segunda-feira, 28 de julho de 2014

Conversas...




O recepcionista do Hotel Sempione em Milão:
  • Entende Latim?
  • Xi... estudei Latim há muito tempo. Nos anos 70 na graduação.
  • Êh... (um certo ar de reprovação)
No dia seguinte, eu não me aguentei e tasquei:
  • Pulvis et umbra sumus!
O moço na lojinha de vidros de Murano:
  • Estão fazendo um "giro in Itália"?
  • Sim... viemos de Milão e passamos por Verona.
  • Que lindo... sabe, trabalho aqui há 20 anos... faço esses bichinhos de vidro.  Eu mesmo nunca fui a Roma. Vocês vão para lá?
  • (um pouquinho triste) Vamos... mas a vida real é assim. Eu nunca fui a Foz do Iguaçu (como se todo mundo soubesse onde fica Foz do Iguaçu). Quem sabe um dia você vai. Nós planejamos uma vida para ir a Roma.
  • Ele sorriu... e cobrou o souvenir.
A senhorinha na estação Milano Centrale:
  • Tenho uma casa aqui e outra perto de...
  • A senhora é religiosa?
  • Não, só gosto de viajar. 
 A moça do B&B em Roma:
  • Aqui os guarda-chuvas e aqui os guarda-sóis. O sol em Roma é de matar!
  • Ok.
  • Ok!Ok!Ok!
  • Falo um pouco de italiano...
  • Ah...
O garçom na Cantarini:
  • Como vocês ficaram sabendo da cantina.
  • Fizemos pesquisa.
  • Huumm... estou aqui desde os 6 anos de idade!
  • Por isso, nós viemos!
Sergio Guzzi, em Florença:
  • Brasileiras?
  • Sim.
  • Alemanha. (mas foi a melhor refeição que fizemos. Pena que fecha no domingo)
A atendente na sorveteria:
  • Uma bola ou duas?
  • Uma.  
A atendente na sorveteria:
  • Uma bola ou duas?
  • Uma.
A atendente na sorveteria:
  • Uma bola ou duas?
  • Uma.  
A menina no vai e vem da rua :
  • Mami, mami... quero este!
  • (nós) Mami, mami, mami (... que divertido...) mami, mami...


sábado, 26 de julho de 2014

Bel Canto!

A Mariana comprou ingressos para nós três na Arena Verona, Aida, de Verdi! E para ela mesma, um presente mais que especial... uma apresentação da Così fan tutte, no Teatro alla Scala, de Milão, regida por Daniel Barenboim! Itália, ópera, teatro, canto lírico... claro, não podia faltar de jeito nenhum! Chegamos a Milão e fizemos uma visita ao Museu do Scala. Retratos dos principais artistas, biblioteca, recordações das grandes apresentações... chamou muito a atenção a exposição do resultado de um trabalho feito com crianças do primeiro grau. Pelo que vimos, elas assistiram a uma apresentação - Nabucodonosor - estudaram e depois representaram o que aprenderam em maquetes, desenhos, bonecos... belo trabalho! Também vimos, por uma porta de balcão aberta, um trechinho do ensaio da ópera. Uma preparação para o que viria à noite. Enquanto a Mariana estivesse no espetáculo, eu e a Thaís ficaríamos zanzando e depois nos encontraríamos num lugar específico para o jantar. O lugar era o Papà Francesco , perto do teatro. Andamos mais um pouco, vendo a cidade, tiramos foto em frente ao teatro, sentamos ao lado do Leonardo da Vinci, na praça em frente, rimos muito, tomamos sorvete...  À tarde, ela foi para o hotel se preparar para o "Teatro Alla Scala"! Tudo certo, certo? Mais ou menos... naquela tarde os artistas do teatro entraram em greve!

Sciopero Così fan tutte venerdì 27 giugno
La Direzione del Teatro è spiacente di comunicare che, a causa dello sciopero indetto dalle Segreterie Territoriali di Milano e dalle Rappresentanze Sindacali Aziendali del Teatro alla Scala di SLC-CGIL, FISTEL-CISL, UILCOM-UIL e FIALS, la recita dell’opera Così fan tutte prevista per domani, venerdì 27 giugno, non avrà luogo.

