sábado, 26 de julho de 2014

Bel Canto!

A Mariana comprou ingressos para nós três na Arena Verona, Aida, de Verdi! E para ela mesma, um presente mais que especial... uma apresentação da Così fan tutte, no Teatro alla Scala, de Milão, regida por Daniel Barenboim! Itália, ópera, teatro, canto lírico... claro, não podia faltar de jeito nenhum! Chegamos a Milão e fizemos uma visita ao Museu do Scala. Retratos dos principais artistas, biblioteca, recordações das grandes apresentações... chamou muito a atenção a exposição do resultado de um trabalho feito com crianças do primeiro grau. Pelo que vimos, elas assistiram a uma apresentação - Nabucodonosor - estudaram e depois representaram o que aprenderam em maquetes, desenhos, bonecos... belo trabalho! Também vimos, por uma porta de balcão aberta, um trechinho do ensaio da ópera. Uma preparação para o que viria à noite. Enquanto a Mariana estivesse no espetáculo, eu e a Thaís ficaríamos zanzando e depois nos encontraríamos num lugar específico para o jantar. O lugar era o Papà Francesco , perto do teatro. Andamos mais um pouco, vendo a cidade, tiramos foto em frente ao teatro, sentamos ao lado do Leonardo da Vinci, na praça em frente, rimos muito, tomamos sorvete...  À tarde, ela foi para o hotel se preparar para o "Teatro Alla Scala"! Tudo certo, certo? Mais ou menos... naquela tarde os artistas do teatro entraram em greve!

Sciopero Così fan tutte venerdì 27 giugno
La Direzione del Teatro è spiacente di comunicare che, a causa dello sciopero indetto dalle Segreterie Territoriali di Milano e dalle Rappresentanze Sindacali Aziendali del Teatro alla Scala di SLC-CGIL, FISTEL-CISL, UILCOM-UIL e FIALS, la recita dell’opera Così fan tutte prevista per domani, venerdì 27 giugno, non avrà luogo.

 Ela só ficou sabendo, quando foi buscar o ingresso na bilheteria que fica no metrô! Como assim? Greve? "Mas eu acabei de chegar do Brasil!!!" E nós, eu e a Thaís, só ficamos sabendo, quando encontramos a Mari com a mesma roupa da tarde - sem o pretinho e sem a sapatilha dourada, comprados especialmente para a ocasião! Eu pensei que tinham roubado nossa mala, a Thaís pensou que ela era muito preguiçosa para nem se trocar... ninguém pensou na greve, claro! Com meu italiano recém tirado da mala, contei o que acontecia para o garçom, uma figura simpática que observou nossa conversa... de como o garçom do Papá Francesco tentou consolar a filha com um delicado cartão postal em que escreveu umas linhas bonitas; de como ele garantiu que escreveria ao Corriere della Sera reclamando da grave; de como vimos muito casais vestidos para a ocasião passarem por nós e voltarem tão desiludidos como nós... posso dizer que são cenas de um espetáculo que nunca vou esquecer!
Isso é tudo? Não, a história do bel canto na Itália continua, inacreditavelmente, continua... De Milão, para Verona! Dia lindo, de verão, as três lindas e felizes... fomos fazer um lanche maravilhoso antes da Aida, de Verdi! Jogo do Brasil, salada Caprese, cerveja... uma família italiana ao nosso lado super simpática com quem tentamos conversar um pouco, também ia à ópera. Um grupo de brasileiros bem típico, quer dizer, aquele grupo que fala alto, faz piadas cretinas, e engraçadinhas... tudo como deve ser! Entramos na arena, subimos bem alto, sentamos, olhando ao redor para ver o público de russos, espanhóis, americanos, italianos, brasileiros, todos felizes da vida com a perspectiva de um belo espetáculo. Já sentiram o clima? Estão pensando no que poderia acontecer? Pois, é... quando uma menina entra carregando um gongo chinês, todo mundo aplaude. Ela está lá para começar a marcar o tempo que faltava para o início do espetáculo - as famosas três batidas de Moliére -, no exato momento, e eu não estou inventando... no exato momento... cai uma chuva espetacular! Aconteceu a mesma coisa, uma, duas, três vezes - é isso mesmo - três vezes. Todos saiam do palco, esperavam a chuva parar, ela parava. Limpavam o palco, ela recomeçava! Três vezes... sempre depois do gongo chinês... Parecia coisa tramada pelos deuses do teatro!
O que era para começar às 21h, começou às 23h! Molhadas até a alma, compramos um cobertor - uns meninos bonitos vendem cobertores para o frio na faz na arena, quando começa a ventar e começou. - Tomamos um vinho ruim para aquecer um pouco... rimos muito e vamos lá... três horas de bel canto! Música sublime; cantores sublimes; encenação... daria outra postagem! Modernizar Aida - preciso de ajuda para entender algumas dessas tentativas duvidosas - para quê? Para que colocar uns crocodilos de plástico, nadando para cá e para lá perdidos no Nilo, tentando comer o pobre Radames? Eu olhava para a Thaís, cúmplices na umidade e no frio... mas nós ficaríamos ali, até quando a Mari quisesse, custasse o que custasse - lembram da greve no Alla Scala? Mas foi demais... com todo amor que ela tem pela ópera, com toda vontade de ficar até o fim, não deu pé! Fomos embora antes dos final de último ato! Nós e mais uma porção de pintos molhados...

9 comentários:

  1. Estou achando o máximo você documentar as aventuras da viagem! Assim elas voltam para a gente mais facilmente depois...
    Um beijo grande.

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  2. Beijo, Andréa! Às vezes eu gosto do texto, outras não... mas o que importa é tentar retratar um pouco do vi para os amigos!

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  3. Delicioso e humorado relato escrito e oral. Bela recordação! Bjs.

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  4. As aventuras, o inesperado de uma viagem garantem a lembrança humorada de tantos momentos maravilhosos!

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  5. Isso mesmo... "o inesperado faz uma visita" e tudo fica mais interessante!

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  6. O bom humor de todas foi mantido.O inesperado fez parte das aventuras desta viagem! Que sabor tem agora!! Doces e alegres lembranças.Texto delicioso de ser lido. Estou a saboreá-lo ainda...

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  7. Bom humor sempre... foi a tônica dessa viagem!

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  8. Que linda essa arena. Eu ficaria até debaixo de gelo para assistir uma ópera ao vivo. Fiquei imaginando cada detalhe dessa aventura. Obrigada por compartilhar!
    Baci

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