terça-feira, 22 de dezembro de 2020

O cometa de Halley e meu espaço sideral

 

Eu devia estar no terceiro ano do primário, com nove anos, quando vi meu primeiro eclipse solar. 

Tinha um negativo de filme fotográfico e mirei contra o céu, para poder ver o fenômeno. Foi divertido, lindo, compartilhado no meio da rua de terra com os amigos das casas vizinhas. Acho que foi na escola, que avisaram a hora, como ver, nos ensinaram os cuidados para não comprometer a visão.

Todos estávamos brincando com o céu, naquele dia. E ficávamos rindo, de olho se alguém ia desobedecer e olhar diretamente. Certamente, ficaria cego! Que medo!

Fascinante.

Eu tinha uma enciclopédia, comprada no portão, em suaves prestações mensais, onde lia a respeito do cometa Halley. Acho que sempre fui assim, meio fora do planeta. Lia com atenção as histórias do cometa. Como foi descoberto, quantas vezes apareceu, quando tinha sido a última vez – 1910!

Gostava de imaginar que eu mesma o veria, de verdade. O cometa. Seria jovem, teria uma luneta, marcaria minha existência, com sua magnífica aparição.



 Lembro-me da crônica de Drummond, falando a respeito do cometa. Como tudo era possível e maravilhoso.

Vocês sabem. O cometa veio, passou por aqui, mas não deu bola para ninguém. Não vimos nada, nós aqui do Brasil. A luneta? Eu tinha uma sim... não sei que fim deu. Depois de ficar esquecida numa gaveta cheia de traquitanas, deve ter ficado triste e resolveu sumir.

Isso tudo veio à memória, quando, ontem, me peguei abrindo o Youtube à procura de imagens da tal conjunção de planetas. Meio que sem pensar, queria ver a Estrela de Belém. Acho que foi a menina em mim...

Uns sites mais felizes, em que moços cientistas, conversavam a respeito de astronomia, do mundo antigo magnífico, do mundo moderno pleno de possibilidades.

Outros mantinham aquela imagem dos planetas se exibindo aos telescópios do mundo todo.


Imagens não mais de enciclopédias de seis volumes, mas de telas midiáticas, plataformas sociais.

Fui ficando triste, meninamente triste.

Depois, quando comecei a refletir, vi que bobagem era essa esperança. O céu paulistano, sempre tão lindo nos últimos dias, estava nublado.

Tudo está nublado.

É isso que temos de observar, afinal.

Então, resolvi assistir a mais um episódio de Deep Space Nine. Lá, pelo menos, o Domínio está sendo combatido.


domingo, 18 de outubro de 2020

Não leia...

Tenho assistido a umas séries de ficcão científica. 

Para ficar alheia? Para ter esperança no futuro? Para diversão? Para ter o que conversar, durante o café da manhã, entre uma reflexão que a leituras provocam, ou negar a reação àquele programa de rádio que insisto em ouvir? Para lembrar do passado recente em que esperar pelo capítulo novo, baixar num programa pirata, rezar para a legenda estar melhor essa semana era o máximo da tecnologia?

Para esticar a perna quase no finzinho do dia e esperar que o sono chegue, chegue e me liberte dos dias da quarentena que são quase sempre longos?

Tudo isso e nada disso.

Me dei conta que esperava um dia chegar naqueles lugares altamente tecnólogicos, práticos, desafiadores. Futuro e passado valorizados num ambiente incrivelmente organizado e ao mesmo tempo humano. Deep Space Nine, Star Trek, holodeck literário... café klinglon hahahahahaha...

Mas, vocês sabem, aquilo que não está no pensamento, está na realidade de maneira avassaladora.

E, nessa semana, a bunda cai de cara na minha realidade!

Depois das primeiras gargalhadas, risos, likes nas páginas mais criativas e hilárias, a realidade!

Como disse Ricardo Araújo Pereira, agora mesmo, naquele jornal, "A metáfora, a gente ainda aguenta - que remédio, já nos habituamos. Mas a literalidade, amigos, já parece crueldade acima do que estamos preparados para perguntar." ( Ilustrada, C4, 18 out 2020 )

A bunda suja, jogada na nossa cara todos os dias. Incêncios, censuras, sandices, ignorância - ela mesma - em toda sua abundância; mortes, doença, abandono, despejos, desemprego, desvios. 

Como disse Fernanda Torres, agorinha, " Enquanto o mundo adentra o antropoceno, era geológica marcada pela força tectônica da humanidade, o Brasil encara o rouboceno, sem nenhuma perspectiva de virada." ( Ilustrada, C3, 18 out 2020 )

A sujeira.

O amigo aconselha, "é distópico, ria um pouco, para não pirar"

A filha diz, " desliga, para não adoecer"

A mãe diz, "ore, de ora em ora deus melhora"

A amiga diz, " meu, que lôco isso"

As feiras literárias virtuais não dão conta. A mesa de literatura italiana não dá conta. 

