sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Acaçá



Não conheço a cultura baiana... acho que como muitos só sei mesmo que acarajé é bom, que o farol está ali lindo e eterno e que a musica é especialmente importante.

Amo Caymmi, Caetano...

A literatura é forte e cheirosa.

Eu vivo aqui em São Paulo e do modo que quase todos sabem o que significa. Ser paulista é ser albaroado por todas as culturas do mundo. Se somos atentos, aproveitamos muito. A maioria vai vivendo e nem se dá conta...

Então, estou ali no show da magnífica Fabiana Cozza - Dos Santos.
Show, trabalho lindo! Todos os orixás, apresentados por melodias que me seduzem.

Aquela linguagem que conheço pouco, encantatória e poderosa...
Nomes, preces, coisas, gestos...
Acaça... ela diz acaçá e me lança para um outro acaçá. O que era? Onde ouvi? Tinha ficado reverberando em mim um outro acaçá que vai voltando aos poucos. Anoto no meu caderninho... não posso esquecer da palavra. Preciso procurar nas lembranças.



Nana... Nana... Nana Caymmi solta a voz e grava em mim a palavra que agora volta, na voz tão incrível quando a de Nana!

Acaçá... palavra, som, melodia... comida de santo!
Acaçá... som que me dá de presente o conhecimento, um pouco de conhecimento.
Acaçá... palavra, tom, som, saber.
Não sou, por um momento, paulista, paulistana... sou baiana, sou do santo, sou da música.

Sou da palavra!

Acaçá... força da palavra!

É isso

acaçá

substantivo masculino
BRASILEIRISMOBRASIL
  1. 1.
    CULINÁRIA
    bolinho afro-baiano feito de farinha de arroz ou de milho, cozido em ponto de gelatina e envolvido, ainda quente, em folhas de bananeira.
  2. 2.
    CULINÁRIA
    bebida refrescante feita de fubá, arroz ou milho, fermentado em água açucarada.

domingo, 15 de julho de 2018

De tudo fica um pouco... é impossível não ficar.

A gente vai remexendo nas bolsas, velhas amizades e família ancestral e nem percebe que alguma coisa vai aparecer, sempre aparece!

Criei um grupo de primas... retomando histórias da infância. Compartilhando lembranças bonitas de brincadeira, risos e muito carinho. Encontrei primas e primos que há muito não encontrava.

Tivemos a primeira reunião e outra já estava marcada, quando ressurge a prima Sueli. Do outro lado lado da família, ela chega me lembrando de pessoas e lugares por quem guardo um carinho especial e...

... e de repente, revejo avós,pai, tios, primos, padrinho e madrinha que estavam naquela gaveta da memória que raramente visitamos. Fotos amarelas, guardados de gaveta.





O que sentimos e ficou, durante esses anos todos?

Não sou mais a menininha da foto com o pai e o irmão. Não sou mais a sobrinha, não sou mais a neta, não sou mais a afilhada que sempre tinha a esperança de ser lembrada.

Sou uma mulher com 61 anos de idade. Tive casamento longo, tenho duas filhas, a mãe de 89 anos. Me aposentei, descobri uma outra atividade de que gosto muito. Viajei e vi lugares lindos, realizando sonhos e me divertindo muito com isso.

Sou uma amiga que tem e perde amigos. Alguns recuperados, outros dormindo no desejo do reeencontro.

Sou uma professora de muitos alunos. Alunos que se espalham pela cidade, pelas mídias, que acompanho com alegria e saudade boa.

Sou a dona da Sofia, que chegou para me lembrar de que o mundo é generoso e outros seres viventes sabem disso, melhor, às vezes, do que nós.

E, no fim da tarde de uma sexta qualquer, chega mansamente a melancolia, a tristeza escondida, a vontade de chorar.

Aos 61 anos, a menininha da foto chora, com saudades de uma família que existiu, não existindo de fato. Uma família que compartilhou festas, natais, aniversários nos quais quase nunca esteve. Quando esteve, a percepção era de ser alguém errado, alguém que, talvez, não deveria ou não merecia ter estado ali.

