sábado, 23 de maio de 2020

Testemunha ocular da história



Ouço o bordão do Repórter Esso, um noticiário histórico do rádio e da televisão brasileira que esteve no ar até 1970, na voz do lúcido e criativo Emicida. 
Ele diz que está cansado de ser “testemunha ocular da história”.

Eu entendo Emicida.

Também tenho andado cansada de testemunhar tantos fatos e fotos dessa realidade.
É muito fato, é muito pesado.
Falas, fotos, ao vivo para muitos, mortas para tantos.
Janelas, canções, panelas, discursos  - emocionados, vazios.
Revisão, posição, revelação, 
Espantos, surpresas, aproximações, distanciamentos.

Palavras vilipendiadas... terra vilipendiada... homens vilipendiados.

Sinto a mesma vontade de não ser testemunha ocular dessa história.

E estamos aqui... aqui e agora. Vivos, para noticiar, comentar, refletir.
É nosso encargo, peso, trauma, dever, destino, desígnio.

O olhar, meu olhar. Só meu.
Quem quiser, olhe comigo.




7 comentários:

  1. O que vemos e observamos nem toca mais em nós. Estamos tão maltratados, torturados pelo que vai sendo revelado, que o nosso estado é de catatonia.
    Só saímos dele, quando vem a arte nos salvar. Uma música que a amiga indica, um poema do poeta amado, uma crônica lúcida e sensível. Das reportagens, desejamos distância. Uma forma de resistirmos ao estado catatônico.

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  2. Isso... resistimos a que será que destina?! Obrigada pela leitura!

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  3. Muito bom, Elaine!
    Existe o presenciar atento e critico e o alienado. O sentimento dos que mais se atem são de alegria ou sofrimento. Hoje, mais do que nunca, dói nas entranhas.
    Começarei a reler Todos os Homens são Mortais, daí, o alivio de viver uma única vez, só que com a experiência de muitos momentos históricos.

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    1. Que leitura, Paula Bucheri! Quanto você me ensina! Obrigada!

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    2. Eu é que agradeço o muito que tenho aprendido com você no percusso da nossa amizade.

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