O Caetano já fez a live dele. O Milton também. O Gil e Gal também. E eles são foda!


Já cantei El dia que me quieras.

Acaricia mi ensueño
El suave murmullo
De tu suspirar.
Como ríe la vida
Si tus ojos negros
Me quieren mirar.

E eu quero música para embalar essa balada que não é do louco poético, é do louco ele mesmo!

Busco um poema:

Se o orifício anal é um olho cego,
que pisca e vai fazendo vista grossa
a tudo que entra e sai, que entala ou roça,
três vezes cego sou. Que cruz carrego! 
(...)
( Soneto 143 Higiênico, Glauco Mattoso )

Busco uma imagem que finalize essas palavras e dou de cara com a bunda ela mesma. Uma bunda vital, cuja existência provou nosso desejo e miséria.



É isso, Ziraldo, não vai acabar!



terça-feira, 6 de outubro de 2020

Sonho muito

 

Sonho muito

Sonho em cortar a Rússia naquele trem entre Moscou e a IasnaiaPoliana de Tolstói. Em sentar-me ao lado de uma passageira elegante e percorrer a Europa, como fez Dostoiévski. Jogar com Dostoiévski.

Sonho em conhecer a montanha chinesa, verde e úmida e receber a correspondência das mãos do velho carteiro que, a pé, vem e vive vida dura e poética.

Sonho em voltar a Paris e tomar um chá naquela confeitaria ao lado de Versailles, de onde sairei com um pacote perfumado de doces, para saborear à noite no quarto do hotel.

Sonho com a passeata, chamada pela Libelu! Ah! Ah! Ah!

E com os sertões e os gatos de Guimarães.

Com o Morro no Rio de Janeiro onde ela, coxa, está, iludida e feliz. Vou subir o morro sem medo, sem tempo e perguntar ao Brás: precisava ser tão cruel?

Trens, montanhas, cidades, movimentos.

Perfumes, pessoas, páginas.

Alma, corpo, alimento.

Sonho.

Iasnaia Poliana é o nome da residência do escritor Leon Tolstói


Acervo da USP conta a trajetória de Guimarães Rosa




segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Caminhando contra o vento...

 Acabei de assistir ao documentário,  O dilema das redes! Naquele streaming que você conhece bem.

Numa dessas sincronias - verdadeiras ou não - que acontecem nas redes sociais, um amigo virtual também comenta a respeito de tecnologia e manipulação, enquanto eu estava escrevendo essa reflexão.

A sincronia confirma a preocupação.

Então... somos produtos, isso é fato. Mas, temos um coisa importante a nosso favor. Temos, ainda, nosso cérebro, que deve ser alimentado, como nosso estômago. Boa comida intelectual, te dá saúde para resistir ao vício, à manipulação. É no que acredito e invisto ao longo da minha vida leitora.

Um grande problema que enfrentamos em um país como o nosso é a miséria intelectual que sempre foi igual ou maior do que a miséria econômica. Pensando bem... não existe uma, sem outra. Enquanto a nossa fraca, pobre e infeliz democracia estiver passando fome, estamos sujeitos, como povo, a toda miséria e manipulação. Religiosa, educacional, alimentar... 

Alguém lembra de que já fomos um país magro? Hoje somos um país obeso, causa de tanta manipulação alimentar. Há um tremendo documentário, mostrando como nossos hábitos alimentares foram manipulados pela indústria de alimentação que introduziu desde o leite em pó, as bolachas recheadas com gordura vegetal e os sucos de caixinha no nosso dia a dia.

 É bom, é importante, é fundamental pensar. É só nossa capacidade de pensar e deduzir que nos separa do resto das espécies do planeta. 

Esses moços incrivelmente inteligentes que desenvolveram a tecnologia que está destruindo o planeta, conforme eu, uma senhora de 64 anos, conheci, estão pensando e reavaliando. Isso é ótimo e esperado!

Desde que lí um livro chamado Apocalíticos e Integrados, de Umberto Eco, na década de 80, tenho pensado em como é maravilhoso esse mundo que a tecnologia tem me apresentado e com como posso utilizá-lo sem que que ele me domine. 



É isso... desde do começo do isolamento, o celular não entra mais no meu quarto. Eu adoro as redes sociais, mas meu sono tem sido mais importante. 

Minha mente, tem de ser minha até quando eu puder mantê-la.É por ela que eu sempre lutei. 

Talvez tenha sido por isso que fiz uma carreira acadêmica da qual me orgulho. Pode ter sido uma armadilha ecônomica, mas foi um ganho mental.


É isso, Valderina?








 


domingo, 13 de setembro de 2020

Ler

Um mar de livros, leitura, leitores.

Um mar de opinões, artigos, posturas.