Nada racional, puro sentimento explodindo para fora da bolsa velha, da gaveta de memórias, das fotos amarelecidas... umas poucas lágrimas.

Menininha da fotografia.. nada de explorar essa mágoa antiga... agora é aproveitar e sorrir muito. Quanto resta de tudo isso? O poeta já disse "de tudo fica um pouco..." Pegue seu caco de pires de porcelana, do dragão partido... e vai brincar lá fora!


 É isso... nada não, só isso!

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Eu e literatura nesses últimos dias...

I - Mimetizei Fernando Pessoa, quando, aos 16 anos, ouvi uma daquelas belíssimas apresentações que Berta Zemel e Wolney de Assis levavam às escolas no período da ditadura. Lia seus poemas com a força e a crença da juventude. É engraçado dizer isso agora e dessa maneira. Ouvir de mim mesma, que acreditei em cada palavra poética e cada sofrimento e observação filosófica. Isso significou uma vida, acreditando na vida sonhada... Por isso, fui professora!

II - "Antigamente as pessoas inteligentes usavam a literatura para pensar. Esse tempo passou. (..) ... é a literatura que foi expulsa como influência séria sobre a percepção da vida. O fato de que a ficção séria não permite a paráfrase - e portanto requer pensamento - é um incômodo (...)

in, O Fantama sai de cena, de Philip roth

III - Amy... quantas vezes fui Amy, Nora, Mme. Bovary, Ana, Ahab, Zorba, Casmurro, Capitu... Quantas vezes fui literatura e não eu mesma? Sempre que possível. A literatura me amparou e me ampara nessa vida tão diferente, ou melhor no espaçõ entre a vida vivida e a imaginada. O tempo hoje é doce e bonito. Faço muito do que gostaria de estar fazendo. Ainda assim, vivo uma outra vida... a vida literária, a vida cheia de amores, medos, aventuras, viagens e realizações. Agradeço a elas, às personagens da ficção, por tudo que sempre me permitiram sentir... elas, as minhas amadas personagens.

IV - " Embora fossem inteligentes, articulados e cheios de savoir-faire, e embora Jamie conhecesse a América dos republicanos ricos e o tipo de ignorância  gerada no Texas, os dois não faziam ideia do que era a grande massa da população americana, e jamais tinha visto com tanta clareza que não eram pessoas instruídas como eles que determinariam o destino do país, e sim dezenas de cidadãos mutio diferentes deles, pessoas que eles não conheciam, as quais deram a Bush uma segunda oportunidade, como dissera Billy, de 'destruir uma coisa maravilhosa". ( in, O Fantasma sai de cena, de Philip Roth)

V -

É isso...  até mais.


quarta-feira, 25 de abril de 2018

"É sempre lindo andar pela cidade de São Paulo"

Estou aqui matutando, matutando...

Tenho visto uns fatos estranhos na cidade. Uns picham, outros limpam voluntariamente...

Uns espalham bandeiras... umas não sei quantas espalhadas pela cidade sem ninguém pedir, em qualquer lugar, inclusive na - Ponte das Bandeiras - patrimônio público.

Outros, na calada da noite, fazem o que consideram - imagino que foi por isso - uma boa ação, pintando o nosso belo Convento do Largo São Francisco.

Nesses tempos de justiça a qualquer preço que, na maioria das vezes, significa grandes injustiças, tem gente achando que sabe tudo e tem de nos ensinar, cidadania, solidariedade e patriotismo.

Não considero cidadão quem resolve invadir a cidade com suas bandeiras do Brasil, penduradas em qualquer lugar. A bandeira é linda e eu gosto dela.

Gosto de ver nossa bandeira em determinados lugares. A do Planalto Central é linda... naquela cidade tão devassada pelo que existe de pior em matéria de patriotismo, ela me lembra que o Brasil é maior que eles.

