima da cabeça!
Nem nossa opinião, nem nossa indignação.
O que sabemos, lemos, pensamos e acreditamos, é só um
perfume que se perde.
É só um pensamento que se esquece
É só uma vaga no oceano.
Eles, seja lá quem forem, só tem interesse real naqueles que
não sabem.
São os que não sabem e nem tem como saber que importam.
São eles que dão os votos necessários.
Que levam as falas mais abjetas a todos os cantos da mídia.
São eles que riem à larga, das bobagens e pagam a pizza, a
conta, a esbórnia.
São eles que nunca vão entender nem de cá, nem de lá.
Não vão entender.
E, se algum deles escapar do círculo em
que estão, logo será enquadrado, laçado, “pega, mata e come...”
Ainda que alguns, unidos e cheios de esperança, consigam ver
além da cerca, nada nem ninguém conseguirá impedir a matança no curral.
São forças ancestrais, forças que nunca foram de fato
impedidas a não ser por curto espaço de tempo, em poucos lugares da terra.
Continuamos fazendo o de sempre... tentamos conquistar o
mundo.
Continuamos fazendo o de sempre... nos encontramos em
grupos, trocamos ideias. Temos esperança... é a parte que nos cabe neste latifúndio.
Se há uma seara, ela esta na arte, na literatura, cinema,
música, teatro... na arte.
Interditada aos do cercado, permitida a poucos que
conquistaram a duras penas o direito de fruir um pouco dela... só um pouco,
nunca ela toda em sua grandeza verdadeira. Só nos sonhos... nas mídias – nova quimera
- nunca ao vivo. Se ao vivo, com muita, muita luta e tempo dispendido.
“Mas, quando o destino intervém (como os atenienses gostam
tanto de nos lembrar naquelas tragédias que eles vivem levando à cena com tanto
dispêndio de dinheiro) não há nada a fazer. No auge da fama de um homem careca
uma águia fatalmente lhe soltará uma tartaruga bem em cima da cabeça!” (in,
Criação de Gore Vidal).
Para um pouco mais de Gore Vidal...
É isso, só issmo mesmo!
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