Acabo de assistir à série, de 2010, Dostoiévsky. Emocionada, penso em tudo ainda que tenho de ler desse autor. Guardo a reprodução do retrato que capturei na rede e acho que vou colocar de avatar. Mas, enquanto penso nisso, visualiso a postagem que comenta o artigo de certa pessoa do governo, ainda a respeito da taxação dos livros. Não vou mudar nada. Deixa lá o Livro Livre! 

Hoje, já fiz minha leitura da madrugada. Algumas páginas de A prisioneira, quinto volume do Em busca do tempo perdido, de Proust. Toda prosa, quero compartilhar com o grupo. Vaidade leitora.

Logo cedo, na página da FFLCH/USP um relato emocionante da trajetória e formação de um graduando. Lembrei de mim mesma... emocionada.

Emoções diferentes tem me desafiado a continuar na boa. Há sempre uma lágrima querendo cair.

Os russos me esperam na cabeceira, assim como a nossa Ana Maria Gonçalves. Machado e todos aqueles contos que ainda não li.

Sinto um tremendo medo de não ler tudo. Bobagem leitora.

Às vezes, sou racional, outras nem tanto.

Só tenho certeza de que sem leitura sou menor.





quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Primeira aula

 O hiperletrado e o oral

( inspirado na aula – Recados do morro e da mata: o Brasil de Guimarães Rosa - do prof.º José Miguel Wisnick )

Antonio Candido e os Parceiros do Rio Bonito

Machado e os pretos, pobres, desvalidos.

Graciliano e as vidas secas

Guimarães e o sertão

 Euclides de Cunha e os sertões

Lima Barreto e a  Clara dos Anjos

Marcelino baladeiro

Carolina Maria de Jesus e o quarto de despejo

Conceição Evaristo e a favela

Maria Valéria Rezende e os abandonados das ruas

Geni Guimarães, Drummond, Bandeira, Jorge de Lima,  Gregório de Matos

A síntese de Ailton Krenak e Davi Kopenawa

As canções de Milton, Caetano, Gil, as canções

Emicida, Criolo, Paulinho da Viola, Chico Science

Chico pedro, Chico pedreiro, Chico geni, Chico malandro

Cascatinha e Inhana, Jararaca e Ratinho

Orlando Silva, Caymmi

Caribé, Portinari

Arroz e feijão, goiabada com queijo, acacá que aprendi ouvindo a canção.

Sócrates e Platão

Minha mãe, minha mãe, minha mãe.

Diálogos vivos , Brasil profundo, conexão ternura e a truculência.

Não somos essa miséria inventada na modernidade natimorta, pífia e parodiada.

Não somos essa morte exaltada e profusa que nasce da impostura alheia.

Somos um diálogo difícil e amoroso, mas diálogo.




É isso!

 

 

 

 

 

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

À noite, sonhamos!

 

Parece até que temos sonhado muito mais que o normal. Há umas noites em que os sonhos ficam muito estranhos mesmo. Acredito que nosso inconsciente anda solto demais, descansado demais.

E, esta noite, sonhei. O tema tem sido recorrente. Eu, escola, sala de aula, prova, entrega ou apresentação de trabalho.

Uma sala de aula em formato de auditório em escada, muitas cadeiras diferentes. Mesas descascadas, fórmica desbotada, pés enferrujados. Uma professora com um ar formal demais. Cabelos curtos, saia rodada? Humm?

Íamos fazer prova. Ai, minha nossa! Era uma prova a respeito de um poeta. Acho que era sobre Castro Alves, meu amor.

Que sensação horrorosa. A prova já havia começado e eu não achava um lugar para sentar. Como sempre, quando sonho sonhos estranhos, estava tudo húmido, sujo, chão molhado. Ter crescido numa casa velha e ter assistido ao filme, Stalker, de Tarkovsky, sem dúvida, marcou meus sonhos para sempre. Precisava procurar uma mesa e cadeira em que pudesse deixar minhas coisas – sacola, cadernos, blusas – e tinha de ser confortável. Simplesmente não tinha nenhuma sobrando. Todos os alunos estavam com seus amigos, seus chegados. E eu - ai, de mim – sozinha.



Peguei as questões da prova, com a professora. Era uma proposta bordada em três pedaços de pano, costurados como um pequeno livro de pano. Achei uma cadeira, rodei a sala toda, tentando me encaixar. Um desespero.

O tempo de prova estava passando, pensava no texto interpretativo que ia escrever. Me sentia apta, mas aflita, por não encontrar um lugar para finalmente sentar e começar a por as ideias no papel. Enquanto rodava toda a sala, ia pensando no texto, nos argumentos, nos exemplos.

Faltavam apenas alguns minutos para o término da prova. A professora me olhava intrigada. Será que eu conseguiria?

Acordo no exato momento em que começo a escrever. Que bom, com aquele tempo tão curto, seria um texto horrível e já me sentia mal e constrangida, por não apresentar um trabalho decente.

Acordei, agradecendo o amanhecer.