Já aquelas bandeiras, numerosas e sem significado, nas pontes da cidade de São Paulo acabam nos insultando.

Os misteriosos pintores, disfarçados de funcionários públicos devem ser uma bestas que não sabem que a parede do Convento é histórica. Aliás, não devem saber ou estudar história. Só se acham no direito de fazer algo que consideram - imagino - de bem... Cruzes... essa expressão está parecendo a bandeira invasora. De bem... como assim? Pobre dos frades franciscanos, tentando explicar o processo para restauro do edifício. Pobre da cidade nas mãos dessa gente de bem, fajutamente de bem.

E a solidariedade dos cidadãos que limparam a pichação do Pátio do Colégio? Também não concordo com a pichação. Não gosto por uma questão estética. Aquele excesso me agride. Mas é só.

Nunca vi solidariedade percorrer o Pátio do Colégio e lavar o mijo, acumulado, dos pobres miserabilizados pela condição de abandono em que se encontram.

Nunca vi solidariedade, recolhendo o lixo que as lojas teimam em deixar em todas as portas do nosso glorioso centro histórico.

Nunca vi solidariedade cidadã, recollhendo o cocô dos cachorros das madames, postos em saquinhos plásticos, jogados nos canteiros de todas as ruas dessa pobre cidade abandonada.

Estou matutando e matutando... quem essa gente fake que anda por aí, achando que povo não sabe nada? Não sabe valorizar a bandeira, não ama o Convento do Largo São Francisco, não visita o Pátio do Colégio. Quem é essa gente? Garanto que de brava gente brasileira não tem nada.

Alguns serão paus mandados, outros serão espertalhões e outros os corvos de sempre!







É isso











sexta-feira, 20 de abril de 2018

Um lugar deve existir Uma espécie de bazar Onde os sonhos extraviados Vão parar ( A moça dos sonhos, Edu e Chico )

Quase triste de tão alegre...

Fiquei quase duas horas no sagão à espera das amigas.
Com trilha sonora adequada, pude observar as atendentes se postarem, as faxineiras irem e virem, o bar ser montado, os sofás - aos poucos - serem ocupados.

Foram chegando, fazendo suas fotos, dando abraços calorosos.
Riam ao ver os amigos, tinham bengalas e cabelos brancos
Bonés para esconder os poucos cabelos

A rigor, de preto e xale
À vontade, de tenis e camisa xadrez

Tomaram cerveja
Agua, drinks fajutos
e beliscaram salgadinhos

Tudo para aplacar a ansiedade de reencontrar a juventude, a poesia, o "grito parado no ar"

Eu, pensando nessa geração, nessas mulheres fortes, de andar decidido e ideias revolucionárias, de cabelos brancos; nesses homens - meninos bonitos, galanteadores, magníficos boemios - uma geração magnífica.

Amigos, velhos camaradas, companheiras de luta, amantes apaixonados que preferiram envelhecer juntos, pais orgulhosos e seus filhos surpresos.

A moça jovem, escolheu vir só. Fazer uma foto com a cerveja em destaque e aquela selfie classica ao lado da foto do Chico.

Tanta gente, tanto mar

Vez ou outra me lembrei de mim mesma e da vida que era e já não é... da vida que é e sempre foi... da vida.

E então, elas chegaram... abraços, abraços, beijos, risos altos... fartos de alegria.

Entramos, sala cheia, enchendo, lotando, vibrando...

O Azul do cenário, o mar, a caravela a insinuar que essa vida continua, linda e bela.

Durante duas horas, foi mesmo... só a poesia, a melodia, a canção popular bem feita, a canção que será ensinada pelas professoras que ainda resistem, sendo professoras.

Durante duas horas... a beleza dessa linguagem que é portentosa, a da poesia da vida!
A que descreve malandros, amores, sambas
A que presta homenagens a quem, de fato, merece.

Duas horas...

Duas horas...

Duas horas...

