segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Conversa fiada.

" Os Évengiles des quenoulles (Evangelhos das rocas) do século XV mostram quão fluidas podiam  ser as leituras informais. O narrador, um velho letrado, "uma noite, depois da ceia, durante as longas noites de inverno entre o Natal e a Candelária", visita a casa de uma anciã, onde várias vizinhas reúnem-se amiúde para "fiar e conversar sobre muitas coisas alegres e sem importância". As mulheres, observando que os homens de seu tempo "escrevem incessantemente pasquins difamatórios e livros infecciosos contra a honra do sexo feminino", pedem ao narrador que frequente suas reuniões - uma espécie de grupo de leitura avant le lettre - e funcione como escrivão, enquanto as mulheres leem em voz alta certos trechos sobre os sexos, casos de amor, relações entre marido e mulher, superstições, costumes locais, bem como tecem comentários sobre eles de um ponto de vista feminino. "Uma de nós começará a leitura e lerá alguns capítulos para todas as presentes", explica uma das fiandeiras com entusiasmo, " de tal forma a prendê-los e fixá-los permanentemente em nossas memórias." Durante dias as mulheres leem, interrompem, comentam, fazem objeções e explicam, parecendo divertir-se imensamente, a ponto de o narrador achar a descontração delas , cansativa, e, embora registrando fielmente suas palavras, julga que seus comentários "não têm rima nem razão" O narrador, sem dúvida, está acostumado com as dissertações escolásticas mais formais dos homens.( in, A leitura ouvida - Uma história da leitura, de Alberto Manguel)

Não é mesmo muito bom ter um grupo de leitura? 



 Faltam aqui duas integrantes... Márcia e Val. Puro acaso - atraso - descaso (?) - tecnológico... não consegui baixar as fotos recentes.

Nossas conversas fiadas estão cada vez melhores e há tempos não precisamos de um narrador... Elaboramos, nós mesmas, as nossas dissertações escolásticas, gastronômicas, turísticas, cafeeiras e as demais, aproveitando, também, nossa apreciação dos gêneros da cultura pop! 

A anciã citada no texto...aquela do século XV... bom, ela nunca está presente, pois o Tai-chi é no mesmo horário dos encontros do nosso grupo!

Conversa fiada de qualidade! 



No dia 03/11 finalmente consegui o cabo para baixar as fotos... e aqui estão as integrantes que faltavam...







domingo, 21 de outubro de 2012

Paisagens...

Quantas paisagens busquei, com quantas sonhei e ainda sonho. Uma das maneiras mais deliciosas de, finalmente, pertencer a uma paisagem se dá quando leio, quando vejo um filme... quando, acontece aquele instante único em que saio do sofá, da cama, da cadeira dura da cozinha ou, sei lá, até do banco do metrô e vou, num transporte sobrenatural, para a paisagem descrita, fotografada, presa no quadro. Tudo fica vivo e meu desejo infinito de viajar é satisfeito.

Quando vejo, por exemplo, os filmes de Luchino Visconti acontecem coisas formidáveis... posso, ir a Milão com Rocco e seus irmãos, ou passear pela bela vila onde todos vivem com Violência e paixão e, finalmente, ir a Veneza, cruzar uma ponte, encontrar Marcelo apaixonado nas Noites brancas, pena que não por mim! Ele estava lá, antes de eu chegar e, certamente, alguém já havia conquistado seu coração! E por mais que eu o ame, sempre é mais forte meu amor pela paisagem...

Nem sei quantas vezes caminhei pelo Central Park... e pelas ruas de uma das cidades mais fascinantes, segundo meus sonhos.. Yes, Im walking here...  



E os famosos apartamentos com a escadinha para fora? Busquei um para morar, enquanto assistia Cat People, de 1942!... mas eu não queria aquele de cima... os que sempre me atrairam eram aqueles da parte de baixo... mais misteriosos e aconchegantes! Cena perfeita? Caminhar, tarde da noite, na rua úmida e chegar em um daqueles conjuntos de apartamentos, descer a escada e abrir a porta. Lá, um sofá, um abajur, um fogão diferente do meu aqui de casa... um bule de café... jogar o sapato de salto alto para o lado...e suspirar fundo! Tudo muito cinematográfico! Perfeito!

Quantas paisagens visitei, caminhos, praias, cidadezinhas...estive na Russia, na Espanha, na Grécia e Japão... em tempos distintos, com pessoas diferentes.

Completamente envolvida... a arte exercendo o fascinio absoluto, sem que possamos resistir... em:


E agora... lendo Proust, estou em um desses momentos mágicos! Muitos apelos diferentes... memórias, imagens... fica aqui uma tela que acabo de conhecer. Já sonhei com esse lugar antes... o país, a história... a paisagem!

Quem me acompanha nesta viagem?