Que noite estranha e mal dormida. Vamos ver como será a próxima.



quarta-feira, 24 de junho de 2020

Este texto poderia chamar-se Banheiros ou Saneamento Básico.

Eu sempre gostei de olhar, naquelas revistas de decoração, as fotos daqueles banheiros sofisticados...




Na Rua Coronda nº 35, eu morei os primeiros anos da vidinha de menina. Era uma casa velha que tinha até um fogão à lenha no rancho. Quarto, sala, cozinha, banheiro fora, um rancho, onde ficava o tanque e o tal fogão à lenha.
Aquele banheiro me dava medo. Parecia que tudo ia desabar. Que o chão ia se abrir e eu ia cair. Não era uma fossa sanitária, coisa que me amedronta até hoje. Era banheiro com pia pequena, vaso sanitário, descarga de cordinha, chão de cimento. Tudo ali parecia velho e encardido. Devia ser mesmo. Casa velha do tempo afonsino. Imagino que o aluguel era barato para que minha mãe pudesse continuar ali, mesmo depois de meu pai partir para outras aventuras familiares. Ah, a dona da casa era uma espanhola bastante solidária.

Por que me lembrei do banheiro da casa velha e de outros banheiros? Afinal...

Hoje, foi dia de faxinar o banheiro. Lavar esfregar, aromatizar... Enquanto estava na lida, me lembrei da casa velha, da sensação de medo que hoje aparece nos pesadelos, quando estou um pouco preocupada.

Lembrei-me do banheiro da Rua Heloisa Penteado, 190. Casa da adolescência. Também esse era fora do pequeno cômodo e cozinha e tinha um agravante. Bem menor, tinha de atravessar o quintal para chegar até lá . Era porta da cozinha com porta do banheiro e a gente passava correndo nos dias de chuvisco e de frio. Bruuu... tomar banho quente e correr até a cozinha. Quantas vezes fiquei resfriada depois dessa corridinha? E teve aquele episódio engraçado da toalha caindo ( porque, às vezes, eu não levava a roupa e me enrolava na tolha, pensando que a corridinha rápida me salvaria de um possível acidente )! Vergonha! A vizinha viu! Ai, minha nossa! Chorei, mas passou... agora, eu rio!

Quando me casei, depois da Heloisa Penteado, fui morar na Praça da Árvore numa casinha de boneca. O banheiro era de boneca também... primeiro banheiro dentro de casa! Não era de boneca porque era bonitinho, mas porque era bem pequeno. Aqueles em que a gente pode sentar no vaso para lavar os pés, enquanto toma banho. 

E quando compramos nosso primeiro apartamento? A alegria de ver aquele banheirinho azulejado, com box, separando o chuveiro? Não era mais do que isso. E eu lembro, quando fui arrumar a casa para a mudança e ri de felicidade ao lavar o banheiro pela primeira vez! Meu banheiro do meu apartamento – quer dizer, depois dos 17 anos de financiamento, seria meu.

Hoje, enquanto lavava a banheira, esfregava o box, até os banheiros descritos nos livros que li foram surgindo na memória. Dois eles, especialmente...

O banheiro do Luis Silva em Angústia, de Graciliano Ramos.
“De ordinário fico no banheiro, sentado, sem pensar, ou pensando em muitas coisas diversas uma das outras, com os pés na água, fumando, perfeitamente Luis Silva”.
Graciliano segue descrevendo o outro banheiro separado por uma parede do banheiro de Luis Silva. Como ele pensa em Marina, no chuveiro. Que sensação que a leitura me causou. Hoje veio, de primeira, na lembrança dos banheiros.

E o banho que Esmeralda toma, quando consegue sua própria casinha. Esmeralda é a moça que descreve a vida difícil de abandono. Esmeralda deu nome ao livro Esmeralda, porque não dancei . Um relato doído, de uma vida sofrida.
“Eu continuava morando na mesma pensão. Aquilo era um lixo: o quarto fedia à carniça, tinha um colchão horrível, a cozinha era cheia de baratas. Parecia uma casa abandonada. O banheiro era horrível, cheio de bichos.”
Mas a descrição do primeiro banho, que abre o relato é pura alegria. Nunca esqueci.
“Como é gostoso um chuveiro. O chuveiro vai limpando a gente por dentro e por fora. Nunca tive um chuveiro. Nunca tive uma cama e uma casa de verdade. Agora, sim, tenho um chuveiro, tenho uma cama, tenho minha casa. (... ) Hoje tomo banho na minha casa...”.

O banheiro e sua dimensão humana... psicanalítica, social, afetiva. 

Então... são essas coisas em que penso, enquanto faxino meu banheiro branquinho.

Quantas pessoas tem essa mesma felicidade? Essa mesma sensação de acolhimento e decência que só um bom banheiro pode dar? Antes de ficar triste, pensando nisso, hoje, só hoje... quero ficar alegre e dizer que ao terminar a faxina, coloquei uma velinha de lavanda em cima da pia, tomei um bom banho e resolvi escrever.