 Ela só ficou sabendo, quando foi buscar o ingresso na bilheteria que fica no metrô! Como assim? Greve? "Mas eu acabei de chegar do Brasil!!!" E nós, eu e a Thaís, só ficamos sabendo, quando encontramos a Mari com a mesma roupa da tarde - sem o pretinho e sem a sapatilha dourada, comprados especialmente para a ocasião! Eu pensei que tinham roubado nossa mala, a Thaís pensou que ela era muito preguiçosa para nem se trocar... ninguém pensou na greve, claro! Com meu italiano recém tirado da mala, contei o que acontecia para o garçom, uma figura simpática que observou nossa conversa... de como o garçom do Papá Francesco tentou consolar a filha com um delicado cartão postal em que escreveu umas linhas bonitas; de como ele garantiu que escreveria ao Corriere della Sera reclamando da grave; de como vimos muito casais vestidos para a ocasião passarem por nós e voltarem tão desiludidos como nós... posso dizer que são cenas de um espetáculo que nunca vou esquecer!
Isso é tudo? Não, a história do bel canto na Itália continua, inacreditavelmente, continua... De Milão, para Verona! Dia lindo, de verão, as três lindas e felizes... fomos fazer um lanche maravilhoso antes da Aida, de Verdi! Jogo do Brasil, salada Caprese, cerveja... uma família italiana ao nosso lado super simpática com quem tentamos conversar um pouco, também ia à ópera. Um grupo de brasileiros bem típico, quer dizer, aquele grupo que fala alto, faz piadas cretinas, e engraçadinhas... tudo como deve ser! Entramos na arena, subimos bem alto, sentamos, olhando ao redor para ver o público de russos, espanhóis, americanos, italianos, brasileiros, todos felizes da vida com a perspectiva de um belo espetáculo. Já sentiram o clima? Estão pensando no que poderia acontecer? Pois, é... quando uma menina entra carregando um gongo chinês, todo mundo aplaude. Ela está lá para começar a marcar o tempo que faltava para o início do espetáculo - as famosas três batidas de Moliére -, no exato momento, e eu não estou inventando... no exato momento... cai uma chuva espetacular! Aconteceu a mesma coisa, uma, duas, três vezes - é isso mesmo - três vezes. Todos saiam do palco, esperavam a chuva parar, ela parava. Limpavam o palco, ela recomeçava! Três vezes... sempre depois do gongo chinês... Parecia coisa tramada pelos deuses do teatro!
O que era para começar às 21h, começou às 23h! Molhadas até a alma, compramos um cobertor - uns meninos bonitos vendem cobertores para o frio na faz na arena, quando começa a ventar e começou. - Tomamos um vinho ruim para aquecer um pouco... rimos muito e vamos lá... três horas de bel canto! Música sublime; cantores sublimes; encenação... daria outra postagem! Modernizar Aida - preciso de ajuda para entender algumas dessas tentativas duvidosas - para quê? Para que colocar uns crocodilos de plástico, nadando para cá e para lá perdidos no Nilo, tentando comer o pobre Radames? Eu olhava para a Thaís, cúmplices na umidade e no frio... mas nós ficaríamos ali, até quando a Mari quisesse, custasse o que custasse - lembram da greve no Alla Scala? Mas foi demais... com todo amor que ela tem pela ópera, com toda vontade de ficar até o fim, não deu pé! Fomos embora antes dos final de último ato! Nós e mais uma porção de pintos molhados...

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Gucci ou H& M?

Em Florença andamos muito... bom, parece óbvio, mas vale repetir, andamos muito mesmo! Tínhamos um tempinho sobrando e o Museu Gucci estava bem ali, naquele canto bonito da Piazza della Signoria. Tinha sido um daqueles dias em que entramos nas lojas para comprar alguma coisa. Era época de liquidações! A Milene tinha dado algumas dicas e achamos melhor aproveitar. Agora, era hora de descanso e, bem, ali estava aquela oportunidade de conhecer a alta costura e outras realizações de uma das marcas mais famosas da Itália. Decididas, entramos. Toda a história da casa Gucci contada em módulos lindos. Malas, vestidos, lenços, bolsas, carros, conjuntos de caça e montaria. Um trabalho e arte e beleza. Quanto aprendemos nesses museus... Subimos escadas, entramos em sete salas diferentes. Na sala escura, esperamos até que, de repente, a luz revelasse um dos tantos vestidos espetaculares! As fotos nas paredes dos corredores eram de pessoas bonitas, atores e atrizes do cinema mundial, modelos de uma época em que ser modelo era algo realmente elegante. Lindo! Tudo lindo! Na lojinha do museu, bom... na lojinha do museu vimos os livros, as bolsas, os lenços. Tudo lindo, muito lindo mesmo! Saímos da visita nos sentindo bem... e então, a Mariana começa a rir e diz: " Pqp, agora me dei conta que fiz a visita toda segurando uma sacolinha da H&M - aquela loja de departamento que estava em liquidação, em que compramos, pela manhã, umas blusinhas -, que merda!" Eu ri muito e disse que foi por isso mesmo que tinha jogado a minha sacola fora e tinha colocado tudo na de pano que carregava para baixo e para cima todos os dias, mas que era mais bonitinha! Queria garantir o mínimo de distinção na visita ao Gucci! Bom... vamos encarar, a coisa é assim. Não dá para escolher, mas dá para apreciar.


quinta-feira, 17 de julho de 2014

Francisco!