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Um caso de amor

Gente que lê é complicada. Às vezes, nos apaixonamos por personagens, por lugares que não existem, por lugares aos quais dificilmente iremos... e, às vezes, pelos autores mais improváveis. Já estive apaixonada pelo Fávio Rangel... cabelos brancos, em caixinhos maravilhosos... e aqueles textos fantásticos na Folha de São Paulo em que escreviam... Drummond, Sabino, Sábato Magaldi. Outros tempos, deixa pra lá! Mas o Flávio, como era lindo... e que textos. Falava de teatro, de gente, de política, de tudo... e eu, apaixonada. Comprei um livrinho de crônicas escolhidas que fica por aqui como lembrança de um amor não correspondido. Também fui apaixonada por Carlos Heitor Cony. Imaginava aquele homem na juventude, com aqueles textos absurdamente sedutores... não, nada de sexo, drogas e rock and roll. Só a sedução da palavra... um tom, um ritmo. Ouvir o Cony... sei lá, o tom de voz dele, combinava tanto com o texto. Vocês devem estar pensando...o Cony, aquele velhinho simpático de bigode, amigo do JK? Fantasiava um encontro... conversa longa, com a gatinha  Mila no colo, tomando café... Pois é, gente que lê é estranha. Agora estou na fase do enamoramento com Ruy Castro. Ah! Aquele vida cafajeste e inteligente que ele, às vezes, descreve. Moço bonito, doidão.. agora é um senhor, fascinante! As biografias... que todos conhecem. E eu me apaixono pelo Ruy Castro que ama o cinema, que ama viajar e ler. Que felicidade os dois livros que ganhei da filha!













E as crônicas no jornal... gosto sempre, mesmo das não tão boas. Inveja da Heloisa Seixas! Passeando com o Ruy Castro pelos lugares mais encantadores... compartilhando as histórias. Já tive a oportunidade de tietar... buscar autógrafo... tirar fotografia com ele e acabei de acompanhar um debate a respeito do cinema de Nelson Rodrigues. Sentei bem no meio da fileira, aproveitando cada intervenção. Também porque lá estava outro dos meus amores... o chato do Rubens Ewald Filho, meu crítico de cinema! Ele é chato, pois ama o cinema acima de tudo... meu melhor momento com ele foi em uma entrevista, quando descreveu como via os filmes em casa, para estudar... uma insanidade! Tudo ao mesmo tempo! Gente insana é fascinante. Ah! O Ruy! Está envelhencendo, repete histórias, precisa da Heloisa para lembrar de algumas. E eu apaixonada, cada vez mais. A melhor descrição a respeito do Marlon Brando... dirigindo as ondas do Pacífico, estourando todos os prazos da produção, enlouquecendo o mundo enquanto pensava em seu filme, A face oculta
Como não se apaixonar por alguém que usa essa foto, com essa legenda...

(Katharine Herpburn cai num canal em Quando o coração floresce. Um turista paciente é capaz de descobrir o lugar exato desse mergulho no filme)

Coisas que amo muito estão aqui... cinema, Veneza, fotografia, turismo cultural... o o adjetivo paciente, completamente estranho, pois se há alguém que não é paciente é um turista cultural, procurando o exato lugar de uma cena de filme, de uma descrição de livro ou de uma livraria famosa. Quem nos acompanha é que deve ser paciente. 

Pois é, estou apaixonada... "Dear Mr. Gable"

... e ainda nem falei do Alvares de Azevedo, que eu namoro lá no salão nobre da Faculdade do Largo São Francisco!
 


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Companheiras

Às vezes, não estamos juntas nas viagens, mas lembramos uma das outras o tempo todo. A Paula fez a sua viagem dos sonhos há uns bons anos. Em uma das visitas, esteve na Espanha. Andou pelos muros das cidades medievais. Viveu o sonho de sentir que sim, era tudo verdade aquilo que leu e estudou tanto, no seu tempo da faculdade de História. Aliás, é uma sensação deliciosa, ver a casa de um dos seus autores prediletos, aquele lugar onde esteve, sentou e tomou o café; o lugar onde ocorreu aquele fato que intrigou, emocionou e nunca mais você esqueceu. É claro que, na Itália, deu com uma passeata contra a Guerra do Golfo! É claro que não perdeu a oportunidade de se manifestar... ela é assim! E voltou com um presente... um cartaz que comprou para ajudar na caixa da campanha. Companheira, sempre.

Ganhei uma sacola com o cartaz do filme "E o vento levou" - até ouço a trilha sonora, cada vez que que pego minha sacola e saio por aí, louca para que as pessoas digam: "que linda, onde você comprou?" E aí, posso dizer: ganhei! Minha amiga foi ao sul do Estados Unidos e lembrou de mim! Prosa...

Veio uma casinha de pedra lá de Paraty, e mais uma de Conservatória e outra e mais outra... ganho as casinhas, porque agora me deu vontade de colecionar. E minhas companheiras sabem disso!

E a bolsa para livros que chegou de Giverny?  Ser professora, com referências é outra coisa, não é?

Tenho um lenço italiano que me deram há... muitos, muitos anos. Já nem encontro mais a companheira que trouxe o presente. Uso, de vez em quando. Saudades.

E é claro que também ganhei uma miniatura da torre Eiffel!  "Estive em Paris e lembrei-me de você!" Por que não? Adoro... está aqui no escritório, bem em frente da fotografia da torre feita pela Thaís.

São todas importantes... essas lembranças! Lápis, marcadores de páginas, cartões postais, potes de doces...




Ficam por aqui, e quando topo com elas, lembro das amigas... compartilhando sonhos, livros, viagens!