A invenção mais importante do mundo proporcionou o descarte mais eficiente de dejetos, diminuindo doenças e aumentando a expectativa de vida nas cidades.
Embora haja registros de latrinas desde 3.100 a.C., a primeira privada foi criada em 1596 pelo inglês John Harington. Ele fez duas unidades: uma para ele e outra para a rainha Elizabeth 1ª.

A ideia não pegou à época e só em 1775 o escocês Alexander Cumming patenteou a privada moderna, já visando o escoamento num sistema de esgoto. 
Fonte: Clean: A History of Personal Hygiene and Purity, de Virginia Smith 




É só isso mesmo...

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Ainda lendo



Minha amiga Paula é companheira de aventuras do conhecimento. Vamos juntas ao Seminário Internacional do Sesc há uns bons anos. Nesse último, o tema era Democracia em Colapso – ai, ai, ai! Foi em outubro de 2019. Faz tanto tempo, sabe?
Então, entramos nessa vertigem temporal e tenho lido algumas coisas legais. Terminei a Montanha Mágica, o Philip Roth, a Conceição Tavares. É pouco, se penso no tempo. É muito se penso nas circunstâncias.
Então, ela que é uma leitora muito mais ávida do que eu, liga e pergunta se eu já havia lido Uma autobiografia, de Angela Davis, que compramos no Democracia em Colapso. Não, Paula, ainda não! E ela, “estou lendo, chorei e tal, naquela parte...” Vou ler, Paula, estou terminando a Montanha e vou ler.
Comecei e já terminei. Lido em 2020, ano da Covid-19.

É assim, que agora anoto no livro. Penso nas pessoas que irão comprar esse meu volume no sebo. Quero que tenham essa referência.
Lendo, com o lápis na mão, grifando, anotando nas margens, pensando em mim mesma, nos futuros leitores , me envolvi completamente com a personalidade, a pessoa e os acontecimentos que Angela Davis descreve.
No prefácio, a frase inicial -  “Eu sou uma mulher negra e revolucionária”  - me coloca no lugar de leitora respeitosa com o imaginário que tinha construído ao longo de tanto tempo. Penso minha própria história bem comedida de jovem em 1970, estudante universitária, trabalhadora, curiosa, sonhadora. Quanto ouvi falar dessa moça, Angela Davis, em tantos lugares diferentes.
Quando descreve a prisão, logo no início da autobiografia, me dá a deixa para a primeira anotação: “As duas primeiras semanas passaram penosamente devagar. Parecia que eu estava presa havia muito tempo. No entanto, assim que a rotina da prisão começou a se impor de modo inexorável, os dias desembocavam imperceptivelmente uns nos outros e parecia haver pouca diferença entre três dias e três semanas.”
Claro que identifiquei quase a mesma disposição do espírito, quando olho em volta e me vejo há três meses aqui em casa. Quase... jamais diria que é a mesma coisa.
Nessa disposição, fui lendo ou, como nós leitores gostamos de dizer para fazer bonito, fruindo cada episódio.
Do preâmbulo da prisão, ela vai para a cronologia da infância, juventude e nos anos 60, a prisão e a luta pela liberdade não só dela, de todos os irmãos e irmãs presos políticos.
Vou descobrindo essa mulher maravilhosa que, a todo momento, ressalta a importância da educação, da formação crítica, da observação e análise de contexto.

O enfrentamento da realidade das crianças negras, postas em uma escola decadente, sem estrutura, suja e abandonada. A agressividade que brota, sem que ninguém consiga deter, nesse ambiente triste e abandonado. A menininha Angela, sente que algo precisa mudar.
Não consigo, por mais que queira, fazer jus ao que ela descreve destes anos. Ficou em mim a sensação de tristeza em lembrar das nossas crianças, abandonadas em escolas sem estrutura. Dos pais que lutam tanto e tão pouco conseguem. O pouco que se fez para mudar isso, o tudo que se fez para desfazer o que já havia sido conquistado. Ela vai tecendo reflexões e me fazendo estabelecer as relações com nossa realidade.
“Continuei a ter minhas dúvidas sobre essa noção de ‘ trabalhe e serás recompensada’. Mas, admito, minha reação não era exatamente objetiva. Por um lado, eu não acreditava inteiramente nisso. Não fazia sentido para mim que todas aquelas pessoas não tinham ‘dado certo’ estivessem sofrendo por causa de falta de ambição e de força de vontade, para construir uma vida melhor para si mesmas. Se isso fosse verdade, então um número enorme de pessoas e nosso povo – talvez a maioria – era de fato preguiçoso incapaz, como as pessoas brancas vivem dizendo”
“Foi então que comecei a entender o verdadeiro significado do subdesenvolvimento: não é algo que justifique utopias. Romantizar a penosa situação das pessoas oprimidas é perigoso e ilusório.”

