terça-feira, 15 de julho de 2014

Of line

Florença 03/07/2014

Desta vez, tenho escrito pouco, pois não estou conectada todos os dias. Melhor dizendo, meus amigos não podem acompanhar de tão perto as emoções que tenho sentido, já que não fiz questão de estar conectada a todo momento. Em Milão, há um trem urbano chamado "tram al passo (d'uomo)" que me lembrou como é bom diminuir a velocidade...
É assim que estou agora... ao passo, no ritmo da caderneta de viagem. É preciso adaptação, pois estamos mal acostumados com a rapidez da net e nos esquecemos que temos um ritmo nosso, humano, nosso próprio ritmo! Chegar, olhar, sentir, pensar - como se diz hoje "processar as emoções"- e depois registrar. Talvez alguma coisa se perca, uma certa euforia ou uma suposta nitidez daquilo que sentimos, mas é bom ter o tempo de sentir e saber que podemos recuperar as emoções sentidas há um dia ou há uma semana. Gostaria que quem lesse, pudesse captar a alegria, o espanto, a surpresa do momento em que, ao virar para o outro lado, descobri a verdade daquele verso de Manuel Bandeira: "— O que eu vejo é o beco". Se para ele esse recorte da paisagem significou tanto é porque soube olhar demoradamente, procurando algo mais do que uma emoção efêmera. O contexto do poema é outro - vale a pena dar uma lida: 

"Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?
— O que eu vejo é o beco" 

Mas, para mim, nesses dias todos, olhando ora rapidamente, ora com menos pressa, descobrir o beco é descobrir como recuperar o ritmo - al passo d'uomo...Entrando na Galleria Borghese, fui andado devagar, querendo não encontrar, não antecipar o momento de ver, finalmente, os meus berninis prediletos. Assim, pude me dar o direito de olhar demoradamente para eles e me deixar levar pela leveza daqueles mármores... aqueles mármores com que sonhei desde a primeira vez que abri a coleção Mitologia... a coleção que nunca pude completar, a coleção que me mostrou o sublime que agora eu vejo... Agora sim, agora posso, com a ajuda das fotos - já que com as palavras é tão mais difícil - compartilhar com vocês.



8 comentários:

  1. Elaine, ao olhar as fotos tiradas por você, e com você , vejo bem como se sente, como se sentiu andando e conhecendo lugares tão desejados, tão esperados... As amigas viajam e vão nos trazendo , dividindo conosco , um pouco de nossos sonhos e desejos. Você em Itália , Nvea em Paris, Olívia em Espnha, Ana em Montevidéu ...assim vou viajando junto com vocês. Vou também trocando a roupa de minha alma.

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  2. Sempre gostei de acompanhar as impressões dos amigos que viajam... espero poder fazer o mesmo por aqui! Escrevi algumas coisas... tomei notas... vou colocando devagar!

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  3. As viagens nos trazem coisas incríveis, não? Reflexões, sensações e trabalhamos todos os dias para isso - para viajarmos. Um beijo, querida.
    Andréa

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  4. Pura poesia. Mais que fotografar é sentir o momento sem pressa e, tenho certeza, a sua vivência com a Itália e na Itália, ficará para sempre na sua alma. Fico feliz por você e por mim, que tenho o privilégio de ouvir e sentir as suas experiências. Beijos.

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  5. Me senti em casa... como se finalmente pudesse rever velhos amigos! Amigos em mármore, amigos em telas coloridas... amigos escondidos nas paisagens, que estavam ali só me esperando para me saudar!

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  6. Suas palavras Elaine, transmitem sim a emoção do momento na Borghese.Te conhecendo sei que o proposito da Arte Barroca que e mpressionar os sentidos através do dramatismo das formas te levou ao êxtase a cada Bernini original, com as quais sempre sonhou! Ver tb amigos a espera, para uma saudação e coisa para pessoas especiais, sensíveis e que merecem!

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  7. Obrigada, Ana! Suas palavras são sempre muito importantes.

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