Meu coração não me engana, aproveita a brevidade. Aplaude, canta junto, deixa o sol entrar.

https://www.youtube.com/watch?v=klFW6A-ECio

É isso, um texto atabalhoado de ideias e sensações... hoje é isso. Não dá mais para segurar...








sexta-feira, 6 de abril de 2018

Trata-se de uma outra coisa...


Tom Zé, com licença para usar sua placa... 



Gente de bem, gente bem burrinha, gente cínica, gente que pensa que é tudo... gente que não se enxerga e gente que sorri entre dentes; gente que vocifera, gente que rosna, gente inútil, janjões amparados por organizações paternalistas, meninos e meninas bobos e bobinhas, mulherzinhas que dirigem carrões com o celular em mãos, brutamontes e frequentadores de shows medíocres, gente que não lê, gente que vomita qualquer besteira que ouve sem pensar, gente que não pensa por pura preguiça, gente que carrega 51 milhões em mala na sala, gente que corre pela rua com.dinheiro saindo pelo ladrão, gente que pensa que só seus filhos devem vingar, gente que, gente que está babando... amém.

https://www.youtube.com/watch?v=oE8TeNwIqUI

Para deixar registrado...

É isso...

sexta-feira, 2 de março de 2018

Paixão, paixões!


Os amantes de Verona são anciões... literariamente.
Os atores, anciões... literalmente

A paixão atemporal.

Tenho visto, tantas vezes, velhos e velhas... essa gente que não se importa se dizem terceira idade, melhor idade ou qualquer outra bobagem linguistica, porque estão só vivendo sua vida bem, envelhecendo bem, não dando bola para ninguém... tenho visto que a vida está firme e forte nas atitudes e realizações deles todos, que será impossível não aprender algo de vital para minha própria vida.

D, Leonor, 94, tocou Schubert no chá da tarde. Quando perguntei desde quando ela toca piano, respondeu: "comecei aos 88".

Essa semana, Bibi Ferreira, nossa majestade, a atriz, completou 77 anos de carreira.

No palco, atuando, cantando, tocando...
Na vida, viajando, encontrando amigos, dançando, cozinhando, lendo...
Nas salas de aula..

Nas casas, ainda que com a saúde comprometida, sendo felizes na vida...

É importante prestar atenção a tudo o que estão nos ensinando.

Envelhecer não é bom. Bom seria ser sempre jovem, com a pele bonita e viva, com a vista perfeita, sem dores nos joelhos.

Diz o bom humor que a alternativa ao envelhecimento não é lá grande coisa.

Bom mesmo é ter a esperança, paixão e realizar o sonho de todos os adolescentes amantes de Verona e, na hora h, acordar do falso sono da morte e ser feliz para sempre!

Enquanto na literatura os jovens Romeu e Julieta morrem apaixonados, no palco pude ver a cena sempre esperada: Romeu com o veneno em mãos, dizendo aquelas últimas palavras doloridas e apaixonadas ser interrompido por sua Julieta, que acorda e o abraça  e, então, começam a guargalhar de felicidade... como todos nós na platéia... para toda eternidade.

Esse abraço é o início do aprendizado de piano da D.ª Leonor, é o pé de manga que minha mãe plantou aos 70, é a carreira de Bibi Ferreira... é a vida muitos velhos e velhas que estão escolhendo viver bem toda a vida possível.

Espero fazer jus a tantas verdade, espero saber envelhecer com respeito a eles todos!





Quem não gostaria de viver uma cena do balcão como essa?

É isso,




segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Abraço

Abraços adiados fazem mal
Ficamos esperando aquele abraço, o sonho do reencontro, a grande esperança...

Abraços adiados
Lembram que somos uma espécie estranha.
Vivemos em sociedade, nas comunidades, na familia e entre amigos
Agregados a tanta coisa e a quase ninguém

Abraços adiados
Representam a vida cotidiana
Feita de correria
De luta
De busca

Abraços adiados
Fazem mal

Mas, um dia... pirlimpimpim

Um dia... a magia

Um dia... a alegria

Um dia... o abraço






É isso,