A jovem Angela no colégio, Angela na universidade.

Os anos de formação acadêmica. A escolha pela Filosofia. Filosofia, a arte de aprender a pensar. Diz tanto dessa revolucionária que vai atrás do conhecimento. Luta pelas bolsas de estudo, pelo direito de viajar, pela oportunidade de vivenciar outras realidades, sem, em nenhum momento, esquecer a sua prioridade. O encontro com Marcuse, Adorno... A luta pela, tão vilipendiada, justiça social. A luta pelo direito de lecionar na universidade, de pertencer ao Partido Comunista.
“O impacto psicológico do anticomunismo nas pessoas comuns dos Estados Unidos é muito profundo. Há alguma coisa a respeito da palavra “comunismo” que, para quem não é esclarecido, evoca não apenas o inimigo, mas também algo imoral, sujo.”

As palavras carregadas de sentidos antagônicos. 

Mulher, negra, revolucionária, comunista, filósofa. Um antagonismo, vindo não da pluralidades de significados, mas do desconhecimento.
Pensei muito na força das palavras, em muitos momentos da leitura. Educação, conhecimento, justiça, dor, história, tensão, amor, comunista... mulher, negra, revolucionária.

Educação, anotei ao lado da seguinte descrição de uma das juradas no caso de acusação de Angela por assassinato, sequestro e conspiração:  (...) ela nos levou de volta ao Arizona, onde aos doze anos, colheu algodão e cortou cebolas. Depois ela disse ‘fui cozinheira de pratos rápidos. E também trabalhei em uma fabrica de sanduiches para aqueles carrinhos que passam... Quando cheguei a San José, fiz trabalho doméstico e trabalhei no Spivey’s como lavadora de pratos’.
Enquanto falava Angela lembra da própria mãe que fez percurso semelhante até à faculdade e possibilidade de dar aulas em uma pequena escola. Tantas histórias semelhantes.

Essas poucas palavras que escrevo aqui nunca darão conta do relato dessa autobiografia.

Emocionante, fundamental. Não sou boa em adjetivos, nem em resenhas.
Sou emocional e é isso que quero deixar registrado, minha emoção de leitora.
É a história dela, a história de tantos. 

Deixo aqui, mais um parágrafo... ia dizer que me fez pensar, mas não é verdade. É um parágrafo forte, importante e eu gostaria que muitos o lessem. É só por isso, que deixo aqui...

“Ansiedades, frustações geradas pelo espectro de uma criança morta de fome convergem nossas mentes e nossos corpos para as necessidades mais imediatas da vida. A arenga do ‘trabalho’, a arenga sobre ‘tornar-se alguma coisa’. Exortações baseadas no medo, um medo criado e sustentado por um sistema que não poderia subsistir sem as pessoas pobres, o exército de reserva de pessoas desempregadas, o bode expiatório. Instintos de sobrevivência corrompidos e desencaminhados por uma estrutura que me força a expulsar meu companheiro desempregado de casa para que assistentes sociais não suspendam aqueles cheques de que preciso para alimentar minha criança faminta.”
(...)

E mais um...

“Não era apenas a repressão política, mas o racismo, a pobreza, a brutalidade policial, as drogas e todo um sem-número de maneiras pelas quais as pessoas negras, pardas, vermelhas, amarelas e brancas da classe trabalhadora eram mantidas acorrentadas à miséria e ao desespero. E não só no Estados Unidos, mas em países como o...”
( escrita em junho de 1974 )

... é isso. Sigo lendo.




terça-feira, 2 de junho de 2020

Quando ela chegou, só falava inglês!



Dezembro de 2008 ela chegou. Vinha de uma vida de abandono, conforme descreveu, dramaticamente, minha filha Thaís.

Eu não queria. Não, de jeito nenhum. Manda para a Bahia. Faz mais de 20 anos que não tenho um animal de estimação. Não, apartamento é injusto para o bichinho. Não, ela vai ficar muito sozinha. Não. Bom, talvez uns dias. Não, só até depois do Ano Novo. Não.
Tá! Fica aqui até resolver com quem essa lindinha vai ficar. Ela está atrás da cadeira do quarto, tremendo de medo. Ah! Tadinha... traz aqui para a sala, para se acostumar com a família. Que fofa! Olhar pidão. Tá tremendo de medo.
O John só falava em inglês com ela! Hi, Sofi! Foi adotada por ele, em uma feira de adoção. Toda cheia de pulgas e carrapatos, quase sem dente. Vinha das ruas, do abandono. Como assim? Tão lindinha! Hi, Sofi! Oi, Sofia! Vai aprendendo a falar português, ok? O John teve de sair do apartamento grande e ir para outro menor. O outro cachorro foi para o verdureiro! Verdureiro, na Paulista?! A Sofia ninguém quis. Bom, a Thais, que trabalhava no apartamento-escritório, tinha certeza de que ela ficaria aqui. 
Tempos bicudos, pedem grandes investidas emocionais. Ganhou o jogo!
E ela ficou mesmo.

