Inicio, na página 198 da minha edição da editora 34 de 2020, a leitura do excerto final da primeira parte, em que o narrador descreverá a noite de teatro do presídio na Sibéria, já sabendo de antemão que será especial.
Magnífica!
O teatro humaniza e eu amo teatro. Sempre amei, desde aquela primeira vez em que entrei, junto com os colegas de classe do antigo ginasial, em uma sala de espetáculo.
Como professora, vi, tantas vezes, a prática teatral energizar meus alunos, deixá-los felizes, orgulhosos de si mesmos. No ensino fundamental em Diadema, no colegial da Penha ou no ensino superior, sempre uma alegria.
Por isso, também por isso, esse trecho dos Escritos reafirma para mim que mais do que mágico, é um presente dos deuses que reanima nossa humanidade.
No teatro, na cena teatral, há esperança, reflexão, riso, sonho e realidade.
"Bastou que deixassem aqueles pobres homens viver um pouco a seu modo, divertir-se como gente, viver ao menos por uma hora fora das normas do presídio - e o homem experimenta uma mudança moral, ainda que seja por apenas algunos minutos.."
Quantas vezes, senti em mim mesma essa mudança moral que o espetáculo teatral provoca.
Palco, atores, cenários, música, figurinos, reunidos por um encanto que a arte conjura, nos envolvem e animam.
Nesses dois últimos anos, sentimos falta de muita coisa, de muitas pessoas. A falta de ir ao teatro, do ritual de ir ao teatro é uma das que dói muito.
Falamos, entre amigas, de como será lindo, quando pudermos nos reunir na platéia, juntas, para celebrar o teatro. Escolher a peça, comprar o ingresso, entrar na sala de espera, buscar o programa, observar o público que vai chegando, com os olhares ansiosos; esperar o sinal, sentir as luzes apagarem completamente e no escuro esperar a primeira fala, a primeira entrada da personagem que nos conduzirá por uma história, com a qual dialogaremos ao longo daquela representação. E sair, para o cafezinho, assombradas, querendo falar tudo e não conseguindo expressar quase nada. É preciso de um tempo para que tudo aquilo que se constituiu no palco, se concretize em nossas almas.
Amo essa sensação!
Hoje mesmo, 29 de março de 2022, segundo ano da Covid, comemoro, virtualmente, o aniversário do amigo ator e diretor Samir Signeu. Fico muito alegre de poder parabenizá-lo.
Estamos atuando, como coadjuvantes, uma cena muito pesada.
Mas...
Tenho esperança em muitas pessoas e muitas ideias.
Tenho esperança. Na literatura. No teatro. Na amizade que congrega esse amor.
E nesses dias sombrios, de tanta iniquidade, abandono, perfídia, penso e digo como Fiódor Dostoiévski:
"Não estou aqui para sempre, mas só por alguns anos!"
É isso
É sempre tão bom ler seus escritos sobre o que lê, observa, vive. E que escolha esse trecho que traz essa transformação do ser encarcerado, mas livre porque é noite de teatro! Foi um pouco do sentimento que tive quando pisei em uma plateia, neste domingo. Que poder tem a arte!
ResponderExcluirUm poder tão grande que nos privam dela, assim que podem!
ResponderExcluirNos encontramos nos corredores e salas da FFLCH-USP, nas entradas de teatros da cidade de São Paulo. E, ao ler o seu texto, comungo com a ideia de que teatro é encontro: do ator com ele mesmo, do ator com o personagem, do ator com o dramaturgo, do ator com o diretor, do ator com os outros atores, do ator com o espectador. Este espaço de encontros possibilita perceber e sentir o macro a partir do micro. O material do teatro é o ser humano; então, podemos nos ver, nos reconhecer como humanos, naquilo que não é só agradável, ou desprexível, ou... Amei a afetação que o texto de Dostoévski lhe proporciou!
ResponderExcluirImpossível não sermos afetados por ele, não é?
ResponderExcluirTexto que emociona. O teatro humaniza, como faz Dostoiévski em sua literatura. Ir ao teatro é um ritual que alimenta a alma e nos faz melhor. Compartilhar esses momentos, é divino.
ResponderExcluirVerdade, Paula... quanto vimos juntas, não é?
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