Um dia em Assis é um dia alegre!


Andar pelas alamedas da cidade medieval, descobrir o traço romano nas edificações - o poder da igreja, tentando apagar a presença pagã - fazer o percurso das igrejas franciscanas... Poder orar no lugar onde repousa a lembrança de Francisco. Para mim, é uma experiência muito mais que histórica, de fé ou imaginária. É como se fosse a  busca de algo que permaneça no homem, algo representado pela vida de Francisco de Assis, um modo de viver que não perturbe a alma humana, que não contamine as relações. Algo ingênuo, infantil, menos cínico, mais amoroso. 

De repente, a moça se ajoelha frente à tumba daquele homem tão feinho e insignificante e abre os braços numa comoção de prece, absorta e enlevada. Está só, nem imagina as pessoas que estão ao seu redor - chineses, russos, americanos, portugueses, brasileiros - todos tirando fotos, acendendo velas de mentira. Ela pede algo importante, ela precisa e acredita na prece que faz! Eu me conecto imediatamente. Inicio minha própria oração, comovida por muitas lembranças. Agradecida por toda a minha vida. Essa vida que chega agora aos 57 anos, acompanhada das minhas filhas nessa viagem espetacular. Agradecida por tantos e tão diferentes amigos. Por todos que já passaram pelo meu caminho. Todos a quem amei e perdi. Todos os que já estão fora dele. Todos os que chegam de mansinho e me surpreendem... Choro muito, porque esse é um momento de lágrimas verdadeiras: de gratidão, de amor, de alegria por estar aqui! Uma brisa fresca me envolve. Sinto que passa por mim um vento antigo. Aproveito a sensação... de olhos fechados, penso que esse ar percorre toda a volta do túmulo dele, recolhendo e devolvendo pedidos, preces, sonhos, esperanças. Todos nós que estamos hoje aqui, recebemos o ar benfazejo das energias que já circularam por esses corredores. Das nossas preces emanam mais que desejos, mais que angústias, mais que agradecimentos. Assim como há 800 anos, daqui há mais de 800, esse será um lugar cada vez mais especial, porque nele o espírito humano, aquela alma verdadeira, pode revelar-se, independente de qualquer crença, independente da descrença. Podemos ser gente que acredita em gente. Francisco de Assis percorreu muitos caminhos para que eu pudesse sentir a felicidade desse momento. Obrigada.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Of line

Florença 03/07/2014

Desta vez, tenho escrito pouco, pois não estou conectada todos os dias. Melhor dizendo, meus amigos não podem acompanhar de tão perto as emoções que tenho sentido, já que não fiz questão de estar conectada a todo momento. Em Milão, há um trem urbano chamado "tram al passo (d'uomo)" que me lembrou como é bom diminuir a velocidade...
É assim que estou agora... ao passo, no ritmo da caderneta de viagem. É preciso adaptação, pois estamos mal acostumados com a rapidez da net e nos esquecemos que temos um ritmo nosso, humano, nosso próprio ritmo! Chegar, olhar, sentir, pensar - como se diz hoje "processar as emoções"- e depois registrar. Talvez alguma coisa se perca, uma certa euforia ou uma suposta nitidez daquilo que sentimos, mas é bom ter o tempo de sentir e saber que podemos recuperar as emoções sentidas há um dia ou há uma semana. Gostaria que quem lesse, pudesse captar a alegria, o espanto, a surpresa do momento em que, ao virar para o outro lado, descobri a verdade daquele verso de Manuel Bandeira: "— O que eu vejo é o beco". Se para ele esse recorte da paisagem significou tanto é porque soube olhar demoradamente, procurando algo mais do que uma emoção efêmera. O contexto do poema é outro - vale a pena dar uma lida: 

"Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?
— O que eu vejo é o beco" 

Mas, para mim, nesses dias todos, olhando ora rapidamente, ora com menos pressa, descobrir o beco é descobrir como recuperar o ritmo - al passo d'uomo...Entrando na Galleria Borghese, fui andado devagar, querendo não encontrar, não antecipar o momento de ver, finalmente, os meus berninis prediletos. Assim, pude me dar o direito de olhar demoradamente para eles e me deixar levar pela leveza daqueles mármores... aqueles mármores com que sonhei desde a primeira vez que abri a coleção Mitologia... a coleção que nunca pude completar, a coleção que me mostrou o sublime que agora eu vejo... Agora sim, agora posso, com a ajuda das fotos - já que com as palavras é tão mais difícil - compartilhar com vocês.