Na primeira vez que ficou sozinha em casa, subiu na mesa da cozinha e comeu um frango assado, deixado, ingenuamente, ao deus dará. Teve também aquele pacote de manteiga que apareceu limpinho, lambido com toda vontade.
Mas, antes disso, o episódio da coxa de peru de Natal! Farejada sozinha na cozinha, insidiosamente levada pelo corredor adentro, aparece atravessada naquela boca semi desdentada, com aquele olhar de “para onde vou agora, onde escondo esse tesouro”. Vagabunda!!! É de rua mesmo!
Logo no primeiro passeio me deu um baile, fugiu da coleira, sei lá como! Quase morri de susto! Vagabunda!
E aí, ficamos sócias da Pet da rua de trás! Banho, comida... e tantas outras traquitanas que fomos incorporando. Tudo para deixar a Sofi, mais à vontade, consolada da “vida de abandono”.
Primeira crise veterinária... caiu shampoo no olho, tá vermelho, não abre o olho. Ai, meu deus, o que fazer. Leva na Dr.ª Daniela que é uma querida. Oftalmo de cachorro? Isso existe? Existe. E ela faz um procedimento totalmente estranho. Literalmente, costura o olho da Sofia, com um botão, para recuperar a irritação. Coraline, ela lembra a Coraline!

Deu certo!
Na segunda crise, o tombo do sofá, o deslocamento da patinha, naquela noite em que estava na companhia da minha mãe. Caiu do sofá... chorou de dor e minha mãe não sabia o que fazer, já que estávamos fora de São Paulo. Até que chegamos, minha mãe, que jurava não tomaria conta de cachorro nenhum, para ninguém, passou óleo bento, rezou com a mão na patinha, fez massagem e quase me matou, quando chegamos!
Respeito e dignidade no olhar de ambas

 A pata foi entrando no lugar, com os exercícios de subir e descer ladeira. Optamos por não operar. A Dr.ª Daniela aceitou. E, por anos, a Sofia entrava no Petshop e era recebida como aquela que não precisou operar a pata.
E o tratamento dentário? Em 10 vezes, sem juros... até sonhei que ela estava completamente banguela. Ai, doutor!

Querida por todos! Era a raposinha da vizinhança. A Maria do bar da esquina atravessava a rua para dar um carinho. A meninada do prédio parava o jogo para abraçar e beijar a Sofi que tinha acabado de tomar banho e estava cheirosinha. No passeio, pela manhã ou à tardinha, sempre alguém parava para perguntar de que raça era. Raça? É uma vira de respeito. Nossa, que linda, parece uma raposinha.
Foi tomando conta do território. Daquela primeira noite na lavanderia, passou para o escritório, primeiro na caminha, depois embaixo da bancada; conseguiu subir no sofá (de onde caiu, mas que continuou como um canto aconchegante até há uns meses). A porta do meu quarto parecia a fronteira final, só que não resisti e permiti um tapete na beira da cama, onde ela, nos últimos meses podia ficar acomodada e quentinha, me olhando e me dando bom dia.
Nossa raposinha envelheceu, me ensinando a lidar com a velhice.
Nesses últimos dias, foi nos deixando lentamente. Até o sábado da partida.
Nunca imaginei que sentiria essa tristeza. Essa falta. Não preciso mais colocar o jornal na lavanderia, recolher a sujeira e limpar aquele pedacinho de chão. Não preciso mais deixar a luz do corredor, acesa, para mim mesma saber que ela sabe onde estava indo, quando tinha de tomar água ou fazer xixi no meio da madrugada. Não preciso mais colocar água limpa e comida fresca. Dar a vitamina na boca, cozinhar a batata doce. Levar para o banho e tosa.
Ela foi para o céu de São Francisco. Meu amorzinho. Meu docinho.
Da vida de abandono, ela veio e me disse: “fica firme, nos vamos em frente, todas nós, juntas”.
Mais de dez anos. Dezembro de 2008. Quando ela chegou, só falava inglês.

 






sábado, 23 de maio de 2020

Testemunha ocular da história



Ouço o bordão do Repórter Esso, um noticiário histórico do rádio e da televisão brasileira que esteve no ar até 1970, na voz do lúcido e criativo Emicida. 
Ele diz que está cansado de ser “testemunha ocular da história”.

Eu entendo Emicida.

Também tenho andado cansada de testemunhar tantos fatos e fotos dessa realidade.
É muito fato, é muito pesado.
Falas, fotos, ao vivo para muitos, mortas para tantos.
Janelas, canções, panelas, discursos  - emocionados, vazios.
Revisão, posição, revelação, 
Espantos, surpresas, aproximações, distanciamentos.

