Ouço o bordão do Repórter Esso, um noticiário histórico do
rádio e da televisão brasileira que esteve no ar até 1970, na voz do lúcido
e criativo Emicida.
Ele diz que está cansado de ser “testemunha ocular da
história”.
Eu entendo Emicida.
Também tenho andado cansada de testemunhar tantos fatos e
fotos dessa realidade.
É muito fato, é muito pesado.
Falas, fotos, ao vivo para muitos, mortas para tantos.
Janelas, canções, panelas, discursos - emocionados, vazios.
Revisão, posição, revelação,
Espantos, surpresas, aproximações,
distanciamentos.
Palavras vilipendiadas... terra vilipendiada... homens
vilipendiados.
Sinto a mesma vontade de não ser testemunha ocular dessa
história.
E estamos aqui... aqui e agora. Vivos, para noticiar,
comentar, refletir.
É nosso encargo, peso, trauma, dever, destino, desígnio.
O olhar, meu olhar. Só meu.
Quem quiser, olhe comigo.
O que vemos e observamos nem toca mais em nós. Estamos tão maltratados, torturados pelo que vai sendo revelado, que o nosso estado é de catatonia.
ResponderExcluirSó saímos dele, quando vem a arte nos salvar. Uma música que a amiga indica, um poema do poeta amado, uma crônica lúcida e sensível. Das reportagens, desejamos distância. Uma forma de resistirmos ao estado catatônico.
Isso... resistimos a que será que destina?! Obrigada pela leitura!
ResponderExcluirQue belo texto Elaine!VRAVA!
ResponderExcluirGrazie, Marcelo!
ResponderExcluirMuito bom, Elaine!
ResponderExcluirExiste o presenciar atento e critico e o alienado. O sentimento dos que mais se atem são de alegria ou sofrimento. Hoje, mais do que nunca, dói nas entranhas.
Começarei a reler Todos os Homens são Mortais, daí, o alivio de viver uma única vez, só que com a experiência de muitos momentos históricos.
Que leitura, Paula Bucheri! Quanto você me ensina! Obrigada!
ExcluirEu é que agradeço o muito que tenho aprendido com você no percusso da nossa amizade.
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