Palavras vilipendiadas... terra vilipendiada... homens vilipendiados.

Sinto a mesma vontade de não ser testemunha ocular dessa história.

E estamos aqui... aqui e agora. Vivos, para noticiar, comentar, refletir.
É nosso encargo, peso, trauma, dever, destino, desígnio.

O olhar, meu olhar. Só meu.
Quem quiser, olhe comigo.




sexta-feira, 8 de maio de 2020

Parodiando o mundo, mundo, vasto mundo!



Elza Soares de máscara
Minha mãe lendo a biografia de Elza Soares
“Ô Antonico vou lhe pedir um favor...”
Eu no mesmo tempo histórico de Elza Soares.

Matheus Natchergaele, pisando o tapete vermelho da porta do cinema para assistir ao filme do Mazzaropi
A foto de Grande Otelo, lendo a matéria a respeito de Orson Welles

Paulinho da Viola... me perdoe a pressa.
Mônica Salmaso... qual, não tem de quê!

Pão, pão, queijo, queijo!

Livros pela metade, limpeza pela metade, sono pela metade.
“Mas essa lua, mas esse conhaque, botam a gente comovido como o diabo.”

Zeca Pagodinho e o dia das mães perfeitamente triste e belo.
Aldir, a ponta de um torturante bandaid no calcanhar.

O teatro dramático e suicida de todo dia, amém!

Vamos dar as mãos, vamos dar as mãos, e todos juntos, num esgar, cantar.
Sapore de sale, sapore de mare... Ah! Gianni, non son degna di te!
That’is entertainement!

Pernas fracas, costas fracas, olhos baços… o amor peludo dorme na porta do quarto!

Vento, ventania... pela janela lateral, saudades da Maria, Maria!

Somos duas, somos três, somos quatro, somos cinco, somos seis, somos sete, somos oito, somos nove, somos dez! Mais de dez!

 “Eu sou trezentos!”






quarta-feira, 22 de abril de 2020

Terra... Terra! Sem Pandemia!


Dia da Terra. 

Normalmente, eu publico aquele vídeo do Caetano, cantando Terra. Ou, o Beto Guedes, cantando Sal da Terra, ou o Guilherme Arantes, Planeta Água; talvez do Ivan Lins, Aos Nossos Filhos. 

Mas, hoje, pensei de outra maneira. Pensei nas fotos do Renato Rizzaro e na Roda de Passarinho,no seu pedaço de chão Reserva Rio das Furnas, na entrevista de Ailton Krenak e na de Olívio Jekupe. Pensei em Guimarães Rosa, em Brennand, em Glauber Rocha. Pensei no Cerrado que vi, pela primeira vez, em 1968, quando fui visitar meu pai que havia se mudado para Brasília. Frutas, flores e perfumes que nunca me abandonaram. Lembrei-me do mar de Maceió, em 1984, tão azul que eu achei que era mentira. Ri alto, quando entrei nele. Lembrei-me da fruta pão, árvore em frente da casa em que fiquei na primeira vez em Recife. Do balanço no meu quintal de infância que me levava até a uvaia azedinha e que eu abocanhava sem medo no ir e degustava no movimento de volta. Dos dois pés de café no meu jardim entre roseiras e pés de mandioca. E do perfume daquela árvore da qual não sei nada, nem o nome, nem como se planta, nem quando floresce, aquele perfume que me inebriava em determinada época do ano, durante o passeio com a Sofia. Nas fotos das varandas de Samir Signeu. Nos meninos e meninas, como a turma do Raros Fazedores de Chocolate... com um trabalho tão importante! E nos animais que estão soltos por aí, nas fotos mais loucas da minha linha do tempo. No céu capturado pelos celulares, nas maritacas, nesses pássaros canoros das madrugadas aqui em São Paulo.

Dia da Terra. Nossa casa. Vilipendiada em muitos cantos do meu país. Abandonada e explorada.

Dia da Terra. Ainda nos concedendo tanta beleza, alimento, lembrança.

Obrigada...





quinta-feira, 16 de abril de 2020

Limpando a casa...

Acordo e, já me ludibriando, olho o celular.
Não era para fazer isso, não era.

O acordo comigo mesma era acordar, fazer uns alongamentos, ir para as abluções matinais, tomar uma café saudável... essas coisas ideais que programamos todas as noites.

Enviei mensagens ao irmão, sobrinhos, um emoji simpático aqui, outro ali... vamos manter a doçura necessária.

Dia de limpar a casa, tirar a poeira.

Dia de passar o pano,
Dia de lustrar os móveis,
Dia de aguar as plantas,
Dia de sentir vontade de escrever.

Nem sei bem o quê, nem para quem

Vontade de escrever, ultrapassada pelas notícias no face, no insta, em ondas curtas e frequência modulada.

Vou deixar para lá.

A casa está limpa
O corpo está limpo

Quem sabe, amanhã.


É